China compra mina no Pará e controla cerca de 60% da produção de níquel no Brasil
Compra é questionada pelo grupo turco Yıldırım Group
Por ter uma das principais regiões minerárias mundiais, o Pará está no meio de embates globais por minerais críticos. A Anglo American (empresa global de mineração diversificada) vendeu, em fevereiro deste ano, suas minas de níquel no Brasil para a MMG, subsidiária da estatal chinesa China Minmetals, por US$ 500 milhões. A decisão foi criticada pela Corex Holding, ligada ao grupo turco Yildirim Group e sediada na Holanda, que afirma ter oferecido US$ 900 milhões e ter ficado para trás.
O negócio com a MMG inclui os complexos de Barro Alto e Codemin (Niquelândia), em Goiás, além de projetos de exploração no Pará e em Mato Grosso. Com a nova compra, os chineses passam a controlar cerca de 60% da produção nacional de níquel e ampliam ainda mais sua participação global no setor. O insumo é considerado essencial para baterias, veículos elétricos e aço inoxidável.
O executivo turco, Robert Yuksel Yildirim, dono da Yıldırım Group, além de contestar a recusa do melhor preço, diz que o Brasil está vendendo barato seus minerais críticos à China e poderá sofrer as consequências do monopólio global.
‘Nunca vi um vendedor recusar um preço maior’, diz executivo de grupo turno
"Não sou contra a empresa chinesa, mas contra essa decisão. Nunca vi um vendedor recusar um preço maior. Eu ofereci US$ 900 milhões e não aceitaram o meu dinheiro", diz o turco Robert Yuksel Yıldırım, em entrevistas recentes para sites nacionais.
A Corex Holding questiona a transação no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e na Comissão Europeia, alegando risco de concentração de mercado e prejuízos à segurança de suprimento de países ocidentais. Na representação ao órgão brasileiro, afirma que “a operação permitirá à MMG Limited, controlada em última instância pela China Minmetals Corporation, adquirir o controle da totalidade do negócio de níquel da Anglo American no Brasil”.
“Em um cenário pós-operação, estima-se que entidades controladas em última instância pelo governo chinês representariam até 60% do fornecimento global de níquel, um nível de poder de mercado que traz implicações estruturais substanciais para o Brasil e para a dinâmica do mercado global”, destaca a Corex sobre a venda, que consolida ainda mais o domínio chinês sobre o mercado global.
Consequências do monopólio global
A Corex também alerta para os efeitos no Brasil. “A redução no número de fornecedores independentes pode limitar as opções de compra para os compradores brasileiros (…) afetando a estabilidade de preços, os preços, os prazos de entrega e a confiabilidade no fornecimento”, diz. O documento ainda fala em “ameaça concreta à estabilidade e competitividade dos mercados a jusante no Brasil”.
A petição enviada pela Corex à Comissão Europeia, reforça que “este desenvolvimento contribui significativamente para reduzir a dependência da UE de capacidades de refino concentradas, particularmente em meio a desafios geopolíticos e de mercado em curso”.
A empresa também argumenta que o reconhecimento de projetos estratégicos de níquel no Brasil pela União Europeia sob o Critical Raw Materials Act torna “necessária uma análise rigorosa de qualquer transação que possa afetar a dinâmica do mercado e a segurança do fornecimento no setor de níquel”.
Venda repercute entre entidades e empresas
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foi acionado para investigar se houve violação de normas que restringem a compra de terras rurais por estrangeiros, já que os ativos minerários se localizam em áreas sensíveis em Goiás, Pará e Mato Grosso. Em ofício, o Instituto menciona riscos à soberania brasileira: “Revela-se contraditório que o Brasil, detentor de significativa diversidade e abundância de recursos minerais estratégicos, permita a sistemática exploração dessas riquezas por agentes estrangeiros, sem o correspondente desenvolvimento de sua cadeia produtiva nacional”.
Por sua vez, a Anglo American declarou que a venda segue sua estratégia de concentrar negócios em cobre, minério de ferro e nutrientes agrícolas. Já a MMG afirmou que cumprirá todas as exigências regulatórias e que o acordo “representa uma grande realização para empregados, comunidades locais e acionistas”.
Os Estados Unidos também reagiram. O AISI (Instituto Americano do Ferro e do Aço, em português) pediu ao governo do presidente Donald Trump (Partido Republicano) que pressione o Brasil a rever o acordo. A entidade alega que a operação reforça a dependência global da China em minerais críticos.
‘Negócio divisor de águas’, aponda a Corex Holding
O executivo Robert Yuksel Yldirim classificou o negócio como estrategíssimo: “Eu não sou contra a venda dos ativos de níquel para a MMG, mas esperava um tratamento justo e uma explicação. Havia muitos interessados. No fim, me escolheram para a fase final, ao lado de uma empresa chinesa. As negociações começaram e eu estava empenhado. Era um dos melhores ativos do mundo. Seria um divisor de águas. Mas decidiram pela proposta chinesa”, observou o turco, em entrevista ao jornal O Globo.
Ele explicou o interesse dele: “O negócio era um dos maiores do mundo, com 40 mil toneladas de níquel contido na produção de ferroníquel. Meu plano era que 80% dessa produção fosse destinada ao mercado brasileiro, aos Estados Unidos e à Europa. Os demais 20% iriam para a China. Conversei com autoridades na Europa e nos EUA, elas apoiaram nosso plano de negócios”, disse Yuksel Yldirim.
Questionado sobre o direito da Anglo American de decidir, de forma independente, por se tratar de uma empresa privada, o executivo da Corex, afirmou: “Sim, mas quando saiu o comunicado deles em 18 de fevereiro deste ano, anunciaram a venda para a MMG por US$ 500 milhões. Acontece que eu havia oferecido US$ 900 milhões. A MMG é uma empresa estatal.”
Corex Holdings compra ativos de cobre da BHP em Carajás por US$ 465 milhões
A CoreX Holdings, de Robert Yuksel Yildirim, fechou a aquisição dos ativos de cobre da BHP no complexo de Carajás por até US$ 465 milhões, em uma das maiores transações minerárias do ano no Brasil. Na prática, sites especializados em players do mercado minerários, afirmam que o negócio representa mais um movimento estratégico do empresário turco para construir uma cadeia de suprimentos de metais independente da hegemonia chinesa no setor.
Yuksel Yildirim preside a Yildirim Holding AS desde 1993, uma das maiores holdings turcas. O conglomerado opera através da Yilport Holdings uma das maiores redes portuárias privadas globais, com terminais em Portugal, Suécia, Turquia, Peru, Equador, Guatemala e outros países, e está entre os 10 maiores operadores portuários mundiais segundo a Lloyd's List.
No segmento minerário, a recém-criada CoreX Holdings foca na aquisição de ativos estratégicos. Além da operação no Brasil, a empresa adquiriu a mina de níquel Cerro Matoso na Colômbia da South32, e controla minas de carvão colombianas desde 2019. O portfólio inclui ainda a Vargön Alloys AB na Suécia, especializada em ligas metálicas, só para citar alguns exemplos, pois a empresa também faz investimentos na Venezuela.
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