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Pesquisadores identificam pintura de mulher nua por trás de obra de Anita Malfatti

Descoberta é de professores da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

O Liberal

O retrato com o sorriso de Dora, parente da pintora Anita Malfatti (1889 - 1964), encobre uma pintura feita antes em que uma mulher posa nua. A descoberta é de professores do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais (Cecor), da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Eles agora querem descobrir se Dora é a mulher que posou nua para pintora paulista em 1934.

No quadro oficial, Dora, que era parente de Malfatti, aparece na pintura com um vestido claro, de mangas bufantes e sem decote. Pesquisadores utilizaram equipamentos de raio-x e infravermelho para descobrir outra pintura debaixo da Dora.

"Nós conseguimos identificar uma outra obra, uma outra pintura feita por trás dessa. Identificamos que tem uma moça deitada aqui, nua, por trás dessa pintura. Conseguimos reparar a cabeça dela, o braço, o corpo, outro braço e a perna. Até os pés a gente consegue ter uma vaga noção de como foi feito, como foi desenhado o esboço dela", explicou Lucas Cotta, programador da IFRJ.

Para que os pesquisadores pudessem ver mais claramente o desenho escondido, o quadro passou por um exame no aparelho chamado de IRR, que usa a radiação infravermelha refletida na imagem. Esse aparelho foi fornecido pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ).

A obra de arte também passou por exames no Macro XRF, um equipamento que analisa os elementos químicos presentes na pintura.

"De primeiro, eu olhei e falei: gente que interessante. Todo mundo viu, tem uma pintura por baixo. [Pensei que era] uma cabeça de burro, orelha, cabeça, focinho. Chamamos a colega professora Alessandra, que veio e, muito educadamente, perguntou se a gente nunca tinha visto um nu", contou o vice-presidente do Cecor-UFMG, Luiz Antônio Souza.

Pintura de mulher nua foi colorida mas depois escondida por Dora vestida 

"É claramente visível que você tem uma pintura por trás. Interessante é que não foi só um rascunho. [Com esse aparelho] aqui a gente sabe que esse rascunho teve uma camada pictórica, que ele foi realmente pintado. Tem pigmento a base de estronço que foi usado para fazer essa coloração", disse o professor da instituição carioca, André Pimenta.

Os equipamentos utilizados pra desvendar os segredos do quadro de Anita Malfatti também estão servindo pra comprovar a autenticidade de outras obras de arte, como no caso de uma tela atribuída a Di Cavalcanti.

Os pesquisadores explicam que já foi possível identificar o tipo de material usado para pintar uma tela de 1967.

"Tudo indica que o autor dessa tela tenha utilizado um tipo de cola de natureza proteica, ou ovo, ou cola animal, por conta das características de bandas espectrais do infravermelho. Mas eu vejo claramente que tem azuis bem característicos, não muito modernos. A gente encontrou azul da Prússia, um pigmento antigo, que hoje o pessoal já não usa porque tem pigmentos modernos que são industriais. E o azul da Prússia ele era um, digamos assim, um pouco artesanal", analisou Valter Félix, professor do IFRJ.

Malfatti aprendeu a pintar com a sua mãe, mas passou por escolas da Alemanha e do Estados Unidos. Ficou conhecida no meio artístico principalmente após a pintar o quadro "O Homem Amarelo".

Anita Malfatti morreu em 1964, em São Paulo, onde nasceu.