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'Não sou como as outras garotas': entenda o termo 'pick me girl'

Apesar do tom de piada, especialistas alertam: esse rótulo pode afetar negativamente, sobretudo meninas e adolescentes

Thaline Silva

O termo “pick me girl” se popularizou nas redes sociais como uma crítica a comportamentos de mulheres que buscam se destacar aos olhos dos homens, muitas vezes em detrimento de outras mulheres. 

A expressão, que vem do inglês “pick me” (algo como “me escolha”), descreve quem age para parecer “diferente das outras garotas” para conquistar aprovação masculina.

No entanto, apesar do uso aparentemente inofensivo em memes e piadas, especialistas alertam: rotular alguém dessa forma pode ter efeitos negativos, especialmente para meninas e adolescentes em formação.

O que há por trás do termo?

A psicóloga clínica Regine Galanti, autora do livro “Anxiety Relief for Teens”, explica que identificar alguém como uma “pick me girl” pode parecer uma crítica simples, mas, na prática, reforça um julgamento social que dificulta o processo de amadurecimento. “É difícil identificar pessoas que se enxergam assim, porque o termo é visto como um insulto”, afirma. “Elas não dizem ‘sou uma pick me girl’, mas sim: ‘alguém me chamou assim, mas não é verdade’.”

 

A origem da expressão remonta a um episódio da série Grey’s Anatomy, em que a personagem Meredith Grey implora a um homem que escolha ela em vez da esposa com a frase: “Pick me. Choose me. Love me.” Desde então, o termo passou a representar mulheres que parecem implorar por validação — especialmente dos homens —, reforçando a ideia de que elas não são como “as outras garotas”. 

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“Não sou como as outras garotas”

Nas redes sociais, o estereótipo se multiplica em memes com frases como “prefiro pizza a salada, diferente das minhas amigas” ou “não gosto de maquiagem, sou mais simples”. 

A ironia é que, ao mesmo tempo, em que a crítica tenta combater o machismo internalizado — quando mulheres reproduzem padrões machistas sem perceber —, ela também pode criar novos mecanismos de opressão e policiamento de comportamento entre as próprias mulheres.

“A maioria dessas garotas provavelmente vai superar essa fase, mas agora as transformamos em memes. Isso só faz com que se sintam pior”, afirma Galanti. Ela aponta que esse comportamento é comum na adolescência, um período de descoberta de identidade. Nessa fase, muitos jovens ajustam seus gostos e atitudes para se encaixar em determinados grupos. No caso das meninas chamadas de “pick me girls”, o problema é que sua tentativa de pertencimento vira motivo de vergonha pública.

Os cuidados com o uso do termo 

Além disso, o rótulo pode ser injusto com meninas que, de fato, gostam de atividades tradicionalmente vistas como “masculinas”. Galanti observa que, ao dizer que prefere futebol à maquiagem, por exemplo, uma garota pode ser rapidamente tachada de “pick me” — mesmo que esse gosto seja genuíno. “Isso cria um paradoxo: ser você mesma pode virar motivo de crítica”, diz.

Apesar da aparência inofensiva, o uso do termo merece reflexão. Quando alguém rotula outra pessoa de “pick me girl”, pode acabar reforçando estereótipos e incentivando rivalidades femininas. “Essas meninas geralmente não estão tentando rebaixar outras mulheres, mas apenas se enturmar em outro grupo”, afirma Galanti. “Chamá-las por isso só as faz se perguntar: ‘O que eu faço agora?’”

O termo, portanto, abre espaço para um debate maior sobre autoestima, cultura de aprovação e os papéis que a sociedade impõe às mulheres. Embora tenha surgido como uma crítica ao machismo internalizado, ele pode se transformar facilmente em mais uma ferramenta de opressão, dificultando o caminho de quem continua tentando entender quem é.

(Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Enderson Oliveira, editor web de OLiberal.com)

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