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Início da safra e tarifaço de Trump causam incerteza no mercado de açaí paraense

Aumento da oferta do fruto baixou o valor para o vendedor e o consumidor, mas tarifaço pode afetar mercado.

Vitória Galvão | Especial para O Liberal

Apesar de dados oficiais ainda não terem sido divulgados, a batedora e dona de box de açaí Lays Sampaio confirma uma diminuição expressiva no valor de compra e venda do produto, além da melhora na qualidade do produto. De acordo com ela, já houve redução de 40% no preço da compra da fruta pelos batedores, e também 40% na venda do balcão para os consumidores.

 “Esse ano na minha opinião tá incerto, a gente não sabe realmente se o preço vai cair ou se ele vai se manter nessa média. Esse mês de julho mesmo nós tivemos uma oscilação grande por vários fatores: a chuva, as férias…”, afirmou Lays.


Já é esperada a queda no preço no início da safra de um dos principais alimentos da mesa do paraense e neste mês não foi diferente. Chegando a custar R$ 46,00 o tipo médio no mês de junho de acordo com dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), atualmente é possível encontrar pela cidade o açaí médio a R$ 34 e o tradicional, ou popular a R$ 24. 

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O consumidor Emil Hernandez é colombiano e professor de zoologia da Universidade Federal do Pará em Altamira e está passando as férias em Belém. Ele  costuma tomar mais açaí na cidade das mangueiras, já que considera a qualidade melhor, apesar dos preços manterem uma média em ambas as cidades, sobre o valor do açaí para Hernandez comentou que “deu uma leve diminuída, mas de qualquer forma continua caro”. 

Para quem tem o açaí na rotina alimentar, às vezes até mesmo o açaí “do fino” é comprado para não pesar muito no bolso, foi o que afirmaram os consumidores Ricardo Melocomo e Maurício Aires enquanto esperavam o açaí ‘popular’ para almoçar.

Ao Grupo Liberal, o Dieese confirmou o cenário de queda nos preços, apesar de não ser como esperado. A expectativa é que nos próximos 2 meses os valores continuem mais baixos, mas é necessário também estar atento ao “cenário da COP”, já que há a possibilidade de aumento na procura do produto.

Para Lays, o divisor de águas para ter uma noção sobre os preços dos próximos meses é saber se a exportação será intensa ou não. Após  o “boom” do açaí no território nacional e internacional as fábricas de açaí com contratos vão aos portos comprar dos ribeirinhos, o que acaba por desabastecer a capital, logo, o preço não cai, já que a oferta do produto não está alta no estado. 

“Não é a safra do açaí, o que dita o preço é a lei da oferta e da procura. A culpa não é nossa e nem de ninguém, com todo produto acontece isso”, afirmou a batedora de açaí.

TARIFAÇO

Os Estados Unidos são os principais compradores da produção de açaí do Brasil (40%), e o Pará é o principal produtor da fruta, 90% de toda a safra do país é colhida aqui. Na quinta (30/07), o governo estadunidense de Donald Trump anunciou a isenção de 700 produtos no tarifaço, o açaí ficou fora dessa e será um dos produtos com a taxação de 50% no valor do produto.

A informação que estava esperando para ser confirmada desde o início do mês pode assustar, mas mesmo com o provável impacto no mercado interno, profissionais têm visto com otimismo o contexto. Lays considera que se uma porta fechar (no caso, a exportação do açaí para os Estados Unidos for drasticamente diminuída afetando os preços internos), outras abrirão e mais países devem se interessar pela exportação do açaí.

Jessyca Freitas, empreendedora no setor observa que a medida pode afetar principalmente as fábricas, mas também toda a cadeia produtiva do açaí “prejudicando as fábricas, vai prejudicar, sim, toda a cadeia de produção do açaí no Pará”, principalmente na geração de empregos, mas ressalta que o comércio local, que vem sofrendo com a escassa oferta do fruto, pode ser beneficiado com aumento da oferta interna.

Para o Dieese, o cenário atual do açaí tem 3 pilares importantes a serem observados: a safra, o tarifaço e a COP 30. O supervisor-técnico do departamento, Everson Costa, não acredita que a elevação da alíquota de importação do açaí vá ser um grande problema. Segundo ele, o importante é observar as movimentações em torno da visibilidade e consumo da fruta.

“A visibilidade do fruto cresce a cada ano, a exportação também; a visibilidade coloca açaí com uma demanda interna cada vez maior. Se considerarmos o ‘efeito COP’, a condição climática, o tarifaço e outros elementos externos, só sobra uma certeza pro paraense: é que cada vez mais ele vê o açaí, ganhar o mundo e ficar cada vez menor em oferta aqui dentro da nossa terrinha.  É uma realidade, por quê? Porque a área plantada, ainda que cresça, não consegue trazer a mesma velocidade de oferta que o nosso consumo”, acrescenta.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na quinta (31/07) que o governo planeja uma série de medidas para amparar os setores afetados pela tarifa, além de negociar com o governo Trump sobre esses setores. Haddad explicou que a discussão será feita durante os próximos dias, e em breve devem ser divulgadas soluções “emergenciais”, como cartas de crédito.

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