MENU

BUSCA

Desperdício de água potável cria escassez do recurso no Brasil e no mundo

Amazônia ocupa o centro da discussão sobre soluções para a questão da água no planeta

Dayane Baía

A Terra tem 97% de água oriunda dos oceanos, mas apenas os outros 3% são próprios para consumo e sobrevivência da humanidade, da maioria das plantas e dos animais. A falsa percepção de abundância e o desperdício desenfreado ao longo dos séculos, mais especificamente depois da industrialização, criaram um cenário de escassez de um elemento de primeira escala de necessidade.

O Dia Mundial da Água, celebrado no dia 22 de março, levanta o debate sobre os problemas e possíveis soluções dentro desse contexto. Além de garantir fontes de água disponíveis e com uso sustentável, a sociedade precisa ampliar o acesso ao tratamento adequado.

Nações africanas e indianas são exemplos de populações que enfrentam a insuficiência de água e saneamento que implica no aparecimento recorrente de doenças como desidratação, cólera, leptospirose, hepatites e diarreias infecciosas. A falta de água impacta também na fome, pois o recurso é imprescindível para a agropecuária. Sem água não se consegue plantar e nem criar animais, refletindo diretamente na produção de alimentos.

Na América Latina, a escassez de água tratada também é observada. No Brasil, por exemplo, questões geológicas na região nordeste impedem a produção e armazenamento de água em níveis adequados. As rochas do solo são muito antigas e não têm mais porosidade que facilitem esse processo, refletindo diretamente na oferta para consumo da população e produção de alimentos.

Todo esse panorama é abordado por Eder Oliveira, professor do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e vice-coordenador do Laboratório de Análises de Água da Amazônia (Lab Água), vinculado ao Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá. A Amazônia é, muitas vezes, apontada entre as soluções para a questão da água no planeta.

“Nós aqui na Amazônia somos tremendamente abençoados, pois temos grandes aquíferos com volume muito grande, como na região metropolitana de Belém, no nordeste paraense, no oeste, como o aquífero de Alter do Chão. Temos grandes rios como Tapajós, Amazonas, Araguaia e Xingu. Tudo é água doce e pode ser consumida” - Eder Oliveira, pesquisador

Desafios e Fronteiras

Para Eder, a questão especificamente na Amazônia tem algumas fronteiras a serem superadas. A região abriga apenas 7% da população do país e possui 80% do recurso hídrico brasileiro.

O cientista aponta, entres os grandes problemas, o lançamento de águas não tratadas para a natureza. “Essa água vai para as bacias e outros leitos como a baía do Guajará, o Rio Guamá. Estamos devolvendo esgoto. Com o passar do tempo, a tendência é que a capacidade de depuração de contaminação seja perdida, pois a população aumenta e com ela a carga de esgoto. A falta de tratamento de água é um problema sério, pois hoje não enfrentamos isso diretamente, mas lá na frente, sim”, enfatiza Eder Oliveira.

Outro ponto citado pelo pesquisador é a necessidade de água para irrigação em extensas áreas de plantio de culturas como dendê, açaí, coco e soja. Além disso, o uso de defensivos agrícolas pode afetar os recursos hídricos, com contaminação das fontes de água.

Entretanto, uma séria preocupação é a contaminação hídrica na atividade mineradora, principalmente o garimpo ilegal, como a extração de ouro que deposita resíduos de mercúrio nos rios amazônicos, como Tapajós, Gurupi, Xingu e afluentes, e Araguaia Tocantins (um deságua no outro). “É uma fronteira que precisa ser estudada para não termos problemas lá na frente. Diferentemente da agricultura, não se consegue enxergar em grandes áreas, mas o impacto é enorme com contaminantes que vão para a biota, que é consumida pelas pessoas. O que acontece com a Terra Indígena Yanomami é um exemplo”, afirma Eder.

O Lab Água pesquisa, entre vários temas, a expansão do garimpo em áreas de drenagem. “Acompanhamos a expansão desde 1985 e só tem aumentado. Estamos desenvolvendo um estudo sobre monitoramento por satélite para quantificar esse aumento nas atividades de mineração dentro de recursos hídricos. Muda o canal do rio, provoca assoreamento, fora os contaminantes que são gerados no processo de beneficiamento do ouro”, ressalta o pesquisador.

Olhar o recurso como um bem finito é outra fronteira citada pelo pesquisador, e isso inclui o uso doméstico, em que são dados destinos transversais para a água tratada. Um exemplo clássico é a lavagem de carros com água da Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa).

“Pode ser feita a captação de água de chuva, armazenada em cisternas. Enxergo a demanda da cidade de Belém, em que temos os mananciais superficiais do Utinga que precisa fazer bombeamento. Água subterrânea é uma fonte que precisa de um tratamento menos oneroso, como já fazem as grandes indústrias” - Eder Oliveira

Entre as vantagens das águas subterrâneas está a qualidade que tende a ser superior, por passar por sucessivos processos de filtragem e purificação, além de sofrer a ação de processos físico-químicos e biológicos que a tornam própria para consumo.

Dia Mundial da Água