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Festival que propõe acesso ao cinema pela periferia abre com bate papo com Dira Paes e Babu Santana

Festival de Cinema das Periferias da Amazônia - Telas em Movimento abre terceira edição nesta sábado, 10, com gigantes do cinema, para questionar a democratização do acesso à sétima arte

Lucas Costa

Este sábado marca o pontapé inicial da 3ª edição do Festival de Cinema das Periferias da Amazônia - Telas em Movimento. O evento, que carrega a inclusão digital como tema principal este ano, vai seguir com palestras, oficinas, circuito de cineclubes, mostra de filmes e de vídeo mapping até o final de abril, em Belém.

O primeiro dia do evento virtual será marcado por um encontro de gigantes do cinema: Babu Santana e Dira Paes são os convidados da live de abertura, onde participam de um bate-papo sob mediação da cineasta Joyce Cursino, idealizadora do Telas em Movimento. No debate, com transmissão gratuita pelo canal do evento no YouTube, a partir das 19h deste sábado (10), Dira e Babu falam sobre a democratização do acesso ao cinema.

A atriz paraense, que coleciona personagens marcantes na TV e no cinema nos mais de 35 anos de carreira, defende a relevância de debater as formas de democratizar o acesso à sétima arte.

“É um festival que me surpreende muito, a cada ano eles vêm se reinventando. E esse ano terem escolhido o tema ‘inclusão e exclusão digital’ mostra como eles vêm amadurecendo, porque a se agente quer uma igualdade social, de oportunidades, a gente tem que falar de inclusão digital”, defende Dira Paes.

Colecionando prêmios de atuação nos mais importantes festivais de cinema pelo país, Dira Paes também usa sua influência para ampliar vozes de importantes pautas, e é uma figura reconhecida nas lutas por defesa dos Direitos Humanos, causas sociais e ambientais. A atriz também é madrinha do projeto Telas em Movimento, e destaca iniciativas com o mesmo objetivo, de promover o acesso à arte nas periferias brasileiras.

“Para mim, é muito inspirador ser madrinha de um projeto com essa envergadura, com essa preocupação de levar a cultura do audiovisual, fazer o contato das pessoas com uma das coisas que mais amo, que é o cinema, e isso só prova que a arte vai além da terapia. Arte é um meio de ver o mundo e de proporcionar cultura e conhecimento, e ter os paraenses fazendo um projeto para os próprios paraenses, isso é lindo demais”, celebra a atriz.

Babu Santana, que tem uma extensa atuação no cinema brasileiro, ficou conhecido pelo país após sua participação no “Big Brother Brasil 20”, onde costumava levantar discussões sobre desigualdade social e racismo. Ele também participa do debate desta noite, defende o acesso da periferia à arte, no mesmo nível da necessidade de direitos como saneamento básico.

“Nos foi negado muitas coisas durante muitos anos. A periferia, muitas delas é carente de saneamento básico. O povo brasileiro é carente de cultura, imagina a periferia. Eu moro na Barra da Tijuca, uma área nobre do Rio de Janeiro, e a gente só tem teatros particulares e dentro de shoppings, mas não temos nenhuma biblioteca estadual ou federal. Então o acesso ao conhecimento para os brasileiros em geral já é deficiente. A sociedade culta brasileira é pequena e por conta dessa dificuldade de acesso a qualquer tipo de cultura, biblioteca, cinema, teatro, muitas não tem escola”, explica o ator.

Tendo iniciado na carreira por meio do grupo de teatro Nós do Morro, projeto que ocorria no morro do Vidigal (RJ), Babu destaca que era até um privilégio ter tal oportunidade, assim como contar com uma escola dentro da comunidade. Esta percepção mudou quando ele pôde conhecer o resto do país.

“Eu viajei muito pelo país e visitei muitas comunidades que não tinham saneamento básico. Então era muito importante chegar o cinema, a cultura em geral nesses lugares, porque é onde a gente reflete, é onde a gente para de querer aceitar as coisas, é onde a gente para de preguiça de pensar: ‘ah não quero falar de política, é muito chato’. Isso é falta de exercitar a leitura, imaginação, argumentação, a falta de escrever uma redação para você treinar seu argumento[...]. Acho que na vida, as pessoas vão alcançando mais quando elas começam a exercitar esse lado, quando a gente lê não só exercita a leitura e a escrita, exercita a interpretação, a sensibilidade, a empatia. Então acho que o cinema como instrumento de argumentação, de exposição, de entretenimento, é muito importante estar presente nas periferias, mesmo nesse momento de muito medo, que é nessa onda da pandemia da covid-19”, defende Babu, sobre a importância do acesso à arte pela comunidade.

O Festival

Com programações até o dia 30 de abril, a 3ª edição do Festival de Cinema das Periferias da Amazônia - Telas em Movimento segue no dia 12 de abril, com a palestra "O Panorama da Inclusão Digital e a Covid-19 no Norte do Brasil", ministrada pela Cooperação da Juventude Amazônica pelo Desenvolvimento Sustentável, (Cojovem). O momento funcionará como fomento para a produção da oficina de audiovisual, que ocorrerá entre 13 e 16 de abril com jovens das ilhas, quilombos e periferias do Pará atendidos pelo projeto. Além disso, a turma também contará com a participação de alguns jovens do Movimento República de Emaús.

Como resultado das oficinas, será realizada uma mostra com os filmes produzidos pelos jovens. As obras serão divulgadas entre os dias 19 e 23 de abril, no Instagram e no canal do YouTube do Telas em Movimento, além da distribuição via WhatsApp.


Nos dias 13 e 14 de abril, de 17h às 19h, ocorre o “Circuito de Cineclubes”. A história dos cineclubes no Brasil e no Pará será tema do bate-papo com Marco Antônio Moreira, presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). O bate-papo ocorrerá por meio da plataforma Zoom, aberto ao público, com inscrições prévias por meio de link disponível nas redes sociais do Telas em Movimento.

O festival contará ainda com uma projeção audiovisual, com desenhos feitos por crianças, animados por artistas pretos periféricos de Belém. As animações foram resultados de um extenso trabalho realizado pelo projeto em 2020, o “Telas da Esperança”, que reproduziu para o audiovisual o imaginário das crianças sobre o coronavírus, a partir dos desenhos das crianças dos bairros do Guamá, Terra Firme e Ilha do Combu . O local e data das projeções não serão divulgados, para evitar aglomerações.

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