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'2026 será decisivo para consolidar o desenvolvimento industrial no Pará', diz Alex Carvalho

O presidente da FIEPA fala sobre os desafios de 2025, a reforma tributária, a bioeconomia e os rumos da indústria paraense

Gabi Gutierrez

O presidente da Federação das Indústrias do Pará (FIEPA), Alex Carvalho, avalia 2025 como um ano de desafios e avanços para o setor produtivo do Estado e afirma que 2026 será decisivo para a consolidação de uma agenda de desenvolvimento industrial no Pará. Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, ele defende a preparação antecipada para a reforma tributária, destaca a importância da bioeconomia na geração de emprego e renda e critica a discussão sobre a adoção da escala 6 por 1, considerada inoportuna para o atual cenário econômico.




Leia a entrevista na íntegra

Queria que o senhor começasse fazendo um balanço sobre o ano produtivo de 2025 para Belém e para o Pará.

Alex Carvalho: Acho que foi um ano tanto produtivo quanto um dos mais desafiadores das nossas vidas, seja como cidadãos ou como cidadãos paraenses. Foram muitos desafios postos e muitas superações. Eu diria que foi um ano de grandes superações.

Não só pela COP 30, mas por tudo que ela proporcionou como exercício de preparação para o evento e também para conquistar espaço, ter mais voz e fazer com que essa voz representasse, de fato, os anseios e diretrizes para que, no caso da indústria, continuemos tendo um papel determinante no desenvolvimento socioeconômico, incorporando cada vez mais a consciência e a conscientização ambiental.

É um breve retrospecto de transformação de desafios em superação e, ao fechamento do ano, fica um sentimento de dever cumprido, assim como uma perspectiva muito positiva de dar continuidade a um processo dinâmico, necessário, e que busca o equilíbrio entre sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e desenvolvimento econômico.

O senhor falou que 2025 foi um ano de muitos desafios e também de muitas mudanças em todos os setores. O que a FIEPA espera de 2026? Existe alguma meta ou panorama para o próximo ano?

A gente mal sai de um desafio e já encontra outros pela frente. 2026 é um ano que traz atenção aos nossos olhares, especialmente por ser um ano de eleição majoritária, o que sempre impacta o ambiente econômico.

Mas, olhando para o recorte do Estado do Pará, temos sinais bastante favoráveis. Ao final de 2025, observamos uma interação mais fortalecida com o setor público, sempre de forma respeitosa e transparente, defendendo os interesses industriais, mas pautados no que é melhor para o desenvolvimento socioeconômico do estado. Há sinais de avanços significativos.

Acreditamos que 2026 pode consolidar uma agenda de desenvolvimento que permita otimizar uma bioeconomia extremamente rica, transformando-a em um grande vetor de geração de emprego e renda, com a conversão de bioativos e bioinsumos em processos de industrialização dentro do nosso território.

Também é fundamental pensar em uma política de atração de investimentos que amplifique a cadeia produtiva industrial, fortalecendo, diversificando e agregando valor aos segmentos envolvidos. Essa é a grande transformação que acreditamos para o nosso estado.

Hoje somos uma potência na produção agropecuária, mas ainda temos uma posição tímida na capacidade de internalizar a industrialização. Criar modelos e incentivar a atração de investimentos industriais passa a ser a grande expectativa para 2026, especialmente considerando que, em 2032, teremos uma nova regra tributária que vai nivelar todos os estados.

Se não estivermos estruturados até lá, corremos o risco de perder competitividade, indústrias e empregos. Temos tempo para fazer esse trabalho e percebemos sensibilidade e intenção do governo do estado em fortalecer essa agenda para que cheguemos preparados para esse novo cenário.

Sobre a reforma tributária e esse risco que o senhor mencionou: como a FIEPA está se preparando para chegar a 2032 de forma estruturada?

Em 2026, falo aqui em primeira mão, vamos lançar um programa chamado “Mapa do Caminho até a Reforma Tributária”. A ideia é que todos os envolvidos — empresários, CEOs, contadores, advogados — entendam o que precisa ser feito desde já, sem esperar 2032 chegar.

O ponto de equilíbrio para mitigar o risco de evasão industrial do Pará está na regulamentação dos fundos de compensação e na aplicação correta desses recursos, convertendo-os em atração de investimentos, ampliação e manutenção da base industrial.

Tudo o que estiver envolvido nessa jornada será amplamente debatido. A ideia é iniciar esse processo em 2026 com uma profunda discussão e aprendizagem, buscando o melhor caminho para proteger não só a indústria paraense, mas todo o encadeamento produtivo, valorizando-o de forma integral.

A indústria é o ponto de chegada. A partir dela vêm a comercialização e a entrega ao consumidor final. Precisamos entender toda essa esteira produtiva para que ela seja viável e, o máximo possível, internalizada no Estado do Pará.

Qual foi a contribuição da indústria para a geração de emprego e renda no Pará em 2025?

A indústria do Pará se destacou nacionalmente em 2025 como um dos estados que mais cresceram na geração de empregos. A construção civil teve uma contribuição muito significativa, principalmente pelos investimentos voltados à COP 30.

O mercado imobiliário também se manteve aquecido, o que é até paradoxal diante das altas taxas de juros. Isso é algo a se comemorar.

Para manter esse destaque em 2026, precisamos acelerar setores decisivos, como mineração e construção civil, mas também dar visibilidade a setores ainda pouco mensurados, como a bioeconomia.

