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Pandemia interrompe produções cinematográficas paraenses

Covid-19 tem deixado as produções sem previsão de continuar os trabalhos e de lançamentos

Vito Gemaque

O prolongamento da pandemia do novo coronavírus tem gerado muitos problemas para a produção cinematográfica. No Estado do Pará, as produções menores sofrem mais ainda e continuam interrompidas. Alguns filmes estão parados desde o ano passado, já que as equipes não conseguem gravar devido ao alto contágio de covid-19, que tem levado os governantes a restringirem atividades ou, em casos extremos, decretar o lockdown, fechamento total das atividades não-essenciais.

Uma das produções afetadas recentemente foi o curta “Madá”, da Sapucaia Filmes, programada para ser filmada no início deste mês em Bragança precisou ser adiada novamente. Desta vez o aumento do número de casos de covid-19 e o posterior lockdown decretado pela prefeitura de Bragança foram os responsáveis. Há três semanas, a equipe havia fechado as últimas locações e organizado logística para iniciar as gravações, mas o lockdown decretado pelo Governo do Estado na Região Metropolitana de Belém impediu que os integrantes da equipe saíssem da capital.

A decisão foi tomada em conjunto pela equipe técnica até que a situação melhore nas cidades e haja mais segurança para as gravações. "Madá" tem roteiro original de San Marcelo e conta a história de uma mulher que deseja ser uma dançarina profissional, e se vê em um conflito que a leva a escolher entre a carreira e a família. A proposta se destina ao público adulto, porém tem a magia do sonho adolescente.

“Na verdade, a gente adiou a quarta data. A nova data foi para 25 a 30 de abril imaginando que possa ter uma diminuição nos casos. O que deixa a gente com uma incerteza, inseguro com várias situações. Ao planejar tivemos que remarcar as locações, remarcar com o apoio, com transporte, hospedagem, várias situações que dependem de outras pessoas, e também as agendas da equipe técnica e das atrizes”, afirma San Marcelo, diretor do curta.

A previsão inicial de entrega do curta era até o final de abril deste ano. Entretanto, até agora a equipe ainda não conseguiu fazer as filmagens. O cineasta ganhou um tempo extra com a prorrogação para entrega por mais um mês pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará (Secult-PA), e mais recentemente uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) deu mais quatro meses para a entrega dos projetos aprovados via Lei Aldir Blanc.

Outra cineasta paraense que teve o trabalho prejudicado foi Jorane Castro. O mais novo projeto, o longa-metragem “Terrúa Pará” de 90 minutos falará sobre a história da música paraense foi interrompido. “Estávamos em pré-produção, fizemos a viagem de locação, já sabíamos onde íamos filmar, contratamos equipe, sabíamos quantas pessoas iam trabalhar, já tínhamos tudo pronto para filmar em maio de 2020, ou seja, há quase um ano. Estava tudo certo, com a equipe montada, só faltavam detalhes, como data, e tivemos que parar tudo. Um filme que envolve, contando os músicos e a equipe em si, entre 80 e 100 pessoas trabalhando”, declarou.

Jorane Castro que é roteirista, diretora e professora do Bacharelado em Cinema e Audiovisual na Universidade Federal do Pará (UFPA), desde 2009, já dirigiu quatro longas-metragens, entre eles “Para ter onde ir” (2016) e “Mestre Cupijó e seu ritmo” (2019). Além destes, dirigiu mais de 20 filmes, entre documentários e ficções, todos ambientados na Amazônia, exibidos em vários festivais internacionais pelo mundo. Mesmo com essa ampla experiência, Jorane conta que fazer cinema na pandemia é preciso reaprender tudo novamente, já que os processos de produção mudaram para se adequar aos protocolos de prevenção à covid-19.

“Tem regras de comportamento do set que são completamente diferentes do que tínhamos anteriormente. É quase como reaprender a fazer cinema. A gente tem que aprender a fazer dessa forma, não tem outra, e a gente ainda não tem previsão”, avaliou. Segundo Jorane, todas as empresas que estão filmando atualmente obedecem a um protocolo seríssimo. “Se for filmar amanhã, por exemplo, terei que ter toda a equipe com testes feitos, manter todo o padrão e protocolo, como máscaras, roupas, álcool em gel, e ter uma pessoa da equipe apenas para fazer isso. Ela vai verificar temperatura, distribuir álcool em gel, ou seja, cuidar da segurança sanitária”, lista.

Esse novo padrão e regras encare mais as produções cinematográficas. Os custos extras giram em torno de 20% a 30% dos custos iniciais, segundo Jorane. “Ou seja, vai ter muita dificuldade de fazer cinema nos próximos anos, principalmente nos projetos menores”, adianta. “A gente não sabe direito como fazer. A nossa expectativa é que neste ano estivéssemos um pouco melhor, que a questão da pandemia tivesse se acalmado, mas infelizmente o que a gente tem percebido é que as coisas têm ficado cada vez mais complicadas. É muito triste, mas a gente não tem previsão nenhuma de quando a gente poderá voltar”, lamenta Jorane.

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