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Vai ter Festa da Chiquita on line

Os shows e entrega de prêmios será realizada em um estúdio com transmissão ao vivo pelo Youtube.

Enize Vidigal

No ano em que a Festa da Chiquita foi declarada como Patrimônio Cultural Imaterial do Pará, veio a pandemia pela Covid-19 que exigiu a adaptação da tradicional manifestação popular que foi incorporada ao calendário não oficial do Círio de Nazaré. Este ano, a Chiquita será transmitida em live direto do estúdio do Jefferson sem plateia presencial, no próximo sábado, 10, a partir das 22 horas, pelo canal de Eloi Iglesias no Youtube.

Eloi Iglesias, um dos organizadores da festa, antecipa que as atrações incluem a Guitarrada das Manas, o grupo de carimbó Borboletas do Mar, do município de Marapanim, e o coletivo de drags queen Noite Suja, além de Xantara Gomes e outras drags queens. Também irão se apresentar o grupo cultural do movimento negro Ita Lemi Sinavuru, e o o próprio Elói acompanhado de banda, entre outros.

Este ano, o famoso prêmio da festa, “Veado de Ouro”, vai agraciar, pelo conjunto da obra, o casal formado pelo jornalista e advogado norte-americano Glenn Greenwald e pelo deputado federal David Miranda (PSOL/RJ). Gleen é o responsável pelo site jornalístico The Intercept que, em 2019, revelou os diálogos comprometedores entre o então juiz da operação Lava-Jato, Sérgio Moro, e o procurador da República Deltan Dallagnol, que coordenou essa investigação levando Lula à prisão.


Já o prêmio “Botina de Prata” será entregue à Guitarrada das Manas, duo formado pelas multi-instrumentistas Beá e Renata Beckman, conhecido por tocar os ritmos regionais, como guitarrada, cumbia, lambada, carimbó e brega.

Eloi destaca que a live será realizada no improviso, como costuma acontecer a Festa da Chiquita, sempre dominada pela espontaneidade dos participantes. Várias pessoas irão se revezar na apresentação do evento, entre elas, o próprio Eloi e representantes dos grupos Flores Astrais e Noite Suja, além do casal formado pela influenciadora Isabela Santorini e o artista plástico Rafael do Carmo.

Ainda, a festa deste ano deverá exibir depoimentos de apoiadores do movimento LGBTQI+. “Estamos buscando as divas com o passado, presente e futuro da Chiquita (para se apresentar na edição de 2020), além de depoimentos gravados por celebridades premiadas nas edições anteriores, como Glória Peres, Dira Paes, Fafá de Belém, Gretchen e Jean Wyllys, entre outros, conforme antecipa.

“Este ano veio justamente para repensar a festa. Está mais difícil de fazer (o evento), mas está mais organizado, sistematizado, pois, normalmente, ocorre de maneira mais orgânica e mais espontânea. Não temos o apoio do governo municipal, mas estamos buscando do governo estadual”, observa Eloi.

Histórico

A Festa da Chiquita é realizada há 42 anos, contabiliza Eloi. “A Chiquita começou nos Anos 70, como um bloco de carnaval e acabou tornando-se um evento do ‘lado B’ do Círio”, conta Eloi. “A Chiquita começou fazendo uma militância LGBTQI+, mesmo com a maioria das pessoas (participantes) não sendo desse segmento”, recorda.

Ele revela que, inicialmente, o Veado de Ouro foi criado para designar pessoas homofóbicas, mas a proposta acabou se tornando uma forma de valorização e reconhecimento da atuação dos agraciados. “O que era tabu acabou virando top, foi algo antropofágico mesmo”, avalia.

Hoje, o Veado de Ouro é a premiação de maior relevância dentro do movimento LGBTQI+ e dá o tom da festa que avança pelo reconhecimento das opções de gênero na sociedade. “A gente está o tempo todo combatendo as visões discriminatórias sobre o novo segmento. É um movimento que a gente abriu para a sociedade. Começamos a discutir gêneros, que não são só dois ou três, mas mais de 50 gêneros hoje. A lei que criminaliza a homofobia foi uma das nossas conquistas. Nesse momento, que o mundo vive essa loucura de preconceitos socioeconômico, racismo, homofobia, transfobia e machismo, a gente faz o apelo à sociedade em geral para se envolver na nossa causa, especialmente à juventude, que possui a força para a mudança”.

A Festa da Chiquita acontece sempre na noite anterior à grande procissão do segundo domingo de outubro, logo após a passagem da Trasladação, quando a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré é conduzida do Colégio Gentil Bittencourt para a Catedral da Sé. A berlinda passa e a festa começa na Praça da República, no centro da cidade.