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Texto de Walcyr Monteiro completa 50 anos

Publicado em 1972,“A Matinta Perera do Acampamento”, que faz parte do livro “Visagens e Assombrações de Belém” celebra meio século no dia 7 de maio.

Alexandra Cavalcanti
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O costume de sentar na porta das casas para conversar e ouvir histórias, praticamente não existe mais nas grandes cidades. Mas nem por isso, essas prosas foram esquecidas. Uma das mais famosas, inclusive “A Matinta Perera do Acampamento”, comemora no próximo dia 7 de maio, 50 anos de sua publicação. A lenda consta do livro “Visagens e Assombrações de Belém”,  um dos livros mais vendidos do Estado, escrito pelo pesquisador e escritor Walcyr Monteiro, que faleceu em 2019. Para celebrar a data, o filho e curador das obras de Walcyr, Átila Monteiro, prepara um evento especial, com exposição, exibição de vídeos e muitas histórias de assombrações.

Átila explica que as comemorações vão focar principalmente na trajetória do escritor. “Serão uma série de encontros, que deverão iniciar a partir de 6 de maio, no Espaço Cultural Sesc Ver-o-Peso, onde iremos reunir as pessoas que estiveram envolvidas, de alguma forma, na elaboração desse incrível projeto idealizado pelo meu querido pai, o inesquecível Walcyr Monteiro". Dentre os trabalhos que estão preparados para este momento estão uma exposição com mais de 30 obras produzidas nos 50 anos de trabalho, além de contações de histórias de visagens e apresentação de um número de dança baseado em um dos contos dos livros do autor. 

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As histórias narradas no livro “Visagens e Assombrações de Belém” embora tenham sido escritas por volta da década de 1970, ainda hoje fazem sucesso e influenciam gerações. O curador acredita que isso se deve ao jeito peculiar do autor de contar os “causos”. “Ele tinha uma forma ímpar de narrar as histórias contadas em nossa região, fazendo com que o leitor se sentisse como participante da própria narrativa. Sem dúvida alguma, isso tudo fez com que essas histórias continuassem a ser repetidas, de ‘boca em boca’, sempre sendo atualizadas em seu enredo pelos próprios contadores. Taí a ‘Moça do Táxi’,  que não me deixa mentir, pois, hoje já se fala que a moça estaria usando um famoso aplicativo de celular para pedir a sua corrida de ‘táxi’ no dia do seu aniversário, que por sinal, é agora em 19 de abril”, ressalta.

Outras estratégias também contribuíram para que as histórias atravessassem meio século e chegassem aos dias de hoje. “Não houve como nós não nos adaptarmos a essa nova realidade que são as mídias sociais e os canais de vídeos. Com a pandemia então, ou nós nos reinventávamos ou iríamos ser ‘engolidos’ pelo esquecimento. Criamos uma canal no YouTube, o ‘Visagens e Assombrações de Belém- Walcyr Monteiro’, uma perfil no Instagram, o @visagenseassombrações de belém e outro no facebook com o mesmo nome, a fim de nos alinharmos com o mundo digital que veio para ficar e que sem dúvida alguma, pela sua penetração e facilidade de acesso, deu uma acelerada para a difusão desse tipo de assunto: ‘As Visagens’”, explica. 

O autor via com entusiasmo a repercussão de sua obra entre as diversas gerações. “Ele via isso com um ‘mix’ de surpresa e realização pela missão cumprida, pois ele sempre dizia, que nós não podíamos deixar desaparecer esse traço cultural tão marcante da nossa região relacionado a ‘contação de história de visagens’ e de personagens do nosso imaginário amazônico”, lembra.

As obras de Walcyr também chegaram às mais diversas vertentes culturais, inclusive ao cinema. “Recentemente fomos procurados por uma produtora do sul do país que queria uma participação das obras do meu pai em um dos episódios que será exibido em rede nacional de televisão e, posteriormente, em salas de cinema no exterior. Esses trabalhos são essenciais para que a obra continue viva e, principalmente, para nossas lendas, os nossos mitos, para que nossas tradições não sejam deturpadas, violadas ou, pior ainda, esquecidas”, diz.

image Átila Monteiro (Filipe Bispo)

Influências - O professor, escritor e arte educador, Joécio Lima não tem dúvidas de que esse momento dos 50 anos deve ser celebrado. Ele conta ter conhecido a obra de Walcyr ainda na adolescência e desde então ter se encantado por seu trabalho. “Destaco principalmente dois livros dele: o clássico Visagens e Assombrações de Belém e o Contos de Natal que comprei do Walcyr, porém nunca pude pegar com ele, mas por coincidência ganhei de presente de uma amiga”, lembra.

