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'Memorabília': em primeira exposição individual, Felipe Ferreira passeia por memórias arquitetônicas

Aberta na galeria Itaoca, mostra resgata cenários e itens da arquitetura popular com toque de afeto

Lucas Costa

As memórias arquitetônicas de uma infância que passa por diferentes lugares, traduzidas em ambientes preenchidos de nostalgia, dão forma à exposição “Memorabília”, a primeira individual de Felipe Ferreira. Aberta atualmente na galeria Itaoca, localizada no Rebujo (Rua São Boa Ventura, 171, Cidade Velha), a mostra pode ser visitada até 28 de dezembro.

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“Acabei esbarrando nos álbuns de família e comecei a me alimentar o do que estava ali, isso por volta de 2020”, relembra Ferreira, que acabou passando também por um momento de ressignificação destas memórias após o falecimento do avô, em maio deste ano.

“Em um momento de família reunida, voltamos a mexer nos álbuns de família, e eu percebi naquele momento que era o que eu queria abordar nas minhas obras”, lembra. Este também foi o ponto de partida de uma pesquisa de memórias, tanto suas quanto de familiares.

“Quando começo a ter esse caminho, aos poucos ele vai se expandindo mais ainda, porque ele vai tendo outras referências, e aos poucos fui percebendo que podia abordar mais coisas, trazer outros ambientes, outros lugares que frequentei, casas de parentes distantes. Então o processo foi se expandindo de forma espontânea, conforme foi entrando na vibe dessa pesquisa do álbum da minha família”, conta.

“Memorabília” traz a formação de arquiteto de Felipe para ainda mais perto de sua produção artística. Nas obras, ele explora não só as memórias por meio da reprodução de itens célebres da arquitetura popular, como a cadeira de macarrão, o vitrô basculante ou os pisos feitos de cacos de cerâmicas; mas brinca também com perspectivas no que chama de “ambientes não preenchidos”, que aguardam pelas lembranças do próprio espectador.

“Queria deixar essa liberdade para quem enxerga completar com suas próprias impressões, memórias e lembranças, desses ambientes em que também são comuns à maioria das pessoas, já que são símbolos e ícones que a gente consegue identificar em muitas casas que convivemos em algum momento da nossa vida”, explica o artista.

Mateus Nunes, que assina a curadoria de “Memorabília”, avalia o trabalho de Ferreira para a exposição como uma “árdua e delicada missão de pintar uma atmosfera”. “Ferreira desvela, em suas pinturas, nossa própria intimidade, o que acontece dentro de casa, sem mesmo bater na porta. Partindo desse forte lirismo imagético, as pinturas versam, sobretudo, acerca da memória, como se escutássemos a Sonata ao Luar: transbordante e plácido ao mesmo tempo. Sem figuras humanas, ao optar por criar ou reproduzir suas atmosferas melancólicas, Ferreira faz com que os protagonistas das cenas, nunca pintados, materializem-se à frente do quadro: somos nós, os observadores, os habitantes destas memórias”, diz Nunes, em seu texto curatorial.

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