Alimentos similares ganham espaço nos carrinhos de supermercado em Belém
Com aumento de preços, consumidores optam por versões mais baratas de leite condensado, creme de leite, requeijão e café
Diante do aumento do preço dos alimentos, consumidores em Belém têm a opção de recorrer a versões mais baratas de itens tradicionais como café, leite condensado, creme de leite, requeijão e azeite. Nos supermercados da capital, os chamados “produtos similares” — como misturas lácteas e cremes culinários — são cada vez mais comuns nas prateleiras e dividem opiniões entre quem busca economizar e quem mantém a fidelidade às marcas conhecidas.
A advogada Silvia Jacó, 69 anos, reconhece o apelo do preço. “O preço normal do leite condensado aqui é R$ 7. A mistura [láctea] tá R$ 3,75. Olha a diferença. É uma opção pra quem não tem condições. Eu tenho condição de comprar o original, mas prefiro o similar porque a qualidade é a mesma”, afirma.
Silvia explica que nem sempre sabe o que fazer com algumas dessas versões mais baratas. “Tem quatro lá em casa que estão até sem uso. Mas se eu usasse com frequência, eu compraria. Acho que, no fundo, é a mesma coisa, que nem os medicamentos genéricos. A mesma composição, só que mais barata. Às vezes, vem até em quantidade maior”, analisa. Segundo ela, a identificação nas embalagens tem sido clara: “Eles são bem transparentes, explicam tudo: o que é mistura, soro de leite, gordura vegetal…”, frisa.
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Lealdade à marca ainda pesa
Já para a pedagoga Dilma Pereira, 45, o critério principal é a confiança no que já conhece. “Geralmente a gente usa a mesma marca de todos os produtos”, diz. Quando questionada sobre as variações de leite e café, ela reforça: “Apesar de terem outros produtos bons, o que nós gostamos mesmo é do leite que estamos acostumados. É uma garantia, né?”, opina.
O marido de Dilma, o barbeiro Alan Brasil, 67, também participa da escolha e admite que de vez em quando arrisca experimentar algo novo, monitorando os preços com a calculadora a tiracolo. “A gente observa os preços. Na semana passada, comprei o café a R$ 19,99 e hoje está R$ 18. É a mesma marca, só baixou um real. A gente vai variando, vendo se tem condição”, completa Alan.
Produtos similares enganam o paladar, mas não são equivalentes ao original, alerta pesquisadora da UFPA
A professora e pesquisadora Andressa Jantzen da Silva Lucas, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Pará (UFPA), alerta: “Esses alimentos não são tecnicamente equivalentes para todas as preparações. Para algumas sim, mas não para todas”.
Ela explica que os produtos similares são feitos com ingredientes mais baratos, como “amido, gordura vegetal, soro de leite, espessantes e corantes”, e que “simulam textura e sabor”, mas podem comprometer o resultado de receitas e, principalmente, a saúde nutricional no longo prazo.
Para identificar essas imitações, a pesquisadora recomenda atenção redobrada ao rótulo. “Se não tiver escrito requeijão ou leite condensado, desconfie. Palavras como mistura láctea, creme, sabor requeijão ou sobremesa láctea condensada vão indicar substitutos”, orienta. Outro cuidado essencial é observar a lista de ingredientes. “O primeiro ingrediente na listagem é sempre o de maior constituinte naquele alimento. Se estivermos falando de leite condensado, o primeiro deve ser leite. Se vier amido, soro ou outras coisas, é sinal de substituição”, exemplifica.
O uso prolongado desses produtos pode levar a deficiências nutricionais, “especialmente em crianças ou populações vulneráveis”, adverte. Isso porque eles costumam ter menor teor de proteína e cálcio, além de mais gordura vegetal hidrogenada, como as trans, gordura trans ou saturadas. “Eles também vão apresentar mais aditivos, como espessantes, corantes e aromatizantes”, complementa. Ainda que sanitariamente seguros, porque passam por controle industrial e atendem às normas da Anvisa, o risco está na frequência do consumo.
A pesquisadora reforça que a motivação da indústria é clara: custo, maior tempo de prateleira e atendimento à demanda de preços acessíveis. Por isso, ela sugere uma saída prática:
“Cozinhar em casa é sempre a opção mais barata, porque a gente reduz os custos e tem mais controle sobre os ingredientes. Aqui no Norte a gente tem o queijo do Marajó, entre diversos outros produtos que podem substituir os ultraprocessados, reduzindo o custo, aliado à saúde do consumidor”, recomenda.
Por fim, ela chama atenção para a regulamentação e os perigos da desinformação: “Rótulos e marcas não podem induzir o consumidor ao erro. Existe uma resolução específica para isso, que é a RDC nº 272 de 2022 da Anvisa”. Mas nem sempre é o que se vê nas gôndolas. “Alguns fabricantes ainda usam embalagens visualmente semelhantes, o que pode causar a confusão mesmo com regras em vigor”, alerta.
E conclui com um exemplo: “Hoje em dia, chamam leite de coco, leite de amêndoa, leite de soja… Mas pela legislação, leite é só o produto ordenhado de vacas. Leite vegetal não tem lactose, mas grande parte da população não sabe disso”.
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