Círio de Nazaré aquece economia doméstica e fortalece mercado local
Gastos com alimentação, transporte e hospedagem aumentam durante o período, quando casas recebem parentes e amigos
Durante a quadra nazarena, Belém vive um dos períodos mais intensos do ano — e não apenas nas ruas. Dentro das casas, milhares de famílias se organizam para receber parentes e amigos que vêm de outros municípios e até de fora do Estado para acompanhar o Círio de Nazaré, uma das maiores festas religiosas do Brasil.
Diferentemente de eventos como a COP 30, que movimentam principalmente a rede hoteleira, boa parte dos visitantes do Círio se hospeda em residências particulares. A hospitalidade, tradicional entre os paraenses, exige planejamento financeiro: as despesas com alimentação, transporte e até pequenas reformas domésticas entram na conta.
Gastos domésticos aumentam durante o Círio
Com a chegada dos hóspedes, a economia doméstica muda de ritmo. O café da manhã fica mais farto, as idas ao supermercado aumentam e o gás parece durar menos. Algumas famílias dividem os custos com os visitantes, enquanto outras assumem todas as despesas como parte da tradição e da fé.
O publicitário, Hygor Lisboa de 33 anos, recebe todos os anos seus pais, que moram em Santarém e ficam hospedados até o fim do mês para aproveitar a festividade em Belém. “Todos somos católicos e temos tradições diversas, meu pai e minha irmã mais velha que mora aqui em Belém em outra residência são os que possuem a tradição mais antiga dentro da família. que é de ir assistir a missa na Sé e fazem o percurso do círio minutos antes do início da procissão. Além disso, minha mãe prepara sua tradicional receita de maniçoba. Ela começa a preparar em Santarém mesmo, algumas semanas antes de vir pra Belém”, conta Hygor.
Para ele, esse é um momento de descontração com os familiares. Em relação aos gastos, o publicitário busca se programar com antecedência. Investiu em energia solar para economizar na conta de luz e, no ano passado, fez pequenas reformas na casa. Este ano, trocou cobertores e toalhas para receber os pais. “Durante o mês de outubro as contas de alimentação sempre dividimos com meus pais, então acaba sendo até econômico quando dividimos dessa forma”, afirma.
De acordo com o Economista da Universidade Federal do Pará, Prof. André Cutrim a hospitalidade é um traço marcante do povo paraense, especialmente do povo de Belém, e ganha força durante o Círio, quando as famílias abrem suas casas para receber os seus parentes e amigos em gestos de acolhimento que têm profundo valor simbólico, religioso e social.
André Cutrim afirma que a prática movimenta o mercado local ao mesmo tempo em que expressa a fé e a tradição, ampliando a demanda por alimentos, bebidas, transporte, hospedagem e serviços diversos. “ Esse movimento cria uma rede de circulação de bens e de (re)aproveitamento de recursos que se aproxima dos princípios da economia circular, na medida em que valoriza o uso compartilhado, reduz desperdícios e estimula a produção local. Assim, o Círio de Nazaré se consolida também como um importante vetor de dinamização econômica e fortalecimento dos pequenos e médios negócios no Pará”, pontua.
Mercado local cresce com a festividade
Segundo dados do DIEESE/Setur-PA, o Círio de 2024 recebeu cerca de 89 mil turistas e movimentou cerca de R$189 milhões na economia local. Para este ano, a expectativa é de 100 mil visitantes e cerca de R$210 milhões de acordo com a cotação atual. O levantamento consolida a quinzena da festividade nazarena como um dos principais motores da economia paraense e principal produto turístico estadual no mercado nacional e internacional, em particular, nos segmentos do turismo religioso e cultural.
O Círio, nesse sentido, movimenta não apenas a economia formal da cidade, mas também a economia afetiva que se forma dentro das casas paraenses — onde cada anfitrião se transforma, por alguns dias, em gestor de um pequeno “hotel familiar”.
Everson Costa, técnico do Dieese, avalia que há tempos o Círio movimenta o turismo e a festividade esse ano ocorre num contexto de investimento e valorização com a Cop 30, são apenas quatro semanas que separam as festas de nazaré e a conferência. “O nosso Círio de Nazaré irá entregar um portfólio de serviços, produtos e comércio bem mais ampliado que outros anos”, pontua Everson.
Ele destaca que o mercado que mais cresce nesse período é o de serviços e comércio, impulsionado pelas datas de fim de ano e que se estenderam com a Cop — Dia das Crianças, Black Friday, Natal e Ano Novo.“O Orçamento do Estado projeta um crescimento do PIB do Pará até 2028 acima de 3%. Estamos acima da média nacional, e isso se concretiza por esses cenários positivos que o Estado tem. O Pará hoje tem uma das melhores notas de crédito de investimento do Brasil”, afirma.
Para o economista André Cutrim, essa convergência entre o Círio de Nazaré e a COP 30, em Belém, representa uma oportunidade estratégica de fortalecimento estrutural e expansão das atividades econômicas na região. “O cenário tem potencial para gerar efeitos multiplicadores sobre o emprego, a renda e os serviços urbanos”, conclui.
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