Ainda não temos dados econométricos precisos sobre o impacto da bioeconomia no PIB do estado. Isso faz parte de um projeto da federação: entender melhor esses números para construir diretrizes mais claras.

Encerramos 2025 com muito a comemorar, mas também com muito a crescer. Mesmo diante de desafios macroeconômicos, tenho esperança de que 2026 será um bom ano, ainda que não alcance os mesmos níveis de geração de emprego de 2025.

A COP 30 ajudou a romper preconceitos sobre investir no Pará. Se conseguirmos converter essa mudança de percepção em investimentos e estímulo ao empreendedorismo local, iniciaremos uma nova era de desenvolvimento econômico sustentável.

Além da construção civil, houve outros setores que se destacaram ou que tiveram desempenho abaixo do esperado?

O Pará é um estado exportador e foi impactado pelas tensões geopolíticas e pelo rearranjo do mercado global. Isso provocou oscilações, mas há uma tendência momentânea de maior equilíbrio e previsibilidade.

Um exemplo é o açaí, produto importante da nossa pauta de exportação, que sofreu oscilações ao longo do ano. Se essa estabilidade se mantiver, 2026 tende a ser um bom ano para essa cadeia. O mesmo vale para produtos florestais e de manejo sustentável.

A indústria paraense alcançou a marca de 250 mil empregos diretos e apresenta um crescimento mais diversificado. O grande desafio é deixar de ser majoritariamente extrativista e avançar na agregação de valor, diversificando e fortalecendo a indústria de transformação no estado.

O que foi possível aprender com a COP para promover essa transformação no estado?

Em 2024, lançamos o manifesto Jornada COP+, entendendo a COP não apenas como um evento, mas como um ponto de transformação para o futuro.

Essa jornada ganhou corpo, com mais de 180 pessoas envolvidas de diversos setores, organizadas em dez eixos temáticos, incluindo comunicação, advocacy e infraestrutura. Não se pensa em bioeconomia sem infraestrutura adequada, logística competitiva e inclusão social.

Discutimos temas como bioeconomia, transição energética, margem equatorial e transformação digital. Defendemos que eventuais recursos de royalties sejam direcionados ao fortalecimento do futuro, especialmente da bioeconomia, conciliando atividade econômica e conservação ambiental.

Entregamos diretrizes para uma economia de baixo carbono durante a Semana do Clima em Nova York, nos posicionando como colaboradores de uma agenda global. Mas reforçamos que o Brasil precisa integrar verdadeiramente a Amazônia ao país, superando visões segregadoras.

A infraestrutura é um diferencial estratégico para que o Brasil lidere a agenda climática e de sustentabilidade de forma soberana.

O senhor vai assumir a presidência da COINFRA. Qual a importância desse papel?

Recebo essa indicação com muita honra. Infraestrutura é transversal, estratégica e exige planejamento de longo prazo. Não se pensa infraestrutura com imediatismo, mas como um projeto de nação.

Poder contribuir levando a realidade da Amazônia é uma grande responsabilidade e uma oportunidade de aprendizado. Defendo que pensemos em infraestrutura verde, amarela, azul e branca, pensando no Brasil como um todo.

Precisamos nos libertar do assistencialismo por meio de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável, equilibrando os pilares ambiental, social e econômico.

Também é fundamental superar a polarização. Tanto o negacionismo climático quanto o ativismo ambiental exacerbado prejudicam a Amazônia. Temos condições de preservar nossas florestas e, ao mesmo tempo, gerar emprego e renda para uma população onde 70% vive abaixo da linha da pobreza.

A indústria que defendemos hoje não é poluidora, mas comprometida com as pessoas, com o meio ambiente e com a competitividade econômica.

Por fim, sobre a discussão em torno da escala 6 por 1, como o senhor avalia os impactos disso no setor industrial produtivo?

Nós discordamos dessa discussão. Consideramos inoportuna e, principalmente, entendemos que ela jamais deveria ter um cunho eleitoreiro.

Na prática, o que o país precisa é concentrar esforços no combate à informalidade, à pirataria e às atividades ilícitas, e não em dificultar ainda mais a atividade formal. O empresariado brasileiro, especialmente o paraense, enfrenta muitas dificuldades para sobreviver.

Ao invés de se discutir redução de jornada, fecha-se os olhos para os rombos que fazem com que os encargos sociais no Brasil estejam entre os mais altos do mundo. Como defensor da atividade produtiva e do cumprimento das regras, não posso concordar com essa visão.

O equívoco não está, necessariamente, na jornada de trabalho em si, mas nas condições que o Brasil possui hoje para assumir uma mudança desse porte. Existem questões muito mais estruturantes a serem enfrentadas do que impor mais uma carga sobre quem produz, quem gera emprego formal e mantém trabalhadores com carteira assinada.

É uma distorção e uma incapacidade de enxergar a realidade. Em vez de se pensar em estímulos à produção industrial, ao comércio e aos serviços, e na geração de empregos, propõe-se mais uma restrição ao setor produtivo.

O Brasil convive, ao mesmo tempo, com baixos índices de desemprego e com cerca de 70% da população economicamente ativa na informalidade, o que é contraditório. Quando esse debate vem carregado de viés ideológico, a situação se torna ainda mais complexa.

Acredito que um dia o país terá condições de discutir uma iniciativa como essa, mas ainda estamos longe disso. Há muito dever de casa a ser feito. O Brasil precisa avançar em reformas estruturais antes de se permitir uma proposta dessa natureza, que hoje soa desrespeitosa ao setor produtivo.