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Projetos mudam realidade social de paraenses por meio do audiovisual

Ações usam ferramentas de cinema e TV para mudar as estatísticas que excluem jovens, negros e pessoas em vulnerabilidade social de acesso à cultura

Caio Oliveira

Um país enorme como o Brasil também é marcado por desigualdades gigantescas, que podem ser vistas nas mais diversas áreas. Negros, pobres e nortistas são alguns dos que ficam por último nessa escala excludente, que limita o acesso à cultura, lazer e educação. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, 39,9% dos brasileiros moravam em municípios sem, ao menos, um cinema, e quase metade das pessoas com escolaridade mais baixa vivia em municípios sem nenhuma sala de cinema.

No Pará, projetos tentam mudar um pouco essas estatísticas, promovendo o acesso de pessoas em situação de vulnerabilidade social ao audiovisual. Esse é o caso do coletivo Tela Firme, que atua no bairro da Terra Firme desde 2014, produzindo material em vídeo para divulgar o que há de melhor em sua gente.

“O Tela Firme surge como mídia alternativa, pra se contrapor aos grandes meios de  comunicação, que por vezes, apenas noticiavam o bairro pelo viés da criminalidade, da violência, o que ocasionava vários prejuízos à comunidade, na questão da autoestima e econômica. O coletivo surge como uma resposta, pra mostrar que na Terra Firme existe violência, mas não é só isso. Existe muita coisa boa na questão cultural, social, e a gente procura mostrar o poder da juventude, a força da comunidade”, diz Harrison Lopes, um dos membros do coletivo.

Segundo Harrison, o Tela Firme capacita os habitantes do bairro, cedendo as ferramentas para que os moradores contem suas histórias e possam usar o audiovisual para mudar sua realidade. “Um dos objetivos é ressignificar a periferia, levar autoestima às pessoas através do que elas mesmas produzem. É possível fazer uma comunicação diferente, usar um celular pra produzir conteúdo, divulgar seu trabalho, seu comércio, e a gente ensina o bom uso dessas ferramentas que estão na palma da mão, de forma conscientizada”, explica.

Cultura transforma realidade

Em outro dado que ilustra a desigualdade no audiovisual no Brasil, em 2019, o IBGE divulgou que, enquanto 44% dos pretos ou pardos moravam em municípios sem cinema, esse número em relação aos brancos era de 34,8%. Nesse contexto, o Telas em Movimento - Festival de Cinema das Periferias da Amazônia é um projeto independente que tem como principal objetivo democratizar o acesso ao cinema em periferias e comunidades tradicionais do Estado, promovendo eventos em centros comunitários, comunidades quilombolas e ribeirinhas, com formação para crianças, jovens e adolescentes de baixa renda.

“O Telas reconhece e potencializa o trabalho de produtores audiovisuais e cineclubistas de cada bairro com exibições em áreas periféricas das produções já existentes e das criadas durante as oficinas realizadas pelo projeto”, explica a jornalista Joyce Cursino, idealizadora e coordenadora do festival. Neste ano, já que ações como oficinas de produção de vídeo, exibições em locais públicos e passeios que levam jovens e crianças para conhecerem cinemas não puderam ocorrer por conta da pandemia, o projeto ofereceu opções na internet, como oficinas virtuais de animação com ilustradores negros. 

Além disso, 500 famílias foram atendidas com cestas básicas, kits de higiene, máscaras e álcool em gel nos quilombos de Jacundaí, em Moju, Pitimandeua em Castanhal, na Ilha do combu e na Terra Firme, Guamá, Satélite e Jurunas.

“O Telas é realizado por uma produtora da quebrada, Negritar Filmes e Produções, em parceria com diversos coletivos, produtoras independentes e lideranças comunitárias e surge como uma ferramenta de resistência das nossas narrativas frente esse sistema predominantemente branco, elitistista, centralizador e colonizador”, diz Joyce Cursino.

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