Clima influencia preço do tomate, que acumula alta de mais de 30% no ano em Belém
Clima instável e custos de produção explicam variações no valor do alimento, segundo o Dieese/PA; Ceasa aponta estabilidade e nega influência do Sul.
Apesar da leve queda de 1,44% no mês de julho, o preço do quilo do tomate acumula alta de mais de 30% em 2025 em Belém, segundo dados exclusivos do Dieese/Pa (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) enviados ao Grupo Liberal. A entidade aponta que o aumento foi impulsionado por fatores climáticos extremos e pelo encarecimento dos insumos agrícolas. Para um dono de um restaurante na capital paraense, a variação chegou a quase 39% no período, afetando diretamente os custos do negócio. Já a Ceasa (Central de Abastecimento do Pará) nega que o clima da região Sul tenha influência nos preços praticados na cidade, afirmando que a oferta local — vinda principalmente do Nordeste — segue estável.
Tomate teve queda no mês, mas acumula alta no ano
Segundo levantamento do Dieese/Pa, o preço do quilo do tomate, produto de alta relevância no consumo alimentar dos paraenses, teve recuo de 1,44% em julho, sendo comercializado em média a R$ 9,58. A comparação com o mesmo mês do ano passado mostra uma queda de 10,63%. Em julho de 2024, o produto custava R$ 10,72.
Apesar disso, o tomate ainda acumula alta significativa no ano. Em janeiro de 2025, o quilo custava, em média, R$ 8,15, e chegou a ultrapassar os R$ 10 nos meses de abril (R$ 10,61) e maio (R$ 10,28). O aumento acumulado entre janeiro e julho de 2025 é superior a 30%, mais que o dobro da inflação registrada para o mesmo período (3,30%).
Clima instável e produção limitada pressionam preços
De acordo com Everson Costa, supervisor técnico do Dieese/PA, as oscilações no preço do tomate ao longo dos últimos 12 meses estão diretamente ligadas às condições climáticas e à dinâmica da produção.
“Nos últimos 12 meses, o preço do tomate no Brasil foi marcado por fortes oscilações, com picos de alta recordes e períodos de queda. Essa montanha-russa de preços teve impactos diretos nos consumidores e na economia”, afirma.
Segundo Costa, fatores climáticos como calor intenso, excesso de chuvas e até frio prolongado em algumas regiões afetaram negativamente a produção, reduzindo a oferta do produto no mercado.
Além disso, a sazonalidade natural do tomate e o aumento nos preços dos insumos agrícolas pressionaram ainda mais os custos para os produtores.
“As condições extremas acabaram prejudicando a produção em diversas áreas, levando a uma redução na oferta do produto. Isso, somado ao aumento de custos, fez com que os produtores repassassem parte desses valores ao consumidor final”, explica.
Expectativa é de estabilidade para agosto
As projeções do Dieese/PA indicam que o preço do tomate pode apresentar maior estabilidade no mês de agosto. A tendência, segundo Costa, é de equilíbrio e até de possíveis quedas no valor do produto nas feiras livres e supermercados da capital paraense.
“Estamos acompanhando os dados e, neste momento, a expectativa é positiva. Se o clima colaborar e a oferta se normalizar, o consumidor pode sentir algum alívio no bolso nas próximas semanas”, conclui.
Dono de restaurante sente impacto da variação no preço do tomate
Em Belém, o clima e a origem da produção do tomate têm influenciado diretamente nos custos do setor de alimentação, especialmente para os pequenos empresários. Leandro Marques, dono de um restaurante especializado em comida suína na capital paraense, relatou que enfrentou dificuldades com a alta no preço do produto entre julho e agosto.
“O tomate teve uma alta significativa. A média sempre foi R$ 7,90, mas passamos a comprar entre R$ 8,60 a R$ 10,99, com quase 39% de variação”, contou Leandro.
Segundo ele, a alta foi sentida diretamente nas compras semanais do restaurante, obrigando o estabelecimento a buscar alternativas mais econômicas.
“Compramos onde tem mais barato. O Sul era a principal origem entre maio e junho. O distribuidor trazia de lá. Mas agora está vindo de Goiás, que tem o frete mais em conta e está na safra”, explicou.
Ainda de acordo com Leandro, no final de agosto o preço começou a se normalizar. “Hoje já comprei a R$ 8,20. É um sinal de que está estabilizando”, avaliou.
Ceasa aponta estabilidade e nega influência do Sul
Na outra ponta da cadeia de abastecimento, a Central de Abastecimento do Pará (Ceasa) apresenta um panorama mais estável da oferta de tomate. Segundo o diretor técnico da Ceasa, Denivaldo Pinheiro, o clima da região Sul do país não interfere nos preços praticados em Belém.
“O tomate comercializado na Ceasa é de origem proveniente dos estados da região Nordeste, principalmente da Bahia, maior ofertante dessa hortaliça fruto. Ou seja, o clima da região Sul do país não impacta na oferta e nem no preço do produto”, afirmou.
Pinheiro destacou ainda que a oferta do produto segue robusta em 2025.
“Nossas estatísticas apontam que esse ano o produto tem mantido uma média de comercialização acima de 500 toneladas por mês no entreposto”, disse.
Segundo ele, a estabilidade da oferta no entreposto garante que o consumidor final não sofra grandes oscilações de preço relacionadas ao clima de outras regiões.
“Em suma, o produto tem se mantido em grande escala de oferta e comercialização na Ceasa, não sofrendo, portanto, qualquer influência do clima da região Sul do país”, concluiu.
Resumo das variações de preço do tomate em 2025, segundo o Dieese/Pa
- Janeiro: R$ 8,15
- Fevereiro: R$ 8,72
- Março: R$ 9,18
- Abril: R$ 10,61
- Maio: R$ 10,28
- Junho: R$ 9,72
- Julho: R$ 9,58
Variações acumuladas:
- Queda mensal (jul/2025): -1,44%
- Queda anual (jul/2024 a jul/2025): -10,63%
- Alta no ano (jan a jul/2025): +30%
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