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Em Belém, Fafá celebra 50 anos de música e a identidade amazônica

Artista comemora 15 anos da Varanda de Nazaré com programação cheia de convidados especiais e debates sobre a realidade amazônica e agenda para o dia 14 de novembro, no Theatro da Paz, o show 'Amazônica' com o maestro João Carlos Martins e músicos paraenses

Eduardo Rocha

"Embaixo dessa floresta tem gente". A colocação que traduz o sentimento de muitos amazônidas é da cantora e atriz paraense Fafá de Belém, que decidiu em outubro e novembro, agora, celebrar seus 50 anos de carreira artística e 15 anos do projeto Varanda de Nazaré juntamente com o público paraense. Em entrevista ao Grupo Liberal, Fafá anuncia que a Varanda 2025 vai ter como convidados, entre outras pessoas, o ator e apresentador Fábio Porchat, a influenciadora Rafa Kaliman, a atriz Manu Galli, o músico Francisco Gil (filha de Preta Gil). Em plena COP 30, ela se apresentará no palco do Theatro da Paz, em 14 de novembro, com o maestro João Carlos Martins e músicos jovens paraenses no espetáculo "Amazônica", com direção musical de Arthur Nogueira e renda destinada ao Pão de Santo Antônio. Além de outros projetos da artista.

Fafá saiu de Belém aos 18 anos de idade, sem nunca ter pensado em ser cantora, mas gostar de cantar em serenatas de familiares e amigos. Ainda bem jovem foi descoberta por um produtor musical baiano Roberto Santana e, então, aos 18 anos, saiu da capital paraense, para, em sequência, estrear nacionalmente no Teatro Vila Velha, em Salvador (BA). Momentos depois, ela teve a música "Filho da Bahia" escolhida para telenovela "Gabriela", da TV Globo, em 1975. Daí em diante, Fafá construiu toda uma carreira de sucessos, interpretando composições de autores em gêneros diversos. Ela troca experiências sonoras e culturais com artistas de diversas gerações. Por isso, a cantora anuncia uma participação na Gang do Eletro.

Com um repertório de mais de 600 músicas e como primeira cantora paraense a concorrer ao Grammy Latino com um CD de música regional (Secult - 2002), Fafá possui notabilizou-se na Campanha das Diretas; por ter cantado o Hino Nacional; ter cantado para os papas João Paulo II, em 1997, e Francisco, em 2013, e contribuir para projetar o gênero guitarrada com um disco "Do Tamanho do Meu Sorriso", de 2015, além de disseminar a música da Amazônia como um todo. A cantora tem toda uma carreira em Portugal.

Fafá não esconde a emoção ao relembrar a convivência com o poeta Ruy Barata e com o filho dele, Paulo André Barata. Aos 13 anos, ela conheceu Paulo André no Rio de Janeiro para onde a família havia se mudado. A casa dela, nos anos 1970, na Ditadura Militar, não era da Bossa Nova, mas, como diz, da Música do Pará.

"Todo mundo chegava; de repente, chegava Wagner Tiso, de repente, chegava Fagner, Belchior, Nego Nelson...". E ela, menina, ficava conferindo tudo. Ela conheceu Paulo André, em cuja casa chegaram a morar Wagner Tiso e João Donato. João Gilberto passou um tempo no apartamento do compositor paraense. Nas idas e vindas entre Belém e o Rio, Fafá foi um dia ao Bar do Parque e avisaram para ela que ali estava Ruy Barata. 

Certa feita,Fafá cantava "Vapor Barato", com Nego Nelson, Bob Freitas em um pequeno bar em Belém, quando ficou conhecida de Roberto Santana, produtor musical que havia chegado a Belém disposto a conhecer Ruy e Paulo André. Nos dois primeiros discos de Fafá ("Tamba-Tajá" (1976) e "Água" (1977)), onde estão "Tamba-Tajá", do maestro Waldemar Henrique, "Esse rio é minha rua", "Pauapixuna" e "Foi Assim', de Ruy e Paulo André, entre outras gemas, foi decisiva a atuação de Roberto no repertório. 

Ela se emociona ao lembrar do pai e do filho compositores. "O Ruy conseguia descrever a nossa alma e o Paulo conseguia trazer o som das nossas águas", ressalta Fafá. Fafá enaltece a figura de Ruy Barata, que ao dizer "este rio é minha rua, minha e tua, mururé, pois é, pois é, eu não sou de igarapé" lança um manifesto amazônico.
 
Consagrada como uma voz histórica da Amazônia, Fafá diz o que é cantar para ela. "A música foi minha primeira amiga. Ela me pegou pela mão quando eu tinha 8,  9 anos de idade e ela nunca me abandonou, ela nunca me traiu ... A música é a vida!". Em 15 de janeiro vai estrear u um musical sobre Fafá no Teatro Riachuelo, no Rio, e mais um documentário e o filme "Fafá, A Garota do Norte". 

Varandas

Há 15 anos, Fafá e equipe criaram o projeto Varanda de Nazaré para realçar e difundir a cultura dos paraenses e dos amazônidas em geral, tendo como eixo centrala religiosidade expressa no Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Durante a festividade religiosa, ela recebe seus convidados e presta homenagem à Rainha da Amazônia. Nesse contexto, há três anos, Fafá organiza o Fórum Varanda da Amazônia, para que ocorra uma troca de olhares e comunhão de ideias focadas no desenvolvimento sustentável da região. Como parte dos debates, foram realizados encontros iniciais (lives) no Rio de Janeiro, São Paulo e em Belém. As programações da Varanda de Nazaré e do Fórum podem ser acessadas em 
https://www.varandadenazare.com.br/

Fafá conta que esse Fórum surgiu quando ela esteve em um encontro em Nova York e constatou que em um debate sobre a Amazônia não havia amazônidas. "E eu pensei até quando nós seremos alegoria de festa de grã-fino? Até quando nós seremos olhados apenas como objetividade? Apenas como uma alegoria, uma coisa exótica? Não! Embaixo dessa floresta, tem gente", enfatiza.
 
A Varanda de Nazaré, como destaca Fafá, é um grande encontro que começa com um mergulho  nos rios da Amazônia, depois, tem um sarau que vem desde o Coral Carlos Gomes ao tecnobrega, com a Gangue do Eletro, com carimbó, cantores e músicos paraenses. E os três dias de procissão: a Fluvial, a Trasladação e o Círio, com direito ao tradicional Almoço do Círio. 

Este ano, haverá várias varandas em Belém, em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré, porque, como diz Fafá, o Círio é de cada um na sua forma de louvar a santa padroeira. Entre outros, virão para o Varanda pensadores, teólogos, CEOs e pessoas relacionadas à COP 30 que queriam conhecer o evento. Nos últimos anos, a temática do projeto envolvendo adultos e crianças abrange a Samaumeira, árvore símbolo da Amazônia; em 2024, o Movimento da Cabanagem, e, em 2025, o tema é "Verde Vagomundo", em referência ao livro homônimo do escritor amazônico Benedicto Monteiro.