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Hip Hop é porta aberta à criatividade das ruas

Cultura antes ignorada começa a ganhar espaço

Bruna Lima/Redação Integrada

O Dia Mundial do Hip Hop, comemorado hoje (12), é propício para falar de cultura de rua, preconceito e criatividade. Considerado como a voz das periferias, o Hip Hop nasceu nos guetos Nova-Iorquinos nos anos 70 e vem invadindo fronteiras. Há registros de que uma década depois essa cultura nascente das ruas começou a fervilhar em Belém e, hoje, só vem ganhando mais seguidores e seguidoras.

É possível encontrar a arte em diversas línguas e em diferentes abordagens, pois vem fazendo escola pelo mundo. Ele é constituído pelos elementos: Dj, MC, break e grafite e vem incluindo novos adeptos. Já que uma das principais mensagens do Hip Hop é a inclusão.

Por falar em inclusão, O Liberal conheceu a história do MC Neto, um jovem de 24 anos que vem usando a sua arte para obter o sustento da família. O palco dele são os coletivos e o público, os passageiros. Algum leitor aqui já deve ter se deparado com MC Neto pelos ônibus, ele percorre de Marituba a Belém acompanhado de um pequeno rádio, que ajuda a dar ritmo às suas rimas.

O jovem artista sempre teve contato com a cultura de rua, mas o que era apenas diversão passou a ser modo de sustento de vida.  Ele trabalhava como garçom, mas no início desse ano ficou desempregado e ficou batendo cabeça de como faria para levar dinheiro para dentro de casa.

“Tenho talento, sou jovem e posso produzir algo bom”, foi quando ele resolveu ir para os sinais de trânsito e retornar com a dança hip hop, antiga brincadeira de criança. Mas teve um certo dia que o retorno financeiro foi zero. Ele voltou a bater cabeça e teve uma outra ideia: a de entrar nos coletivos e mandar algumas rimas.

Apenas com coragem e vontade de ganhar o sustento ele pediu autorização para um motorista e começou com as rimas. “Foi algo bem cru, bem simples. Foi falando da minha história. Os passageiros gostaram bastante. Todo mundo aplaudiu e deu um dinheiro legal”, recordou o rapper. 

Nesse mesmo dia, já em casa, no município de Benevides, Neto começou a estudar mais e se aprofundar nas rimas. Ele também passou a participar mais de batalhas na companhia de amigos como forma de praticar a arte.

Todos os dias o jovem sai de casa e começa o trabalho no município de Marituba. Ele passa por vários coletivos até chegar em Belém. Ele costuma traçar uma meta e quando atinge se sente despreocupado para o retorno junto a família.  “ Eu conto com a ajuda de motoristas. Eu não gosto de entrar nos coletivos sem pedir. Levo muito não, mas também recebo muita ajuda. Muitos até gostam porque torna a corrida mais leve e divertida”, conta o MC.

A arte do Hip Hop por muito tempo enfrenta o estereotipo de arte marginal. É uma parcela da população vista, em muitos casos, como ameaça. Pelas suas roupas, tatuagens, acessórios e demais formas que são julgadas pela sociedade. “É comum de a gente escutar que ao completar maioridade vamos morrer ou vamos para trás das grades, mas nós estamos aqui e estamos provando que somos artistas. Isso é preconceito. O que para algumas pessoas é vagabundagem pra gente é arte e é nosso modo de tirar o sustento”, pontua o artista.

Essa visão, MC Neto consegue enxergar nos primeiros momentos do contato com seu público, no interior dos coletivos, mas a partir do momento que ele começa a falar e fazer as rimas ele também percebe a mudança nos semblantes. “Isso me deixa muito feliz, porque enxergo a aceitação das pessoas de perto. Olhando no olho de cada uma. Elas vibram com esse contato com a arte” completa o jovem.