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Tecnobrega é tema de exposição no Rio de Janeiro

PV Dias apresenta uma crônica visual do tecnobrega paraense

O Liberal

A nova exposição “Desarmonia” do artista paraense PV Dias apresenta uma verdadeira uma crônica visual do movimento tecnobrega. Conhecido pelas intervenções digitais em fotografias de paisagens urbanas, dessa vez ele investe em pinturas digitais, pinturas sobre papel e tela e animações. O resultado pode ser conferido a partir deste sábado (4), na Simone Cadinelli Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro, até o dia 26 de novembro, com entrada gratuita e agendamento prévio ou através dos canais virtuais da galeria.

A influência da música na vida do artista foi decisiva para que ele lançasse mão dessa conexão do ritmo com seu trabalho. “Minha relação não se dá somente com o tecnobrega, mas com a música nortista como um todo, tenho alguns parentes músicos, alguns profissionais, outros não, mas a música sempre foi algo recorrente. Meu pai foi músico de banda, minha mãe ouve música o dia todo, meus irmãos amam música. Íamos de Belém à Igarapé-Miri e Cametá, ouvindo, cantando, tocando e batucando grandes listas de zouk, merengue, cumbia, brega saudade, calypso, carimbó, siriá, entre outros”, relembra.

Não demorou para que a estética vibrante do tecnobrega, incluindo roupas, adereços usados pelos artistas e até as capas de discos chamassem a atenção do artista. “Parte do que me move é a música, então comecei a olhar para ela além da sonoridade. Pensar todos os elementos de experiências envoltos a ela”, explica.

Com relação ao tecnobrega em específico, ele conta que apesar de poucas vezes ter vivenciado as festas de forma presente sempre ficou inebriado com suas nuances. “Morei em Ananindeua e mesmo não sendo um frequentador frequente das festas de tecnobrega, as noites sempre ecoavam as festas realizadas, as luzes podiam ser vistas no céu. Aquele universo de alguma forma pertencia a minha paisagem também”, diz ele, ressaltando que a primeira vez que esteve em uma festa de aparelhagem foi em 2016. “Fiquei estonteado com a estrutura sonora, antes ouvida só de longe, as luzes agora estavam ali na minha frente, materializadas, um cenário que visto por qualquer pessoa como uma festa altamente tecnológica, futurista e com diversos elementos regionais, é inspirador”, acrescenta.

A exposição é composta por 28 obras, entre pinturas, impressos, realidade aumentada e vídeo. “O Búfalo”, “O Crocodilo”, “A Águia”, todas de 2021, trazem a referência às aparelhagens, estruturas imensas que servem de cenário e de palco e que se movimentam.

Na parte térrea da galeria, os visitantes vão encontrar as pinturas da pesquisa recente do artista sobre a visualidade do movimento tecnobrega. “Sempre me encantou todos esses elementos visuais dentro dos movimentos musicais nortistas, das capas de cds, às roupas, videoclipes e os adereços. Portanto, pensei em colocar essa visualidade tão representativa de um imaginário paraense dentro da minha produção”, destaca.

PV ressalta que interessa ao seu trabalho perceber que essa visualidade “é intrínseca a esses movimentos, e que elas, com uma maravilhosa acidez, me parecem ironizar a ideia daqueles que os acusam de ser cafona ou qualquer coisa do gênero, se apropriando de diversos elementos visuais e criam roupas, penteados e estéticas fantásticas”, avalia.

O segundo andar da galeria foi reservado a nove pinturas da série “Festa Silenciosa”, que mostram o cotidiano de sua família, na casa de sua mãe em Marechal Hermes, no Rio de Janeiro. Tons de roxo dão unidade ao conjunto. “Festa Silenciosa foi exatamente um momento em que minha família que mora aqui no Rio, começou a não mais fazer as eventuais festas com muito som, música, gente, etc. As festas silenciaram-se, sem pessoas, somente os habitantes da casa, sem barulho, sem música”, descreve.

A exposição é composta ainda por três animações digitais no segundo andar: uma projeção, outra colocada em um display, e outra impressa, ativada ao se passar por cima, um celular com um filtro do Instagram criado pelo artista. “Elas se apresentam de formas diferentes dentro do espaço expositivo. Uma será uma projeção em um lambe lambe. Outra estará em uma TV e outra será impressa, mas irá interagir da feita que as pessoas apontarem seus celulares pela câmera. Nessas animações quis registrar alguns passos de dança de tecnobrega e apresentar eles de diversas formas”, justifica.

Na vitrine da galeria haverá uma instalação acompanhada de uma trilha tecnobrega produzida especialmente para o local pelo cantor, performer e produtor musical Will Love, que em 2019 participou do Rock in Rio.

Sobre a exposição de PV Dias, o curador Aldones Nino afirma ser uma ode à memória de Rubens Mota, Wanderley Andrade, Reginaldo Rossi, Pinduca, Banda Calypso e ‎Mylla Karvalho. “É muito legal poder pintar Rubens Mota, sua obra audiovisual mereceria mais e mais pinturas, Wanderley também, toda a visualidade desses mestres e mestras como Gaby Amarantos, Joelma, Pinduca, Wanderley e o Anormal, me enchem os olhos, e me dá vontade de registrar cada elemento proposto por eles em tela ou papel”, afirma.

Agende-se: Exposição “PV Dias – Desarmonia”. Local: Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Rio de Janeiro. Período: de 4 de setembro a 26 de novembro, entrada gratuita com agendamento prévio. Disponível também nos canais virtuais: 

Site – https://www.simonecadinelli.com/Facebook  @galeriasimonecadinelli/Instagram – @galeriasimonecadinelli/

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