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Gosto pelo mistério transforma estudantes em autores de livros em Belém

Projeto em escola pública estadual em Belém trabalha as práticas da leitura e escrita a partir de histórias sobre lendas e assombrações e produz dois livros escritos por jovens alunos

Eduardo Rocha

Histórias misteriosas que versam sobre lendas e assombrações têm funcionado como matriz de um projeto pedagógico na Escola Estadual de Ensino Médio Augusto Meira, no bairro de São Brás, em Belém, e, o que é melhor, já propiciou o lançamento de dois livros de autoria dos próprios estudantes do 1º ao 3º ano do Ensino Médio, na faixa de 15 a 18 anos de idade. Um foi lançado em 2024 e o outro em 2025. Essa experiência é coordenada pelo professor de Língua Portuguesa e Literatura e escritor Paulo Maués Corrêa, com envolvimento direto da comunidade da escola como um todo. 

A produção dos livros, como informa Paulo Maués, se deu a  partir de um projeto de confecção de histórias para distribuição desse material no Cortejo Visagento, evento cultural organizado pela ONG Nossa Biblioteca. Esse evento ocorre em 31 de outubro, constituindo-se de uma caminhada cultural com saída do Cemitério de Santa Izabel e percorrendo algumas ruas do bairro do Guamá. 

“Só em 2023 é que surgiu a possibilidade de juntar esse material, inicialmente escrito para o evento de 2022, e fazer um livro, patrocinado pela Imprensa Oficial do Estado, com o selo da Editora Pública Dalcídio Jurandir. E assim foi feito, com o livro ‘8 Lendas Paraenses’ sendo lançado na Feira Pan-Amazônica do Livro  das Multivozes de 2024, no estande da IOEPA”, relata o professor. 

Na escola, Paulo ofertou duas disciplinas eletivas (à escolha do aluno) e os resultados têm sido positivos: Eletiva de Literatura Brasileira de Expressão Amazônica, que  resultou na preparação de um roteiro para a disciplina em questão a ser publicado em breve, e Lendas Amazônicas, que gerou a publicação do livro “Lendas e Assombrações”, o segundo de autoria de estudantes do Augusto Meira, lançado em 2025, pelo selo da Editora Paka-Tatu. Em outra eletiva, foi organizado um grupo para a confecção de um jornal online mensal da escola. 

A partir de “8 Lendas Paraenses” e como fruto da disciplina eletiva Lendas Amazônicas, os estudantes de 2024 praticamente “exigiram” a oportunidade de publicar um livro. E assim se deu, no Teatro Nilson Chaves, na própria “Augusto Meira”, quando, então, foi lançado “Lendas e Assombrações”, em 26 de junho de 2025. O livro saiu pela Editora Paka-Tatu. 

“Esses foram momentos mágicos na história recente da nossa escola, e, embora eu esteja à frente dessas atividades, vale ressaltar que toda a escola se envolve e apoia, e o nosso lançamento mais recente é prova disso, pois os familiares de 17 dos 19 autores se fizeram presentes e transformaram o lançamento num evento de proporções inéditas na escola”, ressalta o professor Paulo Maués.

Nos livros, os autores na faixa , recontam histórias associadas a lendas, histórias de visagens e assombrações ou fantasmas, ouvidas de familiares, amigos e pessoas em geral.  Nossos estudantes-autores convivem com pessoas que contam histórias, algumas até são os protagonistas das narrativas registradas. Trata-se, portanto, de um trabalho de registro da memória das comunidades a que pertencem esses meninos e meninas que reconhecem o valor desse verdadeiro patrimônio cultural”, pontua Paulo Maués. Essa percepção dos alunos é reforçada pelo trabalho de pesquisa sobre a temática desenvolvido pelo professor Paulo.

No livro “8 Lendas Paraenses”, foram 8 autores e 4 ilustradores. Já “Lendas e Assombrações” reúne 19 histórias. 

