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"Toy's" do Jurunas espalham arte e cor pelo bairro

A ideia é que o projeto cresça ainda mais para que novas cores e jovens sejam alcançados.

Bruna Lima

A passagem Bom Jardim, no bairro do Jurunas, já não é mais a mesma depois que o projeto "Cor Ação" chegou ao local colorindo, dando oportunidade e promovendo aprendizagem aos"Toy's" da área. Para quem não sabe, Toy, na gíria dos grafiteiros, é um iniciante na arte do grafite. E a ideia é que o projeto cresça ainda mais para que novas cores e jovens sejam alcançados.

O projeto surgiu a partir da vontade de um dos moradores da passagem, Diego Soares, 33, que pratica a arte do grafite desde 2006, em Belém. Ele sentia uma espécie de incômodo por querer promover ao ambiente e às pessoas de sua comunidade melhorias e conhecimento, mas faltava investimento.

"Eu comecei a arte e fui trabalhar no ramo de arte-educador e sempre ficava com aquilo na minha cabeça de querer promover esse trabalho na minha comunidade. Até que no ano passado me inscrevi no projeto da lei Aldir Blanc, na categoria cultura urbana, e deu certo", destaca o grafiteiro.

 


Diego mora no Jurunas desde quando nasceu e já tinha levado sua arte e ensinamentos para jovens da Marambaia, Vila da Barca, Maguari e vários outros locais. E ele carregava essa pendência de dividir a arte do grafite com os jovens de sua localidade.

"Nesse tempo que moro no Jurunas já vivi muita coisa, já vivi épocas muito difíceis e sempre carreguei comigo essa necessidade de realizar um projeto com os jovens daqui. Sempre achei que era necessário", acrescenta. 

Com a aprovação do projeto, Diego saiu de porta em porta chamando os vizinhos com faixa etária entre 13 a 18 anos para começar com a atividade. Diego conseguiu reunir 10 jovens, sendo a maioria do sexo masculino. "Eu chamei meninas também, mas os meninos demonstraram mais interesse pela atividade", destacou o artista.

O projeto foi executado em três módulos, pois os jovens e adolescentes não tinham contato com a arte. A primeira parte foi teórica, Diego falou um pouco da história da comunidade, da história do grafite e do desenvolvimento de arte livre no papel. A segunda parte foi a pintura do primeiro muro, técnicas com spray e iniciação de letras. A terceira parte foi outro muro com técnicas e desenvolvimento avançado para letras e personagem. O material, alimentação e outros gastos foram financiados pelo projeto.

"Todo esse processo de aprendizagem envolvendo a teoria até a técnica durou um pouco mais de uma semana. Depois dividimos os grupos e separamos por murais. Um mural na entrada e outro mural na saída da passagem. Os mais avançados ficaram juntos em um ponto e os mais iniciantes ficaram em outro", explicou o instrutor.

Jeferson Freitas, 16, é um dos participantes do projeto, ele é morador da passagem desde criança e disse que ficou satisfeito em participar do "Cor Ação". "Quando o Diego me convidou logo aceitei, pois sempre gostei de desenhar e a arte do grafite está bem ligada a esse universo. A minha mãe autorizou e participei", disse o adolescente.

Apesar de gostar de desenho, Jeferson optou em realizar as formas de letras com cores fortes e cheias de sombra. "Ele nos deixou livre para fazer letras ou desenhos, mas me senti mais seguro para fazer a letras. Escrevi o meu nome", acrescentou o adolescente.

Quem também optou por imprimir as letras do próprio nome em um formato mais divertido e colorido foi Yuri Quaresma, 16, que também participou do projeto e gostou do resultado. Nesse caso não se sabe quem cometeu o Bite, que é quando o grafiteiro imita o estilo do outro.

"Eu amei essa experiência, pois como estou estudando apenas no formato on-line estava querendo participar de outras atividades. Quando o Diego me chamou logo aceitei e foi muito bom participar. Foi uma experiência diferente", disse Yuri.

Ver o resultado final foi motivo de orgulho não apenas para o instrutor e alunos, mas também para os moradores do local, que aprovaram o cenário mais colorido e alegre. "Foi muito bom receber esse feedback dos moradores, pois eles gostaram e parabenizaram bastante", disse Diego.

Para o grafiteiro, a arte do grafite não é fácil e é difícil de simplificar em palavras. " Para mim é passar conhecimento não é só uma questão pessoal, é também pensar no outro. É pensar no que a pessoa vai sentir quando olhar o que construí", pontua o grafiteiro.

Um pouco sobre a arte do grafite

O movimento do grafite é uma das artes de rua que está ligada ao hip hop, que surge na expectativa de dar voz aos jovens que nascem e crescem nas zonas periféricas das cidades. Esses jovens encontram nas ruas a sua fonte de criação, relatando através da arte a opressão e a vida difícil que levam.

No Brasil, esse tipo de arte começou a se apresentar no final da década de 70, influenciado pela cultura americana. São Paulo foi a principal cidade adepta do movimento.

Nomes importantes do grafite no Brasil são os irmãos paulistanos Gustavo e Otávio Pandolfo, conhecidos como “Os gêmeos”. Kobra, que também nasceu em São Paulo, iniciou a carreira como pichador. Fabio de Oliveira Parnaíba, ou Cranio como ficou conhecido no meio do grafite.

Gírias utilizadas pelos grafiteiros

Tag: assinatura que o grafiteiro faz na obra; Toy: é um iniciante no grafite; Spot: local onde é feito o grafite; Bite: é quando um grafiteiro imita o estilo de outro; Crew: grupo de grafiteiros que pode fazer as suas obras tanto em conjunto como individualmente. Bomb: é o nome que eles dão ao grafite que é feito às pressas durante a noite, pois são proibidos. 

 

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