Forró: música que conecta paraenses e nordestinos na Amazônia
Gênero musical é celebrado neste 13 de dezembro, em homenagem a Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, data que reafirma sua referência musical para o Brasil e o mundo
Em 13 de dezembro, é celebrado o Dia Nacional do Forró, em uma homenagem mais que justa a Luiz Gonzaga do Nascimento, ou simplesmente Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, cantor, compositor e multi-instrumentista. Referência da música brasileira, Luiz Gonzaga nasceu em Exu (PE) em 13 de dezembro de 1912. Ele chegou a gravar mais de 600 músicas, celebrando os ritmos nordestinos. E em todo o Pará, o gênero musical forró tem uma relação muito forte com os paraenses, inclusive, com histórias de quem veio para o estado a partir dessa interação musical. É o caso do cantor e compositor pernambucano José Sabino Filho, mais conhecido como Sabino do Acordeon, 65 anos.
Sabino nasceu em Escada (PE), mas ele mora em Belém há 45 anos. “Eu vim para cá para tentar a vida, vim com família, e deu tudo certo”, conta Sabino. Esse artista tem 55 anos de carreira musical. “São 55 anos de forró pé de serra!”, comemora ele, que gravou 20 álbuns, entre vinis e CDs.
Os ritmos nordestinos envolvem basicamente o forró, o xote, o xaxado, o baião e o arrasta pé. Entretanto, semelhante ao que ocorre no samba, é comum se falar em forró para se relacionar todos esses estilos nordestinos. Mas, existem diferenças de ritmo, de marcação de um estilo a outro.
“O forró é um ritmo em que se dança agarradinho, pega-se a dama para dançar”, ressalta Sabino. E o forró serve como elo entre as regiões do Norte e do Nordeste, próximas geográfica e historicamente. “Seguindo o rio Gurupi, a gente sai do Pará, no Norte, e ingressa no Maranhão, já no Nordeste”, lembra o músico. O Ciclo da Borracha e a construção da rodovia Transamazônica fizeram com que muita gente saísse de sua cidade no Nordeste e viesse tentar a vida na Amazônia, no Norte brasileiro.
A origem da palavra "forró" tem toda uma história em debate. Existe a lenda linguística de que esse vocábulo surgiu por que militares americanos no Rio Grande do Norte, na Segunda Guerra Mundial, organizaram uma festa e fixaram uma placa com o dizer "For All" ("para todos"). O que foi logo traduzido para "forró". Em contraponto a essa tese, o termo "forró" ("baile popular com casais dançando ritmos nordestinos") já fazia parte do dicionário desde 1913, bem antes do "For All" dos militares americanos.
Da gente
As letras do forró versam sobre a vida dura do trabalhador nordestino, que enfrenta um lugar marcado por falta d´água, vegetação que corta a pele, sol e calor fortes, falta de alimentos e a busca de um futuro melhor em outros lugares do país. Já as letras do carimbó, do brega e de outros ritmos amazônicos contam histórias sobre o modo de viver dos habitantes da região com longos rios e matas fechadas, amores e saberes próprios dos povos do Norte do Brasil. E os paraenses e nordestinos se encontram no diálogo entre esses ritmos e letras, como se observa, por exemplo, a receptividade do forró pelos amazônidas nas festas em Belém.
Tanto que Sabino do Acordeon antes de sair de Pernambuco chegou a tocar na casa de forró Cheiro do Povo, em Recife (PE), nos anos 1970. Ele começou a vida de músico como zabumbeiro. E é amigo do músico e compositor Fabinho Zabumbão, que fez música com o saudoso Dominguinhos. Ao se estabelecer em Belém, Sabino chegou a abrir duas casas de forró: uma na Jabatiteua, no bairro de Canudos, A Casa do Forró, em 1983, e a Sala de Reboco (título que vem da canção “Numa Sala de Reboco”, gravada por Luiz Gonzaga), inaugurada em 2002.
Sabino coleciona sucessos como “A Vida do Lavrador”, “Atrás do Horizonte” e “Tudo que você pedir eu dou”. Esse sanfoneiro recebeu recentemente uma Moção de Aplausos, Louvor e Congratulações aprovada pela Câmara Municipal de Escada "em reconhecimento ao seu sucesso no estado do Pará". Ele se notabilizou em tocar o forró pé de serra (tradicional, com sanfona, zabumba e triângulo), também conhecido como forró universitário.
As variações atuais do forró envolvem o piseiro, pisadinha e o forró de paredão. Entre forrozeiros famosos se tem Luiz Gonzaga, Sivuca, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Oswaldinho, Alceu Valença, grupo Falamansa, Marineide, Clemilda, Sabino do Acordeon e Mestrinho, entre muitos outros. “Enquanto o mundo existir, vai existir o forró!”, arremata, com razão, Sabino do Acordeon, que chegou conhecer Luiz Gonzaga e segue os passos do “Lua” no acordeon.
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