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Peça 'Dezuó, breviário das águas' narra o drama das barragens na Amazônia

O espetáculo tem exibição virtual neste domingo, 16, pelo Sesc São Paulo.

Enize Vidigal

O espetáculo de temática amazônica "Dezuó, breviário das águas", do dramaturgo paraense Rudinei Borges, terá exibição on-line e gratuita neste domingo, 16, dentro da programação de teatro #EmCasaComSesc, do Serviço Social do Comércio de São Paulo. O monólogo do ator paraense Edgar Castro e direção de Patricia Gifford, conta a história de um ribeirinho do rio Tapajós, no Baixo Amazonas, que vê a comunidade natal desaparecer com a barragem de uma hidrelétrica. A transmissão ao vivo inicia às 19 horas, pelo Instagram @sescaovivo e perfil do Sesc SP no Youtube.

“Dezuó, breviário das águas” está em cartaz há cinco anos, em São Paulo. A cenografia e a dramaturgia foram indicados ao Prêmio Shell em São Paulo, em 2016, e também a música e a direção foram indicados ao Prêmio Aplauso Brasil, no mesmo ano. Em 2019, o espetáculo cumpriu circuito por Belém, Marajó e Baixo Amazonas, a convite do grupo Usina.

A narrativa traz o personagem Dezuó chegando de canoa ao povoado em que nasceu, mas encontra o lugar submerso. Ainda é possível avistar o cruzeiro da pequena capela. Sobre o telhado da antiga casa, ele rememora o trajeto de expulsão de sua gente e lembranças da infância. Ele reza em voz alta, com narrativa afável e, por vezes, rude. Após a apresentação, acontece um bate-papo com Edgar, Rudinei e Patrícia. A classificação indicativa é de 12 anos. A peça ficará disponível um mês nas redes sociais do serviço.

O texto do espetáculo nasceu do desejo de Rudinei retratar as memórias da infância na cidade de Itaituba, no Oeste do Pará. O artista reside em São Paulo há alguns anos, assim como o ator Edgar, que é de Belém. “Inicialmente, meu desejo era fazer uma espécie de memorial, uma crônica autobiográfica. Mas, ao retomar o contato com a região que eu nasci, identifiquei que marcava a vida dos ribeirinhos a resistência à construção das hidrelétricas no Tapajós. Foi uma forma de me ligar através do teatro com aquela realidade”, conta o autor.

“As comunidades ribeirinhas moram há muito tempo nesses lugares, por gerações. Existe o medo do desaparecimento das comunidades, como ocorreu no Xingu. O que desaparece, além das casas, é a cultura, a memória, o afeto e a relação com a terra e as pessoas que elas estabeleceram ao longo do tempo, além dos danos ambientais”, observa Rudinei.

A instalação cênica, ao longo da peça, vai enchendo de água, de tal modo que em determinado momento o ator fica com a água no joelho e tudo o que ele construiu com barro e argila se destrói porque a água vai acabando. A peça foi adaptada para a transmissão ao vivo pela internet. A montagem terá o texto original completo, mas com encenação própria criada para o meio virtual.

O texto do espetáculo é marcado pela poesia e metáforas sobre a tragédia humana que aflige os povos originários da Amazônia em nome do progresso. “Sabemos que as hidrelétricas são importantes, mas como elas se estabelecem é questionável. O Pará e a Amazônia já têm hidrelétricas suficientes para gerar energia, mas essa energia vai para sustentar outros lugares do país. É possível encontrar meios menos agressivos para pensar a eletricidade”, defende.

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