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Paulo Martins e boieiras do Ver-o-Peso: parceria saborosa na gastronomia amazônica

Parceria entre o chef e essas pessoas responsáveis por refeições nesse cartão postal de Belém deu novos ares à cozinha paraense, à culinária regional

Eduardo Rocha

O chef Paulo Martins (1946-2010) e a mãe dele, doceira e fundadora do Restaurante Lá Em Casa, dona Anna Maria Martins (1925-2007) eram pessoas que gostavam de viver e, por isso mesmo, curiosas. Então, ousaram utilizar o talento da culinária para inovar, a partir dos conhecimentos que adquiriam com suas pesquisas dentro e fora de casa acerca dos ingredientes amazônicos. E foi com essa objetividade, que Paulo conheceu de perto o trabalho das boieiras do Ver-o-Peso, a maior feira a céu aberto da América Latina. Esse encontro marcou época, tanto que essas profissionais passaram a fazer parte do Festival Ver-o-Peso da Culinária Paraense, organizado por Paulo e que conta com 25 anos de histórias. E não somente isso, o conhecimento ainda legado, dia a dia, pelas boieiras contribui para a continuidade daquele deixado por dona Anna Maria e Paulo Martins na valorização da gastronomia da Amazônia.

Quem fala melhor sobre esse assunto é Eliana Ferreira, filha de dona Osvaldina Ferreira, boieira do Ver-o-Peso. Eliana tem 58 anos de idade e atua com culinária há 38. "Continuo sendo boieira e administro outro espaço culinário na cidade, no bairro do Umarizal", diz Eliana.

Ela conta como se encontrou com Paulo Martins. "Eu conheci o saudoso Paulo Martins no festival Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, quando ele convidou a minha mãe, dona Osvaldina (hoje com 77 anos), pra fazermos parte do Jantar das Boieiras e minha mãe aceitou. Aí, se criou o laço das boieiras com o festival", revela Eliana.

Esse convite à dona Osvaldina se deu em uma das paradas de Paulo no box dela a fim de comer um peixe frito, como conta Eliana. Isso no com anos 2000. Paulo perguntou se a senhora conseguiria mobilizar algumas profissionais para o Jantar das Boieiras. Eliana detalha como foi daí para frente.

"E uma das boieiras escolhidas foi eu, graças a Deus! Na época, eu acredito que eram 20 boieiras, e o meu primeiro trabalho no Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, no Jantar das Boieiras, foi dentro do Mercado de Peixe. Foi lindo! Muito lindo, eu não me esqueço. O meu primeiro prato para esse Jantar foi Camarão Brasileirinho, que eu dividi com um chef que acho que ele era da Paraíba, e ele fez um pirão de cabeça de peixe que combinou muito bem com o prato que eu fiz".

Novos sabores

Esse encontro das boieiras com o chef Paulo Martins trouxe novos horizontes para ambas as partes. Paulo conquistou novos horizontes culinários a partir de sua pesquisa no ramo, e as boieiras constataram novas oportunidades de atuação a fim de ter seu trabalho valorizado e chegar a novos públicos, mediante a conexão com chefs no evento gastronômico.

"Fazer conexão é muito importante, a troca de conhecimento é fundamental na gastronomia. Com o conhecimento, eu me dediquei mais na cozinha, fiz cursos, viajei, aprendi que as redes sociais são muito importantes para o meu trabalho ser reconhecido. Eu já participei de vários festivais, tudo isso eu fiz depois do Ver-o-Peso da Cozinha Paraense. Esse foi o legado que o nosso saudoso Paulo Martins nos deixou", enfatiza a boieira Eliana.

Um dos frutos dessa parceria entre Paulo e as boieiras foi a criação de iguarias que contribuem para projetar a gastronomia paraense. "Ao participar do Jantar das Boieiras, eu criei o prato Mariscada Paraense. A dica do Paulo era que cada uma criasse um prato diferente, e eu consegui fazer a Mariscada Paraense", diz, contente, Eliana. “O Paulo Martins foi muito sábio fazendo essas pesquisas", acrescenta.

A gastronomia amazônica deverá manter-se em ascensão a partir do trabalho desenvolvido por Paulo e Anna Maria Martins (desde os anos 1970), como observa Eliana Ferreira. "Eu penso que as portas vão se abrir mundo afora, apesar de que já éramos pra estar no topo mais alto da gastronomia há muito tempo", ressalta. "Gastronomia representa patrimônio cultural vivo da região amazônica", finaliza.