Projeto ‘Stereocidade’ divulga artistas selecionados para álbum produzido na Amazônia
São sete artistas autorais que compõem o elenco do álbum e pretende potencializar a música das quebradas em Belém
Preservar direitos através da cultura é um dos principais intuitos do projeto “Stereocidade”, que acaba de divulgar os artistas selecionados para integrar o disco coletivo que irá reunir a potência criativa da nova música nascida nas periferias da Amazônia. Sob curadoria de Ruy Montalvão, o álbum começou a ser gravado nesta semana e conta com sete talentos autorais da periferia da Grande Belém, em sons plurais, desde carimbó, samba, rock, blues, hip hop a toadas de boi-bumbá.
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Segundo o curador do projeto, Ruy Montalvão, artista e produtor que nos anos 2000 lançou holofotes sobre a obra de mestres como Laurentino e Dona Onete, o projeto é uma forma de garantir direitos através da cultura. “O projeto é um exemplo de que as políticas públicas, principalmente voltadas para a cultura, podem chegar em qualquer território. Principalmente, em um ambiente considerado desfavorável economicamente e socialmente falando”, iniciou. Ruy destacou ainda que muitos artistas ainda acreditam que não terão seus trabalhos reconhecidos por morar nessas áreas. “Então o projeto leva garantir direitos através da arte”, enfatizou.
A potência criativa da arte na periferia é um dos pontos fundamentais da cultura amazônica contemporânea. Do brega à guitarrada, os movimentos musicais nascidos nos subúrbios se tornaram ultrapopulares e marca identitária da estética do Norte. Ainda de acordo com o Ruy, o processo de curadoria envolveu três municípios da Região Metropolitana. “Procuramos abranger estilos variados dentro dessa escolha. O bairro do Guamá foi o bairro que mais teve inscrição de artistas. Buscamos também artistas que ainda não tiveram a oportunidade de mostrar seu potencial. Então, não foi um processo fácil porque sabemos que ainda ficou muita gente talentosa de fora”, explicou o produtor.
Para Ruy, sua inquietação no “Stereocidade” é virar o holofote para o artista das bordas da cidade até que o centro do mundo os percebam. “O projeto é um pequeno vislumbre do que existe nessa Amazônia urbana periférica, em especial, na Grande Belém. Ele precisa ser ampliado. Muita gente boa ficou de fora, e isso dá certa angústia, mas também serve de combustível porque demonstra o que já sabemos: há um potencial enorme a ser apoiado”, conluiui o produtor.
O “Stereocidade”, contemplado no Prêmio Fundação Cultural do Pará de Incentivo à Arte e à Cultura, propõe a produção de um disco digital com faixas inéditas, criado, gravado e divulgado com a participação direta de músicos residentes em bairros da periferia de Belém, especificamente nos locais que integram o projeto Territórios da Paz, na região metropolitana: Cabanagem, Terra Firme, Jurunas, Guamá, Bengui e Condor, em Belém; Icuí-Guajará, em Ananindeua, e Nova União, em Marituba.
Os sete artistas foram selecionados após chamada pública, que atraiu dezenas de inscritos. “O projeto é um pequeno vislumbre do que existe nessa Amazônia urbana periférica, em especial, na Grande Belém. Ele precisa ser ampliado. Muita gente boa ficou de fora, e isso dá certa angústia, mas também serve de combustível porque demonstra o que já sabemos: há um potencial enorme a ser apoiado”, diz Ruy Montalvão.
Ruy tem uma trajetória importante na música paraense. Ao lado de Carlinhos Vaz e Erik Martinez, participa, em 2001, do nascimento do Coletivo Rádio Cipó, núcleo de produção de mídia sonora e pesquisas experimentais aliado à tecnologia de áudio digital caseira. Com o grupo, Montalva tocou em palcos nacionais e internacionais e apresentou ao mundo a cantora de carimbó chamegado Dona Onete e o quase centenário roqueiro Mestre Laurentino. Com o término do Coletivo Rádio Cipó em 2013, Ruy inicia seu projeto solo e a passa assinar como Montalva, uma homenagem à família materna e ao tio músico Roberto Montalvão, violonista das antigas.
Conheça os selecionados
A oportunidade da produção e registro sonoro que será veiculado em todas as plataformas digitais busca dar visibilidade a artistas que estão “fora do eixo”. O elenco traz Beni Oliver (Terra Firme), Jarede Almeida (Marituba), Margoal (Guamá), Nixon Jr (Benguí), Rafaela Travassos (Icuí-Guajará), Ruth Clark (Cabanagem) e Vinícius Leite (Condor). A gravação do disco iniciou na última segunda-feira, 23, com produção de Léo Chermont, um dos maiores instrumentistas do Pará na atualidade.
Beni Oliver é criador do Movimento Caixa Preta, que há 13 anos é resistência periférica por meio do hip hop. Jarede Almeida é músico e produtor. Atuou no grupo Coletivo Rádio Cipó por quase dez anos, integrando o time do CD “Formigando na calçada do Brasil", que trouxe Dona Onete e Mestre Laurentino.
Artista deficiente visual, Margoal tem a vida dedicada à cultura popular. Ao lado do esposo, Marcelino Galvão, criou o Boi Juruguá, e compõem toadas de boi. Carimbozeiro e percussionista, Nixon Junior é um dos fundadores do grupo cultural Canto do Aracuã, criado em 2017. Rafaela Travassos tem uma década de carreira como sambista, e já se apresentou em shows de grandes artistas do gênero, como Fundo de Quintal e Zeca Pagodinho.
Ruth Clark MC é rapper, ativista e compositora. Selecionada nos Festivais Elas No Comando, SeRasgum e Rio Oricuri, suas rimas exaltam o poder ao povo preto e sua vivência de mulher nortista. Vinícius Leite é músico e compositor, o blues é sua grande paixão. Estudou no Curro Velho com Nego Nelson, grande nome da música paraense.