As obras, segundo ele, exerceram uma forte influência no trabalho que passou a desenvolver. “Comecei a relatar as histórias de visagens que aconteceram comigo quando trabalhava em uma escola centenária na Cidade Velha , de tanto ouvir seus conselhos. Certa vez, ele me disse que a história oral com o tempo pode se perder, enquanto a história escrita se mantém. A partir dessa frase criei coragem e lancei meu livro ‘Escola Assombrada de Belém’ e dediquei a ele”, conta.

Para ele, a obra do escritor tem um valor singular para a cultura e os costumes do povo paraenses. “Ele percebeu que as pessoas estavam perdendo o hábito de contar histórias e os registros se perdiam. Walcyr então coletou essas informações e trouxe para o livro e isso dura até hoje. Já são 50 anos encantando os leitores. É uma obra única e todos deveriam ler”, afirma.

O professor e escritor Paulo Corrêa também lembra bem de quando conheceu o trabalho do autor. “Foi por volta de 1989 ou 1990. Um vizinho possuía um exemplar do Visagens e Assombrações de Belém e reunia a garotada à noite para a leitura daquele livro misterioso que ele não emprestava para ninguém”, recorda. 

Desde então ele passou a acompanhar as obras de Walcyr. “Adora praticamente todas as histórias dele, mas a minha preferida se intitula ‘Noivado Sobrenatural’, que está nas Visagens e Assombrações de Belém”, diz.

Pessoalmente, o professor conheceu o autor no ano de 1999, quando era pesquisador de poéticas orais cursando Letras na Universidade Federal do Pará (UFPA). “Ele me convidou para trabalhar revisando os trabalhos que ele escrevia. Foram 20 anos de convivência e amizade, ele me tratava como um filho e confiava plenamente em mim, me permitindo, inclusive, o uso irrestrito de sua biblioteca pessoal. Esse tipo de relação pessoal e de trabalho não tinha como não deixar marcas e influências. A forma como ele mais me influenciou foi com seu acervo, seu estilo e seu amor à Amazônia, e isso se reflete no meu compromisso com a pesquisa sobre a nossa cultura e na minha forma de escrever, mesmo eu possuindo minha identidade como escritor”, acredita.

Ele enfatiza que a obra do autor tem um valor imenso não apenas para o Pará, mas para todo o Brasil. “No início dos anos de 1970, estavam esquecidas as nossas lendas. Para você ter uma ideia, o último nome de destaque tinha sido o José Coutinho de Oliveira, da década de 1950 para trás. Depois da criação da série Visagens e Assombrações de Belém, no jornal A Província do Pará, em 1972 e, sobretudo, da publicação do livro, em 1986, ele praticamente influenciou na produção de diversos autores que também se dedicaram a estudar o tema. Depois que ele se foi, a influência dele não acabou. Pelo contrário, ele está mais vivo do que nunca”, garante.

Alguns livros comprovam essa influência, de acordo com o escritor. “Além da minha pesquisa, com livros como "Cobra Grande: terror e encantamento na Amazônia", "Anhanga, Curupira e Mapinguari: protetores da natureza", Histórias de Curupira e outros, há que se citar livros recentes de outros autores influenciados pelo Walcyr: Genésio Gomes ("Fantasmas de delegacias de polícia do Pará", já com dois números), Nathan de Moura ("O Livro Assombroso" e "Lendas e Assombrações do Estado do Pará"), Joecio Jojoca Lima ("Escola Assombrada de Belém") e outros mais”, destaca. “Minha consideração à memória do meu amigo Walcyr Monteiro será definitivamente selada com a futura publicação de um livro meu a respeito dele: Walcyr Monteiro, o homem das visagens e assombrações”, completa.

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