Natal em Belém: Artistas paraenes dividem suas reflexões sobre a data; confira
Cantora Sandra Duailibe, o escritor Edyr Augusto Proença, autor de 'Pssica', e o ator Marton Maués, diretor do grupo Palhaços Trovadores, falam sobre essa data que marca dezembro a cada ano
Quem lida com arte o ano todo mexe fundo com os sentimentos do público e os seus próprios. Por isso, o período do Natal mostra-se como uma oportunidade ímpar para, como se diz, renovar as baterias, e, ou seja, estar com os seus, reencontrar suas origens, refletir bastante sobre a vida em sociedade e, então, voltar para o palco do mundo. Artistas paraenses seguem por esse caminho e contam à Reportagem do Grupo Liberal sobre essa relação com a data natalina.
Para o escritor, dramaturgo, cronista, poeta e romancista Edyr Augusto Proença, diretor do Theatro da Paz e autor do livro "Pssica" que gerou a série homônima, o Natal é um momento de muitos significados. "Para mim, o Dia de Natal é uma data de muita saudade. É uma data muito importante para mim. Minha família era muito grande, nós éramos cinco irmãos muito unidos, uma já partiu, meus pais já partiram, e era uma grande festa e eu tenho muita saudade dessa época", conta.
"Aí, a vida continua. Tornamo-nos adultos, os filhos também crescem, formam famílias, os irmãos, também. Hoje, eu passo o Natal com a família da minha companheira, tenho um filho que virá de Belo Horizonte (MG) passar o Natal. E, hoje, para mim, é uma festa de amor, uma festa de reunião, confraternização. Ficamos todos juntos, e o mais importante: vamos fazer a festa, mas não podemos esquecer do dono da festa, que é Jesus Cristo, que nasce para espalhar o amor pelo mundo e por todas as pessoas. É o que eu desejo a todos: que tenham um Feliz Natal cheio de amor e espalhem o amor, que é o que há de mais importante nesse mundo", destaca Edyr Augusto Proença.
Esperançar
A cantora Sandra Duailibe é uma pessoa que celebra muito o Natal. "A minha relação com o Natal é estreita, talvez, até visceral, porque nós fomos criados tratando o Natal como um Dia especial, Dia do Nascimento de Jesus, Menino Jesus, daquele que até quando menino pudesse brincar com a gente. A gente acreditou mesmo em Papai Noel, a gente rezou pelo Papai Noel, a gente escreveu pro Papai Noel. Então, é uma relação muito próxima, de amor e de esperança", destaca Sandra.
Sandra não esconde de ninguém que é uma mulher que não desiste de viver, de sempre buscar algo em prol das pessoas. "Eu sou adepta, eu sou praticante do verbo 'esperançar'. Eu não me canso, ninguém me cansa, nada me abate. Eu acho que a gente tem que estar vivo e a sobrevivência ou viver se dá a partir do exercício diário do viver bem, da proposta de um mundo melhor, do respeito ao próximo, do respeito à natureza". "
"Eu tenho certeza que esse espírito natalino que ecoa nas cidades, e obviamente nos corações, nos amolece, sim, no bom sentido, claro, e faz com que a gente reflita, reveja o que foi feito, pense no que quer fazer no ano próximo que está chegando, o que eu quero fazer, para onde eu quero ir, de que forma ser melhor. E, ao querer me melhorar, isso inclui eu querer melhorar a minha relação com a natureza, a minha relação com o outro, com a vida", ressalta a cantora.
Sandra Duailibe considera o Natal uma "data extremamente sagrada" e que ela gosta de compartilhar com a família, os amigos mais próximos. "Nós fomos criados assim: sempre a Ceia do dia 24 era em casa. E nós mantemos a tradição há anos e anos e anos. A Ceia é especial. Nós somos gulosos, uma família de origem árabe que tem prazer imenso em comer e também conversar. É um dia de oração, a gente celebra orando também. É muito prazeiroso para nós. É um dia de festa", assinala Sandra.
No dia 25, Dia de Natal, o grupo se reúne em um almoço, abre os presentes, enfim, uma confraternização entre familiares e amigos em meio à casa toda ormentadada com motivos natalinos. "É um dia, de fato, de confraternização", diz Sandra Duailibe, relatando que ela e a irmã Márcia recebem os sobrinhos nesta data. "A presença do Fábio, da Vitória e da Sofia em nossas vidas, em nossa casa, neste dia tão especial mantém na gente esse viés da ludicidade, da alegria, da gargalhada, da esperança", arremata Sandra.
Crítica
O ator, professor e coordenador do grupo Palhaços Trovadores, Marton Maués, passa o Natal com os familiares dele. "Costumo passar o Natal com a família, sem muita festa. Minha família é pequena, só eu e meu filho. Mas vêm também a mãe dele e as duas irmãs do meu filho, que considero minhas sobrinhas. Uma delas tem um companheiro e um filhinho, que considero meu neto. Convidamos um ou dois amigos e só. Fazemos uma ceia simples, conversamos, ouvimos música e jantamos, não há clima de celebração nenhum", diz.
Para Marton, que possui ponto de vista crítico, a data tem um significado oculto. "Acho o Natal uma data comercial, forjada pelo capitalismo. O clima de fraternidade e reflexão, na maioria das vezes, parece-me hipócrita demais. Pessoas que se comportam muito mal cotidianamente, sem o mínimo de cidadania, solidariedade e resiliência, forjam pra si uma aura de bondade", reflete.
"Não tenho religião, não supervalorizo a história de Cristo, penso que há outras religiões no mundo, com seus deuses e deusas e é importante respeitá-las. Respeito este que não percebo nos ditos cristãos. O Deus que me toca vem da poesia de Fernando Pessoa: ele é a natureza e então vou vê-lo como tal. Meu deus são as árvores, os rios, o sol, as flores e os pássaros. E se ele se mostra assim, pra mim, por que chama-lo Deus? Chamo flor, sol, rio, pássaro...", pondera o ator.
Por mais contraditório que possa parecer, o grupo Palhaços Trovadores reúne atividades relacionadas ao Natal. "Depois de tudo que eu disse, o que vou dizer agora pode parecer contraditório. É que nós, dos Palhaços Trovadores, já montamos dois espetáculos natalinos, 'O Singelo Auto do Jesus Cristinho' e 'A Singela Cantata do Jesus Cristinho'. Mas esclareço: ambos foram inspirados nos autos natalinos, aqui conhecidos como Pastorinhas, expressões artísticas da cultura popular do estado e que fazem parte da pesquisa poética do grupo. Os autos natalinos contam o nascimento do Menino Jesus, que nos nossos espetáculos é, também, o nascimento de um palhacinho. Assim, encerro dizendo que minha religião é a minha arte", finaliza Marton Maués.
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