Elisa Arruda convida para reflexões sobre o isolamento e a condição da mulher na exposição 'em casa'
O projeto é uma realização do Banco da Amazônia, contemplado no Edital de Pautas do Espaço Cultural Banco da Amazônia (2021)

O isolamento vivido ao longo desses meses fez com que passássemos mais tempo em casa, percebendo melhor o ambiente que habitamos e nossa integração com este espaço. Inspirada por essa experiência, a artista paraense Elisa Arruda abre hoje para visitação virtual a exposição “em casa”, um trabalho que retrata de forma singular e sensível a existência - sobretudo, da mulher - dentro do ambiente doméstico. O projeto é uma realização do Banco da Amazônia, contemplado pelo Edital de Pautas do Espaço Cultural Banco da Amazônia 2021. A abertura da exposição ocorre às 18h desta terça-feira, 16, no Espaço Cultural do Banco em Belém, e o público poderá participar gratuitamente do vernissage virtual com transmissão ao vivo no YouTube e Facebook. Devido ao lockdown que começou a vigorar na Região Metropolitana de Belém, o espaço segue fechado para visitação.
Sob a curadoria de Vânia Leal, a exposição "em casa" aprofunda e adapta para o cenário pandêmico as reflexões sobre a condição da mulher presentes desde 2015 no trabalho da artista que vive e trabalha entre Belém e São Paulo. Com 30 novas obras, muitas das quais produzidas no período de isolamento social imposto pelo novo coronavírus, Elisa produz uma narrativa na qual o ponto de partida é o seu próprio olhar, enxergando a figura feminina com uma afetividade acolhedora, colaborativa e política, reivindicando espaços, discursos e novas possibilidades de se ver e reconhecer. Ela explica que a intimidade do lar sempre esteve presente em sua produção, mas no último ano, o contexto global fez essa influência ficar mais evidente.
“Eu sempre tive um processo muito íntimo de produção, e isso independente das questões ligadas ao ambiente doméstico, à casa, à rotina da mulher. Antes da pandemia, eu produzia em ateliês em São Paulo mas em 2020, tudo isso ficou muito fechado, e eu tive que trazer essa minha produção para dentro de casa. Eu consegui uma prensa de gravura em metal, e comecei a imprimir minhas gravuras em casa. Todo mundo começou a fazer isso em diferentes escalas, mas todo mundo teve que viver um pouquinho mais esse ambiente da casa. E naturalmente, esse tema, esse sentimento de estar confinado, sem ver as pessoas, de estar entre as paredes - até para falar com a pessoa em vídeo, você vê só um quadrado, recortado, fechado - acabou, de alguma forma, atravessando o meu trabalho”, conta a belenense que mora há seis anos na cidade do sudeste.
Sobre o título da exposição, além de inspirado pelo isolamento, a artista conta que ele faz alusão às questões domésticas, para a qual as mulheres são empurradas desde a infância. "A domesticidade é atribuída à mulher em escala superior, se comparada ao homem. Entende-se em nossa sociedade que as tarefas e exigências da casa — a cozinha, a faxina, os afazeres provenientes dos filhos, dentre outros — são deveres efetivamente femininos. Dentro dessa realidade, convido a questionamentos sobre a vida, sobre o amor, sobre o feminino e seus atravessamentos", conta Elisa Arruda, que em suas obras recentes, vem retratando o espaço que a rodeia e seus elementos de forma cada vez mais humanizada.
Para reforçar ainda mais essa mensagem sobre o ambiente que habitamos, “em casa” é uma exposição que divide a galeria do espaço cultural em cômodos, como sala, cozinha, lavanderia e um quarto. “Eu acho que é uma necessidade para o trabalho esse relacionamento com essa casa que a gente está dentro no período pandêmico. Não no sentido de estar enaltecendo, mas simplesmente mostrando como isso nos sugou. Todo mundo teve de estar entre essas paredes, Então, na exposição, eu quero mostrar de maneira íntima como esse processo todo de estar dentro de casa atravessou meu trabalho”, elabora Elisa, que disse ainda que a dimensão do projeto pediu que ela transitasse pelas mais diversas. O desenho é a base, mas a gravura, a fotografia e o vídeo-registro, aliados a objetos e à matéria física do seu cotidiano, surgem como suportes.
“Tudo depende da maneira como aquele material ou aquela técnica é significativa para a mensagem que você quer colocar no trabalho. Eu tenho muito isso em mente: o que importa para mim é o que eu quero falar com o trabalho. Dependendo do que eu quero e preciso falar, eu vou vendo, dentro dessas técnicas e suportes, o que se aplica mais, o que eu posso usar. Não tem esse apego a uma técnica específica. Eu gosto, inclusive, de transitar por elas”, confessa. “Usei gravuras, pinturas, objetos instalativos, uma sala interativa com mobília, trabalhos datilografados, uma parede toda só com palavras. Essa exposição está bem misturada, com diversas técnicas”, comemora a artista paraense, ao convidar o público para conhecer melhor essa casa que ela construiu.
Serviço:
Exposição ‘em casa’, de Elisa Arruda.
Curadoria: Vânia Leal.
Vernissage virtual: 16 de março de 2021, às 18h, com transmissão ao vivo pelos canais youtube.com/bancoamazonia e facebook.com/bancoamazonia;
Visitação gratuita no Espaço Cultural do Banco da Amazônia (Av. Pres. Vargas, 800 - Campina) segue suspensa até o fim do lockdown.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA