Entre canções e o humor, Adilson Alcântara conta tudo no 'Mangueirosamente'
Em bate-papo com Ismaelino Pinto, o cantador Adilson fala da carreira musical e de humorista, sempre com o jeito amazônico de encarar desafios
O brasileiro, em particular, o amazônida, é um equilibrista, lembrando a canção sagrada de Aldir Blanc e João Bosco ("O Bêbado e o Equilibrista"), imortalizada na voz de Elis Regina. Isso porque desde pequeno, esse cidadão aprende que tem de se virar, com os sensores em alerta a fim de saber por onde ir ou mesmo evitar nadar em rio com piranha. Por isso, ser um cantador na Amazônia é interagir com o que vive no povo. E é isso o que faz o cantor, compositor, humorista e produtor cultural paraense Adilson Alcântara, 56 anos, nascido no município de Vigia, no nordeste do Pará. Com sua ginga e alegria de viver, Adilson bate um papo recheado de histórias com o jornalista Ismaelino Pinto, apresentador do videocast "Mangueirosamente" desta sexta-feira (26), a ser acessado a partir das 19h no Portal OLiberal.com.
Adilson conta que tudo começou nos anos 1980, no bairro da Terra Firme, periferia de Belém, precisamente na Igreja de São Domingos de Gusmão, em festivais de música. "Eu cantando com a Adriane Queiroz (cantora lírica paraense, solista a Ópera Estatal de Berlim, na Alemanha), que estava começando a carreira ainda", revela, dizendo que desde aquela época já queria ser cantor, ser artista.
Esse desejo surgiu aos 9 anos de idade, em Vigia de Nazaré, quando ele avistava a chegada da tradicional Folia de Reis. Os instrumentos e os músicos do corteja encantavam o menino Adilson, tanto que o garoto ficava aguardando por um ano pelo retorno da Folia e seu som característico. Vigia tem uma tradição muito expressiva de músicos, cantores, poetas e compositores, como pontua o cantor. "Como tem duas bandas centenárias, é muito comum você estar na cidade, do nada, depois do almoço, você ver aquele som na rua; a banda passando, porque eles tocam na rua". E isso acaba incentivando outras pessoas a descobrirem a música, a cultura como um todo. O que ocorreu com Adilson Alcântara. E Vigia tem destaque também nas artes plásticas e em outras expressões artísticas o ano todo.
Para cantar, para sorrir
Ainda no "Mangueirosamente", o público fica sabendo que, segundo Adilson Alcântara, dá para viver de música, considerando alguns parâmetros. "Se você quer ter um Fiat Uno com igual ao meu, dá para viver. Agora, se você quiser ter uma Ferrari, não dá. Mas dá para viver", filosofa. E entenda-se que viver de música não é só tocar e cantar em bar, fazer eventos, mas, também, aproveitar oportunidades de mostrar o seu trabalho por meio de editais e produções de discos, por exemplo, como diz Adilson. Ele vendia CDs enquanto cantava na noite. É preciso levar o trabalho a sério e ter um feedback de pessoas que contribuam com o sua labuta, como Adilson teve de nomes importantes no cenário musical paraense: Vital Lima, Fafá de Belém, Pedrinho Cavalero, Nilson Chaves, Walter Bandeira e Maria Lídia, entre outros.
Adilson revela que sempre quis ouvir a sua voz no rádio e se jogou de cabeça atrás desse sonho. E, então, nos anos 1990, ele gravou a canção "As Crianças Latinas", de autoria do cantor e compositor Edir Gaya; "Iná", do cantor e compositor Ronaldo Silva, e "Tradução" que o cantor Mahrco Monteiro gravou, entre outros sucessos. Adilson é contemporâneo de um movimento muito expressivo na música paraense, que envolve o programa "Feira do Som", de Edgar Augusto Proença, Arraial do Pavulagem, artistas paraenses que se apresentavam em bares de Belém, como Pedrinho Cavalero com a música "Pássaro Cantador", marcando época na cidade. E, sem dúvida, o Brega estourava.
A experiência de tocar em bares, em contato direto com públicos diversos é outro tema abordado na conversa entre Adilson e Ismaelino. Adilson narra como era tocar em bares e em outros tempos e aborda qual é o cenário atual.
Uma outra atração no programa é a abordagem da veia humorística de Adilson Alcântara. Ele revela como teve início essa carreira e fala do show atual relacionado á realização da COP 30 Belém ("E lá vem a COP"), ou seja, como os paraenses "convivem" com esse momento na Amazônia - com paródias e piadas apimentadas pelo humor paraense. Sem falar na amizade de Adilson com o saudoso juiz Cláudio Rendeiro, que imortalizou o personagem Epaminondas Gustavo, e as paródias sobre temas variados. Por isso, Adilson está sempre bem acompanhado por seu violão e sua criatividade.
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