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Documentário 'Os Devotos de São Sebastião' estreia no Amazônia (FI)Doc

O filme registra a tradição cultural da comitiva de São Sebastião, que conduz a imagem do santo por municípios do Marajó.

Enize Vidigal

O longa-metragem paraense “Os Devotos de São Sebastião” estreia no Festival Pan-Amazônico de Cinema - Amazônia (FI) Doc - nesta quarta-feira, 16. Com direção e fotografia de André dos Santos e Artur Arias Dutra, da Lamparina Filmes, o documentário apresenta a comitiva de devotos de São Sebastião que conduz a imagem peregrina do santo, sob ladainha e folias, percorrendo longas distâncias em visita a diferentes municípios da ilha do Marajó, num percurso que dura seis meses. A exibição gratuita inicia às 19h45, no Cine Líbero Luxardo, da Fundação Cultural do Pará (antigo Centur). A entrada é franca.

Todos os anos, quatro devotos são sorteados para integrar a comitiva que percorre os campos marajoaras que serviram de inspiração ao escritor Dalcídio Jurandir. A comitiva de foliões, como são conhecidos, tem a missão de levar fé, alegria, devoção e esperança a lugares isolados, onde apresentam as ladainhas em latim, resultantes da influência de padres jesuítas datadas de mais dois séculos, além de folias compostas pelos mestres da cultura popular, e tocam instrumentos musicais nas comunidades visitadas.


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“Os Devotos de São Sebastião” promove o importante registro dessa manifestação cultural pouco conhecida até mesmo entre a população paraense. O roteiro é de Roteiro Artur Arias. O filme foi idealizado pelo saudoso cantor e compositor Rafael Lima – falecido no último dia sete de outubro - em parceria com a filha dele, a cantora e compositora Ju Abe, que dá continuidade ao projeto. O patrocínio foi feito por emenda parlamentar do então deputado federal Edmilson Rodrigues.

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“A comitiva de São Sebastião é uma tradição oral. Os foliões saem do município de Cachoeira do Arari, em julho. Eles andam a pé, a cavalo, de rabeta, de moto... percorrendo os municípios de Santa Cruz do Arari, Ponta de Pedras, Muaná, Salvaterra e Soure e retornam a Cachoeira em janeiro para participar da Festividade de São Sebastião”, conta Ju Abe, que assina a pesquisa do projeto, além da produção executiva e da produção junto com o folião Rayhury Gemaque.

O filme começou a ser gravado em 2019, antes de pandemia, na comunidade rural de Tarumã, em Ponta de Pedras. A pré-estreia aconteceu em Cachoeira do Arari, em julho deste ano.

Enredo

O longa apresenta os foliões Rayhury Gemaque (viola), Altair Gama (violão e condução do santo), Altair Barbosa (tambor de PVC), Julio Cézar (viola), Luiz Cláudio (triângulo e bandeira), além de personagens importantes, como Miguel Moraes, o Seu Miguel, morador de Tarumã, que, além de compositor de mais de 100 folias, durante o documentário recebe a comitiva do santo na casa dele em meio a uma grande festa com direito à aparelhagem. Nos bastidores do filme, Seu Miguel hospedou a equipe de produção e gravação no sítio dele. Ele faleceu de covid-19, no ano seguinte.

“A abordagem (do filme) foi bastante didática, buscando dar luz a todos os detalhes dessa tradição centenária. Outro aspecto importante é dar voz a uma tradição que sobrevive através da oralidade, que inclusive corre o risco de desaparecer”, conta André dos Santos.

A Lamparina Filmes registrou outras manifestações de ribeirinhos, quilombolas e indígenas, como “Samba de Cacete: alvorada quilombola” e “O Marambiré”, que foram premiados no Festival Internacional du film Pan Africain de Cannes, sendo que o segundo longa entrou para o catálogo da Amazon Prime Vídeo. A ideia é levar “Os Devotos de São Sebastião” a percorrer outros festivais, além do Amazônia Doc. "O filme cumpre um papel importante que é difundir a cultura amazônica e paraense para o maior número de pessoas no Pará, no Brasil e no mundo”, acrescenta.   

Antes do filme veio a música

Ju Abe recorda que ela e o pai se encantaram pela tradição da comitiva de São Sebastião ao visitar o município de Cachoeira do Arari, por volta de 2007. A dupla pesquisou sobre as folias do santo. Rafael era fã do romancista Dalcídio Jurandir.

O primeiro projeto da dupla foi gravar um álbum musical com as folias marajoaras de São Sebastião, que acabou não sendo lançado por alguma insatisfação de Rafael Lima, que refez os arranjos e deixou finalizado o disco “Folias de São Sebastião”. O segundo projeto musical deles foi “Ladainhas e Folias de São Sebastião”, outro álbum dessa vez gravado pelos próprios foliões, que foi lançado em formato físico de CD, em 2018.

“A gente gravou o álbum respeitando como se dá o ritual, com as folias de chegada e agradecimento, o ofertório instrumental para ajudar a da comitiva, depois entra a ladainha em latim”, conta a artista. O objetivo dela é lançar os dois álbuns nas plataformas de áudio em 2023.

“Chegamos a realizar um show só cantando folias, no Teatro Experimental Waldemar Henrique”, recorda Ju. “Achamos que os discos eram pouco para fazer jus àquela tradição. Conversando com os foliões surgiu a ideia de fazer o documentário”, detalha.

Agende-se

Estreia do filme “Os Devotos de São Sebastião”

Data: Quarta-feira, 16

Hora: 19h45

Local: Cine Líbero Luxardo, do Centur (Av. Gentil Bittencourt, 650, bairro Nazaré)

Entrada franca com retirada dos ingressos uma hora antes da exibição.

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