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Espetáculos virtuais de música, teatro e dança dobraram de público em 2021

É o que aponta pesquisa do Itaú Cultural e Datafolha, que apurou o consumo de atividades culturais em formato on-line, em 2021.

Enize Vidigal O Liberal

O consumo de atividades culturais em meio on-line cresceu durante a pandemia. A pesquisa Hábitos Culturais II, realizada pelo Itaú Cultural e Datafolha, constatou que os espetáculos de música, teatro e dança dobraram de público em 2021 em comparação ao levantamento realizado em 2020, passando de 20% para 40%. Já webinares e visitas a museus e exposições perderam terreno em 2021.

A pesquisa ouviu 2.276 pessoas de todo o Brasil, entre os dias 10 de maio e 9 de junho. Em 2021, um número maior de entrevistados disse ficar conectado à internet todos os dias, 76%. Em 2020, o índice era de 71%.

A professora de danças Clara Pinto, realizadora do Festival Internacional de Dança da Amazônia (Fida), conta que teve que se “reinventar” para realizar a 27ª edição do evento, em outubro de 2020. “O Fida foi todo on-line, com abertura no Theatro da Paz com transmissão ao vivo pela TV Cultura e pelo Youtube, e aulas com grandes bailarinos, como Ana Botafogo, pelo Googlemeet, além de lives no Instagram. Tivemos o maior número de inscrições da história, 800, em todas as modalidades. Para mim foi uma surpresa”, comemora. “Foi uma experiência linda, com muitas premiações e com dançarinos que nunca vieram aqui. Tivemos retorno de pessoas da Argentina, do Rio Grande do Sul”.

Já o ator, diretor e dramaturgo Gê Souza, do Atores em Cena, grupo paraense que esteve entre as primeiras experiências de teatro on-line com ingresso pago no Brasil, entre abril e maio de 2020, com o espetáculo “A Turma da Reciclagem”. “Descobrimos essa ferramenta em um momento de dificuldade, mas acho que não vai mais mudar, mesmo com a volta dos espetáculos presenciais”, acredita. Em um ano, o grupo realizou sete espetáculos, sendo seis virtuais e um presencial. “Vamos gravar a última apresentação de ‘A Caixa’ (em cartaz) para exibição on-line para atingir um público maior”, explica. “A gente fez ‘O Príncipe Feliz’ totalmente on-line, com pessoas na Alemanha e Portugal interagindo. Os apoios foram fundamentais”.

A cantora, compositora e produtora cultura Joelma Klaudia, que coordena o Festival Canção da Transamazônica (Fecant), também levou o evento para a web e uma TV aberta local, em outubro de 2020, e repetiu o feito em julho deste ano. “Com a pandemia, os artistas tiveram que se reinventar pra continuar existindo, foi uma forma de resistência. A gente tinha que chegar ao público de alguma forma. Conseguimos ampliar o público, com 50 mil pessoas assistindo. Um sucesso”. Na carreira pessoal, ela tem lançado um novo single nas plataformas com videoclipe por ano, com “Pretinha” (2020) e a nova “Raiz do Manguezal”. “A arte nos salva: salva o artista que produz e o público que recebe. É um prazer saber que temos essa contribuição positiva”.

Música, filmes e livros

A pesquisa apontou aumento do consumo de música on-line, que passou de 74 para 79%, bem como o consumo de filmes e séries (de 68 para 75%), os cursos livres (de 35 para 41%), a leitura de livros digitais (de 36 para 40%), jogos eletrônicos (de 32 para 43%) e podcasts (de 24 para 39%). Os espetáculos infantis se mantiveram estáveis (23%). Sofreram queda as atividades on-line de webinares (de 23 para 30%) e as visitas on-line a exposições e museus (de 16 para 11%).


O escritor Alfredo Guimarães Garcia falou sobre a “razoável elevação de vendas nas livrarias virtuais e o maior consumo de livros digitais em lugar dos impressos”. “As vendas eram decorrentes da Feira Pan-amazônica do Livro, que não teve em 2020. Ficou um hiato no contato dos autores com os leitores. Eu procurei estreitar o relacionamento com leitores e banquei o lançamento de dois livros com a pré-venda: “Pandemia e Outros Poemas”, pela editora Cabana, do Pará, e o romance, “Fiapo”, pela Penalux, de São Paulo. Várias editoras do Sul e do Sudeste voltaram a fazer contato. Elas possuem valores mais em conta do que as editoras e gráficas locais”.

A pesquisa também apurou o consumo virtual em 2021 de seminários (24%), aulas ou oficinas de arte (21%), visitas a centros culturais (15%), oficinas de criação para crianças (15%) e projetos artísticos (12%).

Entre os entrevistados, 72% disseram que o formato on-line permitiu o acesso a atividades culturais que, de outra forma, não seriam experimentadas. Em 2020, esse índice foi de 67%.

Pós-pandemia

A pesquisa aponta que o hábito de consumir atividades culturais on-line tem boa chance de se manter no pós-pandemia. É o caso dos espectadores de teatro, música, dança e de aulas ou oficinas de arte (80%), de apresentações infantis (81%), seminários nas redes (82%), exposições e museus (67%), centros culturais (78%), oficinas de criação para crianças (75%) e visitas guiadas a projetos artísticos (76%).

Entretanto, a maioria afirmou que dará preferência aos eventos presenciais no pós-pandemia. Os favoritismos são de oficinas de criação para crianças (84%), oficinas de arte e aulas (65%), atrações de circo, teatro, dança e apresentações infantis (64%); exposições e museus (63%), música ao vivo e on-line (62%), seminários (52%) e projetos artísticos guiados (48%).

A opção pelo presencial é motivada pela retomada do convívio social, mais do que a experiência artística em si, segundo 37%. Para 5% a participação nos eventos presenciais está condicionada à vacinação, 15% declaram que não irão a eventos culturais e 8% não souberam responder.

As atividades culturais que mais fizeram falta aos entrevistados durante a pandemia foram: cinema (67%), apresentações artísticas (32%), bibliotecas (21%), atrações infantis (20%), centros culturais (17%), exposições e museus (15%), seminários, aulas e oficinas de arte (12%), oficinas de criação para crianças (9%), saraus de poesia e literários (8%) e projetos artísticos guiados (3%).

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