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Ensaio 'Manifesto Iaçá' evidencia a violência contra a mulher

A mostra está nas ruas do centro comercial e vai ser exibida na Mostra Sesc Pará, no Youtube.

Enize Vidigal O Liberal

A artista visual, fotógrafa, atriz, pesquisadora e ativista Tarsila Maquiavel faz das ruas de Belém o cenário da exposição do seu novo projeto “Manifesto Iaçá”. O trabalho consiste em fotografias de mulheres vítimas de violência doméstica e familiar que tiveram os rostos pintados com açaí, como se tivessem sido lavados pelo sumo do fruto apreciado que mata a fome de muitos paraenses. Para as mulheres retratadas, o projeto consistiu numa espécie de “ritual de cura” do trauma sofrido. Mas para a artista – que encara a dualidade imposta pelo autorretrato, na condição de autora e também de vítima - o “Manifesto Iaçá” é, sobretudo, uma forma de denúncia e de repúdio da violência contra a mulher no seio da sociedade, começando pela Rua Santo Antônio no movimento centro comercial.

Os cartazes com os retratos de cinco mulheres pintadas com açaí, incluindo Tarsila, estão pregados por essa rua com frases que revelam a opressão sofrida, tais como: “Não podia amamentar porque ele não queria” e “Não podia falar porque ele não queria”. As outras personagens são Assucena Pereira, Neire Lopes, Penélope Lima e Rosy Lueji, todas “mulheres em condição de vulnerabilidade socioeconômica, que precisam ser ouvidas e devem ser acolhidas”, descreve a autora.

 O açaí entra como um elemento estético do trabalho, mas também como ingrediente de um ritual, “quase espiritual de lavar a alma, lavar as nossas dores”, como descreve, além “demarcar o território da periferia em Belém” em que o açaí é a base da alimentação. “O projeto também é inspirado na força e potência de Iaçá, mulher indígena a Lenda do Açaí na Amazônia, que teve o filho recém-nascido assassinado dentro de um regime imposto na aldeia diante da escassez de alimento. Mas, sobre a cova do filho dela, nasce a primeira palmeira do açaí, que matou a fome dos que estavam ali”, conta.

O projeto de Tarsila consiste também em um vídeo sobre o processo criativo dela e o relato das mulheres retratadas sobre a violência sofrida. “Manifesto Iaçá” teve o patrocínio do Serviço Social do Comércio 2020, por meio da Lei Aldir Blanc, e será disponibilizado ainda este mês no canal oficial da Mostra Sesc Pará no YouTube.

O Manifesto ganha importância ainda maior diante das estatísticas que apontaram o crescimento da violência contra as mulheres e de feminicídio durante a pandemia pela Covid-19. “O principal tema que uso do meu processo criativo é falar sobre as mulheres. Dessa vez eu trago a violência doméstica porque por muito tempo vivenciei a violência doméstica na casa que cresci”.

“Espalhar os cartazes do manifesto pela cidade é uma forma de falar sobre as violências que acontecem cotidianamente. Quando a gente fala, provoca uma discussão, incentiva a reflexão, é uma das formas de se trabalhar o enfrentamento da violência doméstica. Porque quando não se fala, é como se não existisse”.

“Espero que esse manifesto possa ajudar as mulheres a denunciar as violências vividas, se tornar um condutor de mudanças positivas, de reflexões e questionamentos sobre a violência contra mulher, que nós mulheres não sejamos mais violentadas só pelo fato de sermos mulheres e que possamos olhar e acolher umas as outras”, acredita.

Tarsila Maquiavel assina a direção, fotografia, filmagem, lambe e edição, tendo Nelson Carvalho como assistente de fotografia e de filmagem e também produção. 

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