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Aprenda como tirar da cabeça uma "música chiclete" que não te deixa em paz

Hits pegajosos são canções que viram febre no Brasil e acompanham a cultura musical do país

João Paulo Jussara

O carnaval ainda nem começou e você já se pegou tentando esquecer o refrão “o nome dela é Jenifer, eu encontrei ela no Tinder” ou “piscininha, amor, piscininha, amor”? Já ficou por horas, dias ou até semanas lutando com a própria mente para tirar da cabeça “que tiro foi esse?”, nos últimos meses, ou “ai, se eu te pego”, há alguns anos, e outras “músicas-chiclete” que parecem terem sido feitas especialmente para “grudar”?

Esse fenômeno, batizado de "verme de ouvido" (ou "earworm", em inglês), foi estudado pelo pesquisador americano James J. Kellaris, da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, e é definido como a "incapacidade de desalojar uma canção e impedir que ela se repita em sua cabeça". Isso acontece porque essas canções causam uma espécie de "coceira" no cérebro (ou comichão cognitivo), que só é aliviada com a repetição daquele som. É por isso que às vezes você se pega cantarolando involuntariamente uma dessas músicas.

É tudo muito rápido. Ao escutar apenas uma vez uma música-chiclete, o córtex auditivo já capta e memoriza o padrão sonoro repetitivo que existe naquela canção. Depois de algum tempo, esse padrão se repete na nossa mente e faz com que o cérebro tente "completar" a canção, gerando um "looping cerebral" que pode se estender por muito tempo, chegando a incomodar. Por isso, não adianta se esconder. Basta ligar a televisão, o rádio, ou mesmo ouvir alguém cantando uma "música-chiclete" para correr o risco de experimentar o fenômeno do "verme de ouvido". 

O estudo identificou ainda que algumas pessoas estão mais predispostas a experimentar o fenômeno, como músicos, pessoas que se preocupam muito e também povos que têm mais contato com a música. O pesquisador encontrou ainda outro dado curioso: as mulheres ficam mais irritadas e frustadas do que os homens quando estão com uma "música-chiclete" na cabeça.

Para a psicóloga paraense Silvia Vasconcelos, além de ativar as áreas do cérebro relacionadas aos sons e movimentos, a música também ativa as áreas relacionadas às emoções. “Músicas são como ‘torneiras’ em nosso sistema límbico (unidade responsável pelas emoções e comportamentos sociais). É por isso que ela é parte de tudo o que fazemos. Está fortemente ligada aos nossos sentimentos”, explica. Tudo isso ajuda a fixar essas melodias e letras em nossas cabeças.

A pesquisa desenvolvida por James J. Kellaris sugere que as músicas caracterizadas pela simplicidade, repetição, e que fogem às expectativas do ouvinte são as que têm mais probabilidade de "grudar" (lembra de 'eu quero tchu, eu quero tchá' ou 'bara bara bara, bere bere bere'?).  Isso acontece porque o nosso cérebro registra com maior facilidade as memórias a partir de um esquema de associação. E as letras que possuem mensagens mais simples e de fácil memorização, neste caso, são a cereja do bolo. É difícil escapar desta receita.

Ritmo

O músico, compositor, professor e pesquisador paraense Salomão Habib afirma que certas melodias estão relacionadas a momentos diversos vivenciados pela mente humana, que acabam sendo associadas a situações boas ou mesmo circunstanciais. Segundo Habib, as "músicas-chiclete" repercutem na mente como uma fórmula que fica ecoando no subconsciente repetidas vezes, e na maioria dos casos, de forma involuntária. "Melodias fáceis e de ritmo marcante tendem a grudar na mente como um mantra. Os hindus e mesmo os indígenas fazem com facilidade esse trabalho de repetição melódica para atingir os deuses e o nirvana. Mas este é um caso pensado e fruto de crescimento espiritual", ressalta o professor.

Ainda de acordo com o músico, no mundo ocidental ocorre uma fixação melódica involuntária do cérebro, que repete certos trechos musicais por horas e até dias, independentemente da vontade humana. "Quando a melodia é bonita isso é uma benção, mas quando trata-se de um ritmo ruim com melodia péssima e letra pior ainda, pode acabar virando um pesadelo sem precisar estar dormindo", conclui.

A "fórmula" usada para compor "música-chiclete" é um prato cheio não só para a indústria musical, que cada vez mais cria hits que fixam na mente do ouvinte, mas também para a indústria do marketing. É comum ouvir jingles de propagandas de televisão e rádio com músicas que grudam no cérebro. Quem não lembra da musiquinha "pôneis malditos, pôneis malditos, lá lá lá lá lá", do comercial de uma marca de carros, veiculado há alguns anos atrás? Ou do número 3201-3000 (bibi), que era repetido incessantemente em um comercial de uma farmácia paraense? Se você lembra, certamente leu esses trechos no ritmo das canções.

Como se livrar do "earworm"

Em alguns casos mais extremos, essas canções podem se tornar um grande incômodo. Depois de várias horas ou dias com o trecho de uma música na cabeça, dormir pode se tornar problemão. É só fechar os olhos que o "looping" aparece. De acordo com James J. Kellaris, não existe uma receita infalível que interrompa o fenômeno do verme de ouvido de maneira muito rápida e eficaz. Porém, algumas dicas podem ser seguidas para que você consiga se livrar de uma música-chiclete.

1 - Ocupe a sua mente: Leia um bom livro ou assista a um bom filme. Enquanto o cérebro está ocupado, fica mais difícil de se concentrar na música que está tocando em sua cabeça. Você também pode optar por conversar com alguém, jogar videogame ou qualquer outra atividade que mantenha sua mente distraída.

2 - Ouça a música inteira: Na maioria dos casos, as pessoas que estão com uma música-chiclete na cabeça, memorizaram apenas o refrão daquela canção. Se for este o seu caso, sacie a sua curiosidade e escute a mesma música até o final. Deste modo, o cérebro vai saber o que há por vir depois daquele trecho "pegajoso", interrompendo o looping cerebral. Porém, se você já escutou muito a canção e conhece bem todas as partes dela, a dica é a inversa: pare de escutá-la imediatamente.

3 - Escute outra música: Essa é, geralmente, a dica mais seguida por quem passa pelo fenômeno do verme de ouvido. Escute outras canções. Isso vai fazer o seu cérebro ir esquecendo, aos poucos, a música que estava se repetindo nele antes, substituindo-a por outra. Não esqueça de escolher uma canção em que você se identifique, para não se estressar novamente.

Exemplos de "músicas-chiclete"

Agora que você já sabe o que é o fenômeno do "verme de ouvido" e consegue identificar uma "música-chiclete", aqui vai uma lista de canções que têm alta probabilidade de grudar na sua cabeça:

Piscininha Amor - Whadi Gama (2019):


Jenifer - Gabriel Diniz (2018):


Envolvimento - MC Loma e as Gêmeas Lacração (2018):


Que Tiro Foi Esse? - Jojo Maronttinni (2017):


Ai, Se Eu Te Pego - Michel Teló (2011):


Bang - Anitta (2015):


Rebolation - Parangolé (2009):


Sorry - Justin Bieber (2015):


Despacito - Luis Fonsi (feat. Daddy Yankee) (2017):


Who Let The Dogs Out - Baha Men (2000):


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