Lendas e as chamadas “histórias de arrepiar” contribuem para a formação de leitores e escritores. “É um recurso infalível, pois atiça a curiosidade e desperta o interesse por querer saber mais e mais”, afirma o professor Paulo Maués. “Como desdobramento, faço com que a meninada saiba que há livros vivos em suas próprias casas, em suas próprias famílias. Seus parentes têm muita história para contar. Essa descoberta é que impulsiona o nascimento dos escritores, pois é aí que eles deixam um pouco o celular  e se voltam para a experiência de escutar o narrador que nutrirá a produção escrita”, acrescenta.

Não se trata de textos ficcionais, mas registros de relatos orais, algo próximo  do que o saudoso escritor paraense Walcyr Monteiro (1940-2019), autor do livro “Visagens e Assombrações de Belém”, fazia, mas que também foi feito por outros autores como Charles Perrault e os Irmãos Grimm. A obra de Walcyr Monteiro, como frisa Paulo Maués, é referência no trabalho de registro de narrativas do imaginário. Tanto que no estudo do conteúdo legado por esse autor, Maués (amigo de Walcyr) e alunos chegam a fazer visitas pedagógicas ao Cemitério de Santa Izabel, no Guamá.

O  projeto literário na Escola Augusto Meira, em sintonia com o Núcleo de Pesquisas e Estudos da unidade escolar, tem foco na valorização da cultura na formação de escritores e no fomento a práticas de leitura, entre outros efeitos positivos, como a autoestima dos alunos e seus familiares com os resultados alcançados. Informações sobre os livros: +55 91 98715-5162.

 Confira as histórias de ‘8 Lendas Paraenses’:

1.   ‘ O Lobisomem Paraense’, de Grace Souza;

2.    ‘A Cobra Grande do rio Santana’, de Gabriel Ferreira Montenegro;

3.    ‘O Velho Preto’, de Gabriel de Souza;

4.    ‘O homem-porco de Abaeté’, de Adriane Emily Cunha Monfort;

5.   ‘ Visão do Além’, de Ana Clara Saldanha;

6.    ‘O Vira-Porco de São Caetano de Odivelas’, de João Victor Evangelista da Silva;

7.    ‘A vizinha que virava porca’, de Lyah Sofia Nascimento da Silva Aguiar;

8.    ‘História da Cobra Norato’, de Dickson Yuri Viana Rodrigues.

 

Confira as histórias do livro “Lendas e Assombrações’:

1.   ‘‘A Matinta de Marudá’ – por Ailla Gisella Calábria de Matos

2.    ‘O menino no muro’ – por Alanda Caroline Silveira de Lima

3.    ‘Misteriosas luzes de Colares’ – por Antônio Gabriel Santos Gomes

4.    ‘A Visagem Misteriosa’ – por Bryan Nunes

5.   ‘ O vira bicho de São Sebastião da Boa Vista’ – por Cauã Siqueira Nascimento

6.    ‘A captura da Matinta pelo meu avô’ – por Elisson Cauã dos Santos Cardoso

7.    ‘É cavalo marinho?’ – por Evelyn Chaves da Silva

8.    ‘Aparição misteriosa’ – por Flávia Bianca Mendonça Farias

9.    ‘A Aparição’ – por Gabriel Brito

10. ‘Lenda da Matinta em Tucuruí’ – por Gilson Gabriel de Souza Pampolha

11.  ‘O Porco da Terra Firme’ – por Gustavo Isaac de Melo Ribeiro

12. ‘A Mãe d’Água do meio-dia’ – por Jackeline Maia

13. ‘A Matinta do rio Moju’ – por Kauanny Gonçalves da Silva

14. ‘A Mãe d’Água’ – por Lorena Mischy Souza do Rosário

15. ‘A Entidade da Mangueira’ – por Luan Ricardo Cardoso de Sousa

16. ‘As Matintas de Salvaterra’ – por Maria Eduarda Imbiriba

17. ‘Meu pai Álvaro e a Matinta’ – por Matheus Ribeiro Guedes

18.’ Será um boto?’ – por Ricardo Manito

19. ‘A Misteriosa Dama de Vermelho’ – por Selton Fernandes Maués Corrêa

 

 

 

 

 

 

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