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Alimentação é a principal preocupação para quem ganha um salário mínimo no Pará

Metade da população ocupada do Pará recebe R$ 1.100

Abílio Dantas / O Liberal
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O valor atual do salário mínimo, de R$ 1.100, é a renda que 1,7 milhão de paraenses recebem em um mês para custear as despesas básicas de alimentação, moradia, transporte e vestuário. Isso significa que 50% da população ocupada do Pará (3,300 milhões de indivíduos) vive com um salário, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do segundo trimestre deste ano, que compreende os meses janeiro, fevereiro e março. Segundo análise do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA), mesmo com o incremento de cerca de 50 mil novos postos de trabalho ocupados no segundo trimestre (abril, maio e junho), a proporção de assalariados segue a mesma tendência.

O nível baixo de renda entre os paraenses não é suficiente para suprir as necessidades do dia a dia, explica o economista Everson Costa, técnico do Dieese. “Hoje, o maior gasto dos assalariados é com os alimentos. No Pará, 52% de quem ganha salário mínimo precisa do dinheiro para a compra da cesta básica. Sendo assim, se só a alimentação leva 52% do que é contido no salário mínimo, vai sobrar muito pouco para fazer frente a outro grande gasto das pessoas que moram na Região Norte, que é a habitação”, afirma.

Nos últimos 12 meses, segundo o economista, a inflação dos preços dos alugueis chegam a 30% de alta. “Muita gente teve que entregar a casa, renegociar ou buscar uma alternativa financeira para continuar pagando o aluguel. Se o assalariado mal consegue comer, dificilmente ele consegue manter a moradia com níveis de aluguéis tão altos”, demarca.

O terceiro elemento que torna difícil a vida de quem recebe um salário mínimo por mês, também segundo Everson Costa, é o transporte público. O economista destaca que nesta semana o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belém (Setransbel) enviou proposta à Prefeitura de Belém de reajuste da tarifa de R$ 3,60 para R$ 4,87. “É verdade que o preço atual da passagem está defasado e o sistema tem que ter seu equilíbrio, mas olhando para o trabalhador assalariado, para o menor corte de renda da região, o que vamos verificar é que esse trabalhador encontra imensa dificuldade em acomodar gastos com alimentos, com habitação, e agora, se tivermos um reajuste que vá acima da inflação, certamente ficará ainda mais difícil utilizar transporte público. Fora isso, temos remédios, gasto com educação dos filhos, e a Constituição estabelece que a população tem direito a um salário mínimo que também dê acesso a lazer”, demarca.

Salário deveria ser de R$ 5.583

Segundo os cálculos do Dieese, o salário mínimo, para custear os gastos básicos, deveria ser de R$ 5.583. “É um valor muito distante dos atuais R$ 1,100, e ainda mais distante de uma população como da Região Norte, que tem baixa renda, alto custo de vida e gasta mais da metade do seu salário para comprar alimentos”, reitera.

Em todo o país, a quantidade de pessoas que ganham um salário bateu recorde, chegando a 30,2 milhões de pessoas, segundo a Pnad do segundo trimestre. Como proporção do total de ocupados no Brasil, são 34,4% de trabalhadores recebendo até um salário mínimo – o patamar é o mais alto já apurado desde o início da série histórica, em 2012.

A população negra é a que ocupa a maior parcela dos assalariados, com 43,1% do total. No quarto trimestre de 2015, no melhor momento da série histórica, 34,4% ganhavam até o salário mínimo.

“A gente faz o que pode”

Em 2017, Marcélia Nascimento, hoje com 27 anos, natural do município do Acará, decidiu se mudar para Belém para conquistar melhores condições de trabalho. Atualmente, ela trabalha como babá, de 6h às 19h, e recebe R$ 1.100. Em sua cidade natal, recebia apenas R$ 400, sem carteira assinada, trabalhando como empregada. “Eu enviei uma mensagem para uma amiga de Belém, dizendo que eu queria um emprego de carteira assinada, que eu queria ganhar um salário. Depois de trabalhar quatro anos em uma casa, hoje, graças a Deus, estou empregada novamente”, afirma.

O trabalho de Marcélia é a fonte de renda fixa de uma família de cinco pessoas, que inclui três filhos, um neto e o marido, que está desempregado e trabalha com “bicos” para completar o sustento da casa. “Eu recebo auxílio transporte e também o Bolsa Família, no valor de R$ 230. Mas, mesmo assim, é difícil sobreviver com esse dinheiro para quem tem família. A gente prioriza a alimentação, claro, faz o que pode, faz mortadela, salsicha. Carne a gente está conseguindo comer só uma vez por mês. Mas essa é a vida. O certo é que o salário mínimo fosse maior”, reflete.

 

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