Entre a pele e o espírito de Zélia Duncan, os 40 anos de carreira questionando o mundo
Artista celebra tempo de carreira com novo álbum, que se propõe a ser um registro do tempo atual
Traduzir as dúvidas e dores do momento atual em música foi a forma que Zélia Duncan encontrou de celebrar os seus 40 anos de carreira. Com o lançamento do álbum “Pelespírito” na última sexta-feira (21), ela comemora a possibilidade de se expressar por meio da música ao longo destas quatro décadas. O disco de 15 faixas também marca o retorno de Zélia à Universal Music, companhia pela qual lançou álbuns como “Sortimento” (2001), “Eu Me Transformo em Outras” (2004), “Pré Pós Tudo Bossa Band” (2005), entre outros.
Quando o Brasil segue ainda enfrentando duramente a pandemia de covid-19, a festa da carreira de Zélia ganha outros ares: sem deixar de ter música, mas também mantendo os pés na realidade. Em entrevista exclusiva ao jornal O Liberal, a artista falou sobre a celebração em meio a um momento caótico.
A cantora relembra o momento em que conheceu a atriz Bruna Linzmeyer, para as gravações do curta-metragem “Paciência Selvagem”, de Érica Sarmet. O filme abordava a visibilidade lésbica, conta Zélia; e foi nesse momento que o encontro de geração tomou um significado engrandecedor.
“Eu era a pessoa que representava uma homenagem a Vange Leonel, uma mulher ativista maravilhosa, escritora e cantora, que infelizmente já morreu. Eu não a conheci, mas o nome do meu personagem no filme era Vange, e a Bruna era uma das atrizes. E ela é uma das pessoas, junto com aquelas outras meninas ali, que me ensinaram muita coisa, mas que ao mesmo tempo me tratavam como uma influência para elas. Então acho que a coisa mais legal da vida são os encontros, a gente valorizar os encontros e reconhecer neles o que eles têm para nos dar”, conta.
O momento refletiu ainda em uma das frases da canção “Pelespírito”. “Falei ‘tô musa, to muda / tô nadando de braçada nas palavras’. E uma das palavras é orgulho. Uma das palavras mais importantes da minha vida, e que quero deixar para quem me ouve. Isso tem que permear nossa vida e nos dar coragem”, completa.
Conexão paraense
Ao longo desses 40 anos, Zélia fez alguns shows na capital paraense, pela qual ela diz ter um carinho especial. Mas essa relação ficou um pouco mais estreita no último ano, isto por conta de uma parceria com o paraense Arthur Nogueira. Juntos, eles fizeram lives, participaram de programas, fizeram um show conjunto para a edição virtual do Festival Se Rasgum, e também gravaram a canção “Dessas manhãs sem amor”, lançada em abril de 2020.
“Quem me colocou em contato com ele foi o DJ Zé Pedro, e a gente começou independentemente a se falar. Eu falei para ele ‘nossa, que voz linda’, ele falou algumas coisas legais para mim sobre o meu trabalho. Um belo dia ele me mandou uma melodia, e virou uma música que eu adoro, ‘Nessas Manhãs sem amor’”, conta.
“A primeira vez que nos encontramos foi para esse festival, e eu fiquei muito honrada de ser para Belém. Eu adoro essa terra, adoro toda atmosfera que Belém tem. É um lugar muito diferente do resto do Brasil, é um lugar perfumado, e o Arthur foi uma dessas alegrias que Belém me deu. Já sou muito amiga de Leila Pinheiro, e o Arthur foi o jovem artista que Belém me deu, um parceiro e uma voz muito especial”, descreve Zélia.
Palavras-chave