MENU

BUSCA

Exposição ‘Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak’ abre ao público em Belém

A mostra reúne 82 fotografias produzidas entre 1993 e 1998 em aldeias e comunidades indígenas e ribeirinhas

O Liberal

A exposição 'Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak' chega a Belém a partir desta sexta-feira, 19. A mostra será exibida no Centro Cultural Banco da Amazônia, localizado na avenida Presidente Vargas. Ela reúne fotografias produzidas pelo japonês Hiromi Nagakura em parceria com o líder indígena Ailton Krenak.

As 82 imagens, realizadas entre 1993 e 1998, retratam territórios indígenas e comunidades ribeirinhas da Amazônia brasileira. Pela primeira vez na capital paraense, os registros mostram cenas do cotidiano, do trabalho e das relações sociais nos locais visitados.

Curadoria e método fotográfico

A concepção das imagens está diretamente ligada à forma como o trabalho foi desenvolvido, segundo as curadoras adjuntas Angela Pappiani e Eliza Otsuka. Angela Pappiani destaca a relação prévia de Ailton Krenak com as comunidades como fundamental para as fotografias. "A relação de Ailton Krenak com as comunidades indígenas já era uma relação antiga, tanto de trabalho quanto de amizade pessoal com cada um dos povos retratados", afirma.

Segundo ela, o vínculo pré-existente facilitou a chegada da equipe às aldeias, tornando o processo fluido e natural. Eliza Otsuka ressalta que as imagens foram produzidas a partir de uma conexão próxima com os fotografados, não à distância. "O que conduz o trabalho do Nagakura é a conexão com o ser humano, com a beleza do ser humano, com o que o ser humano tem de melhor", explica.

Para a curadora, o fotógrafo se orientou pelo tempo dos lugares, mergulhando no "tempo da floresta, o tempo da aldeia". Ela ainda delimita o campo da exposição: "Não é fotojornalismo. Não é documentação etnográfica. É emoção", pontua. Mesmo em registros que poderiam ser técnicos, a abordagem foca na "beleza" e na "dança".

Povos e territórios registrados

A exposição abrange imagens produzidas em territórios indígenas de diversos estados, registrando povos como Ashaninka, Xavante, Krikati, Gavião, Yawanawá e Huni Kuin. Também inclui comunidades ribeirinhas do Rio Juruá e imagens do lavrado, em Roraima. As viagens ocorreram por Acre, Roraima, Mato Grosso, Maranhão, São Paulo e Amazonas.

Contexto e reflexões atuais

Ao abordar o contexto das imagens, Eliza Otsuka afirma que os registros mostram o cotidiano das comunidades na época. "É a realidade das comunidades, o dia a dia delas, na luta", diz. Ela observa que, nos anos 1990, algumas regiões viviam um fortalecimento das identidades indígenas e a reivindicação de direitos.

Angela Pappiani complementa, afirmando que ver essas imagens hoje permite refletir sobre as mudanças. "Em muitos lugares, a realidade em torno desses povos é pior do que há 30 ou 40 anos. A pressão é muito maior, o desastre é muito pior", lamenta. Contudo, as fotografias também mostram a continuidade da vida e das práticas harmoniosas com a floresta.

Para Angela Pappiani, o desafio não é a falta de imagens, mas a capacidade de escuta. "A questão é que a gente não percebe, a gente não escuta", afirma. Ela enfatiza que as fotos "contam histórias", e é essencial que o público esteja disposto a ouvi-las.

Alcance e propósito da exposição

Após passar por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Fortaleza, a exposição chega a Belém. Eliza Otsuka revela que a circulação por cidades da Amazônia sempre fez parte do projeto. "Desde o início, a ideia era que a exposição chegasse às cidades da Amazônia", explica.

A curadora reforça que a região "não é cenário, é o ambiente vivo onde esses povos estão". Ela também aponta o abismo existente entre populações urbanas e povos tradicionais. A proposta da mostra é promover essa aproximação, que é "fundamental para perceber esse outro modo de vida e fazer uma aliança".

Segundo Eliza Otsuka, o objetivo é que o visitante não saia apenas informado, mas "tocado" pela experiência. A gerente executiva de Marketing, Comunicação e Promoção do Banco da Amazônia, Ruth Helena Lima, destaca que a mostra dialoga com o propósito do Centro Cultural Banco da Amazônia. "A exposição oferece uma experiência que não se limita ao campo da arte. É uma oportunidade de enxergar a Amazônia não como paisagem distante, mas como presença viva", afirma Ruth Helena Lima.

Atrações adicionais e programação futura

Além das fotografias, a montagem em Belém inclui a obra 'Território imemorial ou Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak' (2023), do artista Gustavo Caboco. O trabalho apresenta um mapa dos territórios visitados, relacionando os percursos às imagens expostas.

A programação futura prevê, entre os dias 12 e 14 de janeiro de 2026, visitas e rodas de conversa em Belém. Esses eventos contarão com a presença de Ailton Krenak, Hiromi Nagakura e lideranças indígenas.

Serviço

Confira o serviço da exposição:

  • Exposição: Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak
  • Abertura: 19 de dezembro de 2025 (sexta-feira), às 18h
  • Local: Centro Cultural Banco da Amazônia
  • Endereço: Avenida Presidente Vargas, 800, bairro Campina, Belém (PA)
  • Visitação: de 19 de dezembro de 2025 a 22 de fevereiro de 2026
  • Horários: Terça a sexta, das 10h às 19h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 14h
  • Entrada: Gratuita
  • Realização: Instituto Tomie Ohtake
  • Patrocínio: Banco da Amazônia e Governo Federal