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Artista fala sobre dificuldades de migração de obras para plataformas digitais no Pará

Acesso digital ao mundo das artes ainda é restrito; comercialização de obras no Estado segue padrão de visitação presencial

Natália Melo
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A pandemia da Covid-19 demandou uma série de transformações e adaptações para o segmento do comércio e requereu um novo cenário para as vendas para além do atendimento presencial: agora o mercado se divide com o mundo virtual. Mas nem todos os segmentos conseguiram se adaptar. No Pará, com a falta de incentivos à cultura, artistas plásticos tiveram ainda mais dificuldades de se utilizar de meios tecnológicos para sobreviver com a comercialização de suas obras, segundo Eliene Tenório. Há 40 anos no mercado, ela fala sobre as dificuldades de migração desses produtos para as plataformas digitais e o quanto esse acesso à arte ainda é restrito, mesmo no ambiente presencial.

Eliene reforça que, diferente do praticado fora do país, especialmente na Europa, a cultura ainda carece de iniciativas de incentivo à prática artística. A profissão de marchands, por exemplo – profissionais que apresentam obras de arte a potenciais compradores, atuando como intermediários entre compradores e autores do trabalho, não é muito promovida. Por isso, esse momento de retomada das atividades, que foi iniciado ainda em 2021, se faz ainda mais necessário para o segmento no Estado, que mantém, de acordo com a artista, um padrão de visitação in loco para alcançar o interessado nas obras.

Pode fazer um comparativo de como era a profissão nos anos 90 e como é agora?

Agora temos a facilidade de acesso a museus, espaços expositivos, galerias e curadores. Antigamente, a gente se inscrevia em salões e até ter acesso ao curador era muito difícil. A gente ouvia falar já dentro da seleção, quando eles (curadores) falavam de cada artista. Mas a gente queria ouvir alguém falar do nosso trabalho, porque é muito difícil o artista falar do trabalho dele, afinal, não deixa de ser um filho. Então, após esse período, se abriu um leque para a gente. No início dos anos 90 não tinha essa facilidade. Por exemplo, salões como o Arte Pará, em que eu ganhei o grande prêmio e dividi com artistas do Rio de Janeiro. Isso foi facilitando e facilitou muito eu entrar em contato com o curador e ele dizer “é por aí mesmo”. Hoje o artista tem esse acesso.

Como você trabalhou essas mudanças, após a entrada no século XXI e a chegada das novas tecnologias?

Esse comparativo permite identificar, atualmente, uma maior facilidade de comunicação com os colegas artistas plásticos, com os curadores, com os apreciadores e colecionadores de arte, e também com a comunidade acadêmica, com as galerias, museus e outros espaços expositivos. Quanto à divulgação da minha produção artística, é inegável a apropriação do avanço tecnológico, com utilização das mídias sociais (criação de blogs, Orkut, Facebook, Instagram, Whatsapp, entre outros), produção de vídeos, produção de lives, exposições virtuais, vídeoconferência. O avanço tecnológico possibilitou, ainda, desenvolver o meu trabalho com a gravura eletrônica, que obteve repercussão em nível internacional com a publicação de matéria em revista especializada de Barcelona, na Espanha. Foi nesse contexto que ampliei a minha participação em eventos internacionais, tais como: Bienais, mostras e exposições itinerantes em Portugal, Alemanha, França, Holanda, Espanha e Bolívia.

Em termos de rendimento, as novas tecnologias influíram de que forma? Os consumidores ficaram mais independentes, como aplicadores de fundos em bancos online?

Trata-se de uma questão complexa e que demanda uma investigação mais profunda para a obtenção de dados que possibilitem uma análise quanto ao perfil dos consumidores. Tem artista que tem acesso e tem outros que não. Eu, por exemplo, não tenho esse acesso, a esses fundos online.

Essas mudanças trazem algum benefício financeiro para o artista, qual?

No meu caso, do ponto de vista financeiro, não ocorreram mudanças substanciais. Porque nós temos poucos compradores aqui, de arte. Tem ano que você faz exposição e vende, tem exposição que não vende, então para mim não muda nada.

Do ponto de vista do consumidor de arte, a maior exposição de obras por meios virtuais significou o quê? Preços mais altos, mais baixos, apenas mais opções?

Não tenho conhecimento de pesquisas sobre o mercado de arte, seja em nível regional ou nacional. Já expus na Alemanha, na França, Portugal, lá a gente vê as pessoas comentando: “olha, tem uma artista de fora fazendo uma exposição”, e aí os interessados vão lá e compram mesmo, aqui já tem essa dificuldade. Porém, algumas discussões no âmbito local apontam no sentido de um mercado incipiente, com número reduzido de compradores de obras de artes. A gente vê que isso aqui a gente está muito escasso e distante dessa realidade.

Como as restrições da pandemia afetaram o setor de compra e venda de artes?

Como ocorreu em outros setores, o isolamento social, imposto para o enfrentamento da pandemia, o que impediu ou dificultou o acesso às galerias, museus e demais espaços expositivos, restringindo a produção e a comercialização de obras de arte, particularmente em nossa região, onde o mercado de arte ainda é pouco expressivo. Em 2020, eu não saí de casa, fiquei trabalhando no meu ateliê. Em 2021, eu já comecei a ter acesso, mas não expondo, a não ser em coletivo. Esse ano estou me preparando para expor, fazer uma exposição individual, ficou muito restrito para o artista, complicado porque o isolamento distanciou a gente do público, e o nosso padrão de visitação ainda é presencial, as pessoas precisam ter contato com a obra do artista.

Elieni Tenório nasceu em Mazagão, no Amapá, mas vive e trabalha em Belém. A artista plástica cursou Extensão em Laboratório e Pesquisa de Artes Plásticas na Universidade Federal do Pará (UFPA), e participou de várias exposições individuais no Brasil e no exterior, com destaque para “Obsessão”, exposta na Galeria Bellevue-Saal, em Wiesbaden, na Alemanha, em 2008.

Participou, ainda, das Bienais: 1ª Bienal Internacional de Sorocaba – SP, Brasil; XIV Bienal Internacional de Arte de Vila Nova de Cerveira, Portugal; 4ª Bienal de Gravura de Santo André – SP, Brasil; Bienal Internacional de Arte SIART, na Bolívia, em 2009; 15ª, 16ª e 17ª Bienal Internacional de Gravura de Sarcelles, na França, em 2011, 2013 e 2015; da Mostra de Lyon de Gravura, na França, em 2011; e da Exposição Coletiva “Evidências”, na Alemanha, em 2003. Atualmente, participa de uma Mostra de Gravura de artistas paraenses em Amsterdam, Holanda.

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