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Aumento de investidores no Pará coloca região Norte entre as que mais crescem no mercado financeiro

O Pará lidera o avanço, com 88,1 mil investidores e quase 40% de todo o volume financeiro da região, que alcança R$ 7,43 bilhões

Eva Pires | Especial para O Liberal

O número de investidores em renda variável na região Norte cresceu 43% entre 2021 e 2025, passando de 153 mil para 218,5 mil pessoas, segundo dados exclusivos do boletim de Pessoa Física da B3. O Pará lidera o avanço, com 88,1 mil investidores e quase 40% de todo o volume financeiro da região, que alcança R$ 7,43 bilhões. Para o especialista Douglas Alencar, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e pesquisador na área de economia, o fenômeno combina dinamismo econômico recente, digitalização do acesso ao mercado financeiro e forte presença de jovens investidores.

O crescimento do Norte e do Pará ocorre mesmo em um cenário em que o Sudeste segue concentrando a maior base nacional de investidores. No entanto, os dados mostram uma expansão mais acelerada no Norte, principalmente entre pessoas de 25 a 39 anos, faixa etária responsável por 112,5 mil contas ativas na região. Do total de investidores nortistas, 76% são homens e 24% são mulheres. Quando se observa a distribuição por estado, o Pará aparece à frente, seguido por Amazonas (49,9 mil), Rondônia (32,2 mil), Tocantins (21,4 mil), Acre (9 mil), Roraima (9 mil) e Amapá (8,9 mil). Em termos de volume financeiro alocado, o Norte passou de R$ 5,65 bilhões em 2021 para R$ 7,43 bilhões em 2025, enquanto o Pará evoluiu de R$ 2,28 bilhões para R$ 2,96 bilhões no mesmo período.

Para Douglas Alencar, o avanço regional tem raízes estruturais. Ele explica que a combinação entre crescimento econômico, expansão da bioeconomia, logística e mineração ampliou a renda disponível para parte da população, “ao mesmo tempo em que a popularização das plataformas digitais reduziu barreiras tradicionais de acesso ao mercado financeiro”. Segundo o professor, esse contexto encontrou uma base favorável em um público jovem, conectado e cada vez mais interessado em finanças, impulsionado também pelo avanço do ensino superior e da educação financeira. “Esse movimento encontrou terreno fértil em uma população concentrada na faixa de 25 a 39 anos, justamente a que mais adere ao mercado financeiro”, afirmou.

O especialista destaca ainda o papel das iniciativas de educação financeira e da própria visibilidade institucional da B3 na região. Ele aponta que, nos últimos anos, cursos, conteúdos online e programas de formação contribuíram para preparar novos investidores para um ambiente antes visto como restrito. Esse avanço também se relaciona ao aumento da renda média em estados como Pará e Amazonas, que abriu espaço para que mais pessoas destinassem parte do orçamento à construção de patrimônio. A digitalização acelerada dos serviços financeiros, por sua vez, consolidou o mercado de capitais como uma alternativa acessível e disponível mesmo em cidades pequenas e distantes dos grandes centros econômicos.

Hoje, os investidores do Norte e do Pará tendem a priorizar produtos de renda fixa pós-fixada, como Tesouro Selic e CDBs, comportamento típico de quem ainda está em fase inicial de contato com o mercado. Ainda assim, cresce o interesse por ações e ETFs, especialmente aqueles ligados a setores relacionados à economia regional, como mineração e energia. Alencar observa o reflexo disso também na academia. “Oriento dois alunos de graduação que estão estudando respectivamente ações da Vale e ETFs, além de um doutorando que estuda as ações da Petrobras”, comenta. Ele acrescenta que a região mostra uma adesão proporcionalmente maior a criptoativos e ferramentas digitais automatizadas de investimento, impulsionadas pela base jovem.

Sobre o momento atual da bolsa, marcado por volatilidade global e queda gradual dos juros no Brasil, o professor avalia que esses fatores têm influência, mas não são determinantes para o avanço do Norte no mercado de capitais. Para ele, a expansão se apoia mais em mudanças estruturais do que conjunturais. “A entrada de novos investidores parece responder muito mais a fatores estruturais do que a movimentos momentâneos da economia”, explica. Entre esses fatores, ele menciona a pouca oferta de alternativas tradicionais de investimento e empreendedorismo para a juventude. A possibilidade de investir totalmente online, sem a necessidade de grandes capitais, reforça a atratividade da bolsa e de outros produtos financeiros.

O especialista também destaca que, mesmo com oscilações da bolsa, a tendência é de continuidade no crescimento do número de investidores da região. Ele atribui isso ao perfil jovem da população, ao amadurecimento digital da vida financeira e à consolidação das plataformas de investimento como ferramenta de inclusão econômica. Para Alencar, o avanço recente aponta para uma transformação mais profunda e duradoura no comportamento financeiro do Norte, especialmente no Pará, onde o volume aplicado em renda variável cresce de forma consistente: de R$ 2,28 bilhões em 2021 para R$ 2,96 bilhões em 2025.

Para quem está começando agora, o professor recomenda cautela, disciplina e foco em conhecimento. Ele reforça a importância de formar uma reserva de emergência antes de ingressar na renda variável e sugere que o início seja feito com valores pequenos e diversificação. ETFs, diz ele, podem ser uma boa porta de entrada por reduzirem riscos específicos. Entre os principais alertas está a necessidade de evitar modas de mercado e recomendações sem fundamento. “É fundamental evitar ativos excessivamente voláteis, e isso inclui um cuidado especial com criptomoedas, que podem parecer atraentes para iniciantes, mas apresentam riscos muito altos”, afirma.

Segundo Alencar, aportes regulares, visão de longo prazo e educação financeira contínua são elementos essenciais para construir uma trajetória mais sólida no mercado de capitais. Ele avalia que, com uma população jovem em expansão e maior acesso à informação, o Norte deve seguir aumentando a presença no mercado financeiro brasileiro nos próximos anos.