Onde estão os herdeiros de Eneida de Moraes?

Editoras procuram sem sucesso parentes da escritora paraense Eneida de Moraes na busca de autorização para reeditar as obras

Vito Gemaque
fonte

A herança cultural que a escritora Eneida de Moraes (1904 - 1971) deixou para os paraenses infelizmente não pode ser reeditada pelo empecilho legal dos direitos autorais. A escritora reconhecida em todo o Brasil está há anos com edições esgotadas e somente podem ser encontradas em sebos. No mínimo duas editoras paraenses já demonstraram interesse por reeditar as obras de Eneida, mas cancelaram os projetos por não encontrarem familiares da escritora para que autorizassem as publicações.

Leia também: Conheça a história de Eneida de Moraes, escritora paraense que faria 115 anos nesta quarta

Autora de 11 obras Eneida influenciou a literatura e o jornalismo com crônicas e romances. Amiga e contemporânea de outros grandes escritores modernistas como Carlos Drummond de Andrade, Dalcídio Jurandir e Graciliano Ramos, a escritora tem pouquíssimos exemplares disponíveis na internet apenas do livro 'História do Carnaval carioca' (1958) que variam de R$ 78 a R$ 590. Outros livros famosos como os de crônicas ‘Aruanda’, ‘Cão da Madrugada’ e o autobiográfico ‘Banho de Cheiro’ não são encontrados em lugar nenhum.

A editora da Universidade do Estado do Pará (EDUEPA) tentou reeditar as obras de Eneida pelo selo ‘Memórias Reeditadas’, em 2010. O selo dedicado a escritores paraenses clássicos, que tem obras esgotadas, já publicou exemplares de Dalcídio Jurandir e José Veríssimo. A editora chegou a buscar o contato dos familiares de Eneida, porém não obteve sucesso.

Mais recentemente a editora de Bragança Pará-grafo, especializada em reedições de autores paraenses importantes, também encontrou o mesmo problema. Em 2018, a editora tentou encontrar um parente de Eneida, mas como não conseguiu suspendeu o projeto. A Pará-grafo tem feito uma coleção completa com as obras de Dalcídio Jurandir. 

“A gente tem o projeto, mas ainda não tocou para frente por causa dos direitos autorais. A gente não conseguiu contato com os detentores dos direitos. Por enquanto está assim, a gente tem muita vontade de fazer um projeto de editar algumas obras dela”, afirma editor-sócio da Pará-grafo, Deni Giroto.

Para o escritor e jornalista João Carlos Pereira, os escritores paraenses são relegados ao esquecimento pela sociedade. "Ainda se ouve falar dela porque tem uma pracinha perto da Unama [Universidade da Amazônia], no bairro da Pedreira, que ela chamava 'do bairro do samba e do amor'. Ela amava Belém por inteiro, e Belém é muito ingrata com todos os seus grandes escritores. Ninguém lembra do velho Bruno de Menezes, da Lindanor. É uma luta para manter viva a memória dessas pessoas”, lista. Outros escritores esquecidos segundo João Carlos são Ober Campos Ribeiro, Dulcineia Paraense, Pinajé e Antônio Tavernard.

A atualidade evidente das obras de Eneida propiciam reedições para uma nova geração que ainda não a conheceu. “Não é só das personagens das quais ela fala, mas na maneira que ela fala das lutas políticas da mulheres, que ainda existem. É uma obra atual, ela não parou no tempo e não parou no espaço”, enfatiza o pesquisador da obra de Eneida de Moraes da Universidade da Amazônia (Unama) José Guilherme Castro.

O escritor João de Jesus Paes Loureiro, que foi amigo pessoal de Eneida e incentivado por ela quando jovem, defende com veemência as reedições. “Ela precisa de reedições dos seus trabalhos. A obra dela não está limitada ao seu tempo de origem. A obra de Eneida até hoje é expressão pioneira da criatividade literária da mulher interpretando o seu tempo, e elaborando uma reflexão criativa, de força literária e poética na prosa cujos os valores permanecem atuais e perenes”, diz.

Os jovens devem ter a oportunidade de conhecer um dos maiores nomes da literatura paraense. "Eu acho que não sendo uma obra extensa, mas sendo integrada no sentimento e pensamento eu creio que é fundamental conhecer a obra integralmente, pelo seu conjunto e por sua grandeza”.

Entretanto, sem a negociação com a família, as obras de Eneida de Moraes somente poderão ser publicadas 50 anos após a data da sua morte, quando o material entra para o domínio público, de acordo com a legislação brasileira. Este legado ganha uma súplica para novas edições. “Até se conseguires o contato de alguém [da família] passa para a gente”, pede o editor Deni para o repórter.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱

Palavras-chave

Cultura
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM CULTURA

MAIS LIDAS EM CULTURA