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Uso da IA no cinema: profissionais debatem conquistas e riscos dos recursos eletrônicos na produção

Produtores em Belém expressam expectativa sobre os rumos acerca do uso da Inteligência Artificial na confecção de trabalhos nessa área

Eduardo Rocha

Previsto para estrear no Brasil em 23 de outubro próximo, o filme "Frankenstein", do diretor mexicano Guillermo del Toro, já surge provocando polêmica, e justamente relacionada ao uso da Inteligência Artificial (IA). Em entrevista à Variety, o diretor disse que se recursou a fazer o filme com muitos efeitos visuais e telas verde. Isso porque quer ver cenários reais na tela. Guillermo del Toro, vencedor de três Oscar, chegou a dizer: "Não quero digital. Não quero IA. Não quero simulação. Quero artesanato à moda antiga. Quero pessoas pintando, construindo, martelando, rebocando".

Para o cineasta paraense Fernando Segtowich, "o uso da Inteligência Artificial demanda várias questões de uso de propriedade intelectual, já que ela não deixa de ser uma apropriação de outras obras já feitas". Ele diz que não tem usado IA em suas produções. "Mas acredito que a tendência é que esse uso se estenda, sim. Ainda é tudo novo, e as mudanças são muito rápidas", completa.
Kauê Barp é fotógrafo, assistente de câmera e editor. Ele trabalha com audiovisual há mais de dez anos, e há dois exclusivamente com cinema. "Hoje é muito difícil poder dizer que não se usa IA no nosso trabalho; praticamente, todas as ferramentas dispostas no mercado usam IA em alguma esfera ou em instâncias menores. Desde corrigir ruídos de áudio até remoção de elementos indesejados na imagem. O termo IA apenas ganhou força nesses últimos tempos, mas o ato de pedir para a máquina automatizar uma solução já existe há décadas".

Humanos

A maior contribuição da IA no audiovisual hoje, como frisa Kauê, é para reduzir tempo da pós produção. "Eu mesmo utilizo pra criar legendas ou transcrever áudios de horas de gravação. Como documentarista, esse tipo de ajuda pode ser vital para a celeridade do projeto. Entretanto, deve-se sempre revisar o produto extraído disso, afinal somos nós, humanos, que ainda ditamos o que é importante do subproduto extraído desses processos".
Kauê diz que se deve atentar sobre até onde a IA invade o olhar artístico. "Claramente existem benefícios, isso é inegável. Mas achar o ponto desse gradiente onde perdemos nossa humanidade para o processo artístico é que deve ser indagado por cada um de nós artistas", ressalta. "Ainda estamos discutindo e descobrindo essa ferramenta. O que não devemos esquecer é que a arte é feita de humanos para humanos e deve sempre se permanecer assim", arremata.
O diretor e produtor de filmes de cinema de animação, Cássio Tavernard, conta com 20 anos de atuação nessa área do audiovisual, quando fez seu primeiro curta, "Onda, Festa na Pororoca", e é professor da Universidade Federal do Pará (UFPA). "A IA é uma grande mudança no paradigma da produção do audiovisual. É uma ferramenta muito poderosa, ela pode ajudar, mas ainda carece de legislação e de regulamentação, porque envolve questões de direitos autorais e é preciso se ter um amplo debate para que a gente não caia num problema de precarização do nosso mercado", destaca.
Ele lembra que recentemente o cineasta Fernando Meirelles deu entrevista preocupado com o fato de que as plataformas de streaming que bancam projetos de séries, de filmes ainda proíbem o uso porque sabem que isso pode acarretar a demissão de muitos funcionários, como no caso do cinema, por exemplo.
Tavernard salienta que em há debates sobre os roteiros, tanto que na última greve em Hollywood (em 2023) isso foi abordado, de vez que os estúdios pretendiam reduzir o valor do salário de roteirista, mediante o uso da IA. Cássio Tavernard diz que não usa IA nos projetos de animação ou para geração de imagens. O debate sobre o assunto prossegue.