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Belém já teve 3 escolas declaradas campeãs do Carnaval em um único ano; saiba o motivo.

Em 1994, uma pane de som acabou em protesto no corredor da folia. A confusão continuou no dia seguinte ao desfile com uma desclassificação.

Enize Vidigal

Belém teve um carnaval inusitado no ano de 1994. Três escolas de samba foram declaradas campeãs do grupo especial pelo então prefeito Hélio Gueiros, em pleno desfile, na Avenida Doca de Souza Franco. O gestor tentou solucionar um protesto dos integrantes de A Grande Família, que sentaram no corredor da folia impedindo a apresentação das outras escolas. Eles reagiam à uma pane no sistema de som que prejudicou o desfile da agremiação. No dia seguinte, houve reviravolta e mais confusão: A Grande Família foi desclassificada e somente o Quem São Eles e o Rancho Não Posso Me Amofiná levaram troféu para casa.

Quem lembrou dessa história e fez uma postagem recente sobre o assunto, foi o sobrinho de Hélio, Heber Gueiros, um curioso das histórias do passado da capital paraense. “Eu era muito criança, mas ouvia a história nas rodas de conversa da família (sobre as situações da gestão Hélio Gueiros). Já adulto, encontrei o registro em vídeo no YouTube sobre o desfile daquele ano. Postei sobre o assunto e muitas pessoas que estiveram naquele desfile confirmaram as informações”.

Naquele ano somente as três escolas desfilaram no primeiro grupo, então chamado de grupo especial. A Grande Família foi a primeira a entrar na avenida, mas interrompeu o próprio desfile pela metade com o protesto. Ou seja, o Quem São Eles e o Rancho foram declarados campeões antes mesmo de se apresentarem.


O atual diretor administrativo do Rancho, Naldo Norberto, na época estava na diretoria do Quenzão. Ele conta que, antes do som falhar, já se sabia que A Grande Família seria desclassificada por descumprir o regulamento do desfile, que previa quatro carros alegóricos, mas a escola estava apenas com três. “Essa é a real história: Ao iniciar o desfile, foi detectado que A Grande Família tinha um carro alegórico a menos e foi desclassificada. Mas, para não trazer constrangimento e desconforto aos diretores e brincantes da escola, todos combinamos que isso não seria divulgado no momento do desfile. Aí aconteceu o fato inesperado”, afirma.

Não se sabe se Hélio Gueiros desconhecia a desclassificação ou ignorou o assunto. “Foi a alternativa encontrada pelo prefeito e o diretor de Carnaval daquela época, do Departamento de Artes Culturais (Deac) da Fumbel, Luiz Pereira. Na oportunidade, chamou-se todo mundo e decidiu-se dar o título às três escolas para o desfile seguir em frente. O prefeito anunciou e foi aquela festa total”, completa Naldo.

No dia seguinte, houve muita discussão na sede do Deac, em São Brás, quando a desclassificação foi anunciada e dois troféus de campeãs do Carnaval foram entregues ao Rancho e ao Quenzão. O presidente administrativo e de honra de A Grande Família, Théo Pérola Negra, que naquela época já estava na presidência da escola, afirma que não recorreu do resultado, mas se “sentiu ofendido” porque a polícia foi chamada para prendê-lo no meio da discussão com uma dirigente do Departamento de Turismo.

“O Hélio Gueiros deu título para as três. Isso deu confusão, quase eu fui preso. Eu disse para o policial que não estava ofendendo ninguém, me recusei a entrar no carro (da polícia). Ficou no zero a zero (ninguém foi preso)”, lembra. Théo revela que partiu dele a ideia do protesto na avenida. “Eu fui em cima do pessoal do som, o cara disse que não podia fazer nada. Eu achava que era bandalheira (boicote) dos caras, mas negaram. Eu continuo achando que foi”, conta.

Mas nem tudo foi confusão naquele desfile de 1994. A Grande Família levou para a avenida o enredo sobre o artista teatral Albertino Bastos; o Rancho, apresentou o tema dos 60 anos da escola; e o Quem São Eles falou sobre a história do teatro. Passados 29 anos, o capricho e a paixão dos brincantes das escolas de samba de Belém continuam os mesmos... e o espírito competitivo também.

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