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Cantora e compositora Natália Matos se prepara para novo trabalho

Em entrevista exclusiva a O Liberal, a artista fala do lançamento do single e da expectativa para o terceiro álbum da carreira

Sonia Ferro

Cantora e compositora paraense, Natália Matos é uma das jovens vozes da Amazônia Misturando ritmos latinos com o pop contemporâneo, sua música é marcada pela poética romântica e a sonoridade tem lugar cativo no pop brasileiro (seus dois primeiros álbuns entraram no top 30 de melhores discos brasileiros pelo site internacional Beehype em seus respectivos anos de lançamento). Atualmente morando no Rio de Janeiro, a artista independente acaba de apresentar o primeiro single do novo álbum: “Doce Feroz”, lançado na última quinta, 30, em parceria com o mineiro Matheus Brant e antecipa o clima do terceiro álbum da artista que chega em agosto. O novo trabalho tem produção musical do carioca Kassin (Acabou La Tequila, grupo +2 e Orquestra Imperial) e traz composições da própria Natália, solo ou em parceria. Antes do álbum completo, agora em julho, ela lança o segundo single, "Está Nos Mares”.

Em entrevista a O Liberal, Natália fala sobre a concepção do novo álbum, sobre a pandemia e reflete sobre ser artista no Brasil.

- Como é lançar um álbum novo depois de cinco anos?
É muito gratificante, emocionante e desafiador. O tempo da criação nem sempre é o tempo exigido pelo mercado, ainda mais num país onde a cultura virou artigo de luxo. Ser artista independente no Brasil é um desafio grande. Nosso trabalho está precarizado. Nós acumulamos muitas funções, somos cada vez mais exigidos pelo mercado e existem pouquíssimas políticas de incentivo à cultura e de formação cultural para a sociedade. Devemos “empreender” nossa força e nosso material de trabalho, sem garantias e sem direitos trabalhistas assegurados. Para um trabalho estar em evidência, além da música, também é preciso entregar imagem, nos associar a marcas e principalmente jogar o jogo das bigtechs em troca de seus clientes, nosso público. E quando se é uma empresa de uma pessoa só, tendo que encarar tudo isso sozinho, o jogo fica exaustivo, e o retorno muito pequeno, o que, muitas vezes, compromete o tempo lento exigido para a arte, para conseguir elaborar, subjetivar, criar e estudar. Eu optei pela consistência para começar um novo trabalho e, tanto ela quanto o fato de precisar de investimento financeiro para conseguir realizá-lo, exigia tempo. Fiz o álbum em levas, durante três anos frequentando o estúdio do Kassin.

- O álbum já tem nome? O que tás preparando? As composições serão todas tuas ou tem regravação?
Sim, o álbum já tem nome, mas ele chega só em agosto. Sem spoilers, rs. 

Eu ainda gosto de poder criar para o formato álbum, pensando nas músicas como uma safra artística, que têm ligação entre si, como uma fotografia de um tempo. Porém mudou muito a forma como as pessoas consomem música, por isso escolhi dois singles para lançar antes dele, e assim ter mais fichas para jogar no “mundo das plataformas digitais”. 

Escolhi então, como primeiro single, a única regravação do disco. Uma parceria minha com o Matheus Brant, que fala sobre um flerte contemporâneo, pelo celular. Achei que era uma boa pedida, afinal, antes de tudo, sempre vem o flerte. ‘Doce Feroz’ tinha sido gravada pelo meu parceiro como um Samba-Bossa e eu resolvi latinizar e trazer para um Bolero Pop. 

O arranjo coletivo aconteceu no estúdio do Kassin, baixista da faixa e produtor musical do disco, que chamou Rodrigo Tavares (piano) e Daniel Santana (percussão) para o time. Foi uma emoção construir os caminhos da canção junto com grandes músicos e criadores. O piano do Rodrigo é lindo e a percussão que o Daniel tocou é um banco que tinha no estúdio, pois ele tinha ido gravar bateria em outras músicas, mas pra essa optamos por um arranjo mais vazio, e não tínhamos congas. Ficou lindo!

- O primeiro single do novo álbum fala sobre um flerte contemporâneo. A forma como nos relacionamos com a internet mudou muito o mercado da música?
Muito. Hoje nós disputamos e vendemos nossa atenção para as bigh techs. Não há nada mais que fique ileso a isso. Vivemos num mundo ligeiro, onde tudo parece ao alcance das mãos, o que gera uma insatisfação permanente que procura a todo tempo formas de se anestesiar. E encontra no consumo, nos aplicativos de relacionamento, na cultura do cancelamento, álibis para viver sempre na superfície, sem conseguir lidar com ambivalência das coisas, e fugindo a todo tempo da angústia, sentimento estrutural do ser humano. Isso torna mais difícil fazer com que as coisas durem e se aprofundem e também afeta a forma como nos relacionamos com a música, que passa a ser cada vez mais efêmera. Aparentemente estamos cada vez mais conectados, porém acredito que essa tensão tecnológica e consumista nos desconecta de nós mesmos.


- Neste trabalho, fazes uma parceria com o mineiro Matheus Brant e a produção musical é do experiente Kassin. Já tivestes álbuns produzidos por Guilherme Kastrup, Leo Chermont (Strobo / Os Amantes) e Carlos Eduardo Miranda. Artistas e produtores de diferentes locais do Brasil. Gostas dessa conversa musical com artistas/produtores de diferentes lugares?
Eu gosto de fazer música e de criar artisticamente com pessoas que reconheçam o meu trabalho e queiram trabalhar comigo. E aí naturalmente nós vamos ter que ter pontos de ligação pra isso acontecer. O Kassin me foi apresentado pelo Manoel Cordeiro, um amigo também genial e muito generoso. Em seguida, ele abriu as portas do estúdio dele para eu mostrar as minhas músicas e adorou as minhas composições e assim começamos a produção inicialmente de três músicas e a produção foi, aos poucos, virando um álbum.

O Kassin é gênio, um músico excepcional, sabe tudo de música e foi extremamente generoso comigo. Ele ama, se interessa e reconhece o valor do Pagode ao Guinga. E isso, em menores proporções, é muito eu. Foi extremamente enriquecedor trabalhar com ele. Ampliou as possibilidades para o meu trabalho, que é pop contemporâneo, mas tem raiz na música brasileira.


- Os dois anos de pandemia mudaram tua forma de ver, de se relacionar com a música?
Totalmente. Entendi ainda mais o quanto a música dá sentido para a minha vida e me aprofundei nisso. Compus pro disco, estudei violão, imergi no estudo de voz (estou finalizando uma pós graduação em pedagogia vocal) e comecei a dar aulas de canto. Me preparei tecnicamente e iniciei essa experiência maravilhosa que está sendo acompanhar outras pessoas a desenvolverem o seu canto. 

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