MENU

BUSCA

Professor Marcelo Thiganá ensina os passos dos gêneros do brega

Pesquisa feita por ele registrou os subgêneros da dança desse ritmo paraense.

Enize Vidigal O Liberal

O brega, enquanto expressão cultural, sofreu influências rítmicas e, consequentemente, também na forma de dançar. O pesquisador, coreógrafo e professor de dança há 38 anos, Marcelo Thiganá reconheceu influências do compasso da ancestralidade indígena e até de dança do ventre na manifestação coreográfica do brega paraense, bem como registrou os diferentes subgêneros da dança do brega, que sofreram alterações com o passar do tempo.   

Marcelo Thiganá assina duas pesquisas junto com a professora Carla Rodrigues, intituladas "Brega, o tango do Pará" e "A dança do tecnomelody", que foram realizadas entre os anos 2000 e 2001, dentro do projeto "Danças do Pará", do Instituto de Artes do Pará. "O brega é uma música feita para dançar", define. 

Para compor a pesquisa, ele visitou as terras indígenas Kaiapó e Munduruku, no interior paraense. E, no documentário que compõe o estudo, ele já demonstra, com um casal de dançarinos, que o passo para frente, seguido do passo para trás, que definem a base da dança do brega, são uma herança indígena.  

Conheça um pouco da evolução nas formas de dançar o brega paraense com o vídeo que Marcelo Thiganá gravou especialmente para O Liberal, acompanhado da esposa Rennata Grande de Oliveira. 


Thiaganá explica algumas diferenças na forma de dançar os subgêneros do brega: como o brega original, o tecnomelody, o brega pop, o calipso, o brega da saudade, brega marcante e o brega arrocha. "O brega surgiu na beira do rio, na zona do meretrício, assim como o tango na Argentina". A comparação com o tango não foi á toa, Thiganá formou-se pelo Ballet de Tango de Buenos Aires. "(O brega) Nasceu no Pará dos Anos 70. O ritmo tinha um compasso binário lento. O brega foi mudando com o passar do tempo", completa. 

"No início dos Anos 90, houve uma modernização com os sintetizadores, introduzida pelo cantor e compositor paraense Tonny Brasil. Era o brega pop. Mas na sequência, veio o tecnomelody, influenciado pelas gangues de rua e os movimentos de briga, com uma batida do tecno e do rock, de uma dança mais jovem e de pares mais separados, sem corpos colados, só se toca os braços, com giros celerados", descreve. "A periferia caiu de amores por esse ritmo".

Em seguida, por volta do ano 2000, o calipso explodiu no Brasil com a Banda Calypso, conforme explica o professor. Os músicos subia ao palco acompanhados de dançarinos com uma coreografia nova, que era performática, pensada para apresentações e não para a dança de salão. 

Em seguida, surgiu o chamado brega marcante, que misturou o estilo original com o tecnomelody, que agregou giros à forma de dançar mais lenta e aconchegada. Esse estilo misturado surgiu nos bailes da saudade, quando a "volta ao passado" virou moda, segundo Thiganá. Ainda, teve o brega arrocha, influenciado pelo ritmo arrocha da Bahia, que trouxe um jeito de dançar mais lento e romântico, dançado com os corpos colados. 

Riqueza rítmica

"O brega é a música paraense de características pluri-culturais", de "riqueza rítmica e potencialidade coreográfica", "expressão cultural paraense reconhecida como valor artístico", descreveu o poeta, ensaísta e professor João de Jesus Paes Loureiro, que foi o orientador da pesquisa de Thiganá e Carla. 
"Não se deve estigmatizar uma expressão artística popular embrionária porque o nome que a designa adquiriu conotação pejorativa, nem porque muitas letras ainda expressem qualidade literária problemática. Essas letras revelam as condições sociais, linguísticas, temáticas possíveis na realidade de desigualdade de Belém", prosseguiu João de Jesus. 

"O brega é uma forma musical coreográfica em formação, ainda em sua pré-história, evoluindo para o seu aperfeiçoamento e depuração (...) Nenhuma forma de arte nasce pronta, exige acúmulo de experiências estéticas, diversidade de estilos artísticos, legitimação social de valor", finaliza o orientador.
 

Cultura