Do poema ao palco: 'I-Juca Pirama' ganha vida como ópera brasileira inédita no Theatro da Paz
Espetáculo, inspirado no poema de Gonçalves Dias e criado por Gilberto Gil, Paulo Coelho e o maestro Aldo Brizzi, estreia nesta segunda (10), como parte do XXIV Festival de Ópera do Theatro da Paz, com récitas ainda nos dias 11 e 12, durante a COP 30
O Theatro da Paz, o Centro de Belém, receberá a partir desta segunda-feira (10), na terça (11) e na quarta (12) a ópera brasileira inédita "I-Juca Pirama". Com 75 minutos e figurino confeccionado com elementos da floresta, o espetáculo foi concebido a partir do poema escrito por Gonçalves Dias e tem libreto do escritor Paulo Coelho, composição musical de Gilberto Gil e direção musical e cênica do maestro Aldo Brizzi. E provoca a reflexão sobre a a necessidade da coexistência com os povos ancestrais (indígenas, quilombolas e nativos em geral, com seus saberes milenares), sob pena de se continuar destruindo o lugar de onde se tira o alimento, a água e o ar: o meio ambiente.
Em pleno período da COP 30, em Belém, a estreia mundial do espetáculo mostra-se oportuna e e marca o encerramento do XXIV Festival de Ópera do Theatro da Paz. A ópera reúne cantores líricos e artistas do Núcleo de Ópera da Bahia (NOP), o Coro Carlos Gomes de Belém, a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz e o grupo indígena Huni kuin (Acre). No palco, música, canto, dança, projeções audiovisuais e rituais de matriz indígena – a tradição lírica encontra a sabedoria ancestral dos povos da floresta.
O espetáculo é uma realização do NOP, em co-realização do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult), e produção da ComArte Produções, apoio do programa Boca de Brasa, da Fundação Gregório de Mattos e da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura de Salvador. O apoio de mídia televisiva da France Télévisions.
"A obra vai revolucionar a ópera brasileira, com um trabalho magnífico de Aldo Brizzi e Gilberto Gil", afirma Paulo Coelho. Paulo é escritor, jornalista e compositor brasileiro, parceiro de décadas do saudoso Raul Seixas, além de membro da Academia Brasileira de Letras. A estreia mundial de "I-Juca Pirama" no Theatro da Paz reafirma a grandeza do Festival de Ópera, na avaliação da secretária de Cultura do Pará, Ursula Vidal.
"Nosso Festival se consolidou, em 2025, como uma política pública de cultura que diversifica suas parcerias institucionais, co-realizando grandes espetáculos com outros importantes núcleos de produção operística do país", destaca Ursula.
Para abrir o coração
"A ópera não pretende ensinar, mas despertar. Ao colocar no palco grandes iniciados das culturas indígenas ancestrais e artistas líricos juntos, em pé de igualdade, ela cria um espaço simbólico de escuta. A arte não substitui a ação, mas pode abrir o coração — e sem isso, nenhuma ação é verdadeira", afirma o maestro Aldo Brizzi.
Brizzi atua na música há mais de 30 anos, e ele busca sempre o encontro entre a tradição erudita e as linguagens clássicas, "entre a partitura e a vida”. O maestro diz que "I Juca Pirama" surgiu a partir de uma ideia de Paulo Coelho. "Ele me propôs recriar o célebre poema de Gonçalves Dias a partir de um olhar atual, que falasse ao Brasil de hoje. Quando Gilberto Gil se juntou ao projeto, a dimensão espiritual e poética se ampliou: a música passou a refletir a força da palavra, a terra e a ancestralidade que o texto evoca".
A ópera é em um ato, com prólogo, e parte do poema clássico e chega ao presente devastado pelas queimadas, onde os espíritos da terra e os descendentes de I-Juca se reencontram. A sonoridade do espetáculo mistura o universo sinfônico, a voz lírica e a percussão de matriz indígena. Brizzi explica: "Os ritmos dos povos originários aparecem em diálogo com o coro lírico — um símbolo da coexistência e não da fusão".
Para a coordenadora de Produção do espetáculo, Renata Campos, " 'I-Juca Pirama' reforça o diálogo entre a arte, a cultura, o meio ambiente". Os figurinos eco sustentáveis e são assinados pelo xamã tucano e artista plástico Tukano Bu’úKennedy e a figurinista Irma Ferreira, com material sustentável: casca de árvore e cortiças de árvores amazônicas.
Seis indígenas do povo Huni kuin, do Acre, estarão em cena na ópera que reflete as múltiplas matrizes culturais brasileiras. "Nossa ópera se passa em duas épocas — a antiga, narrada por Gonçalves Dias, e a moderna, contada por nós. O I-Juca contemporâneo revive a busca por identidade em meio à destruição. Essa convivência entre o antigo e o novo dá à obra uma dimensão simbólica de continuidade e transformação”, pontua o maestro Brizzi.
A produção começa com um prólogo em vídeo-projeção gravado na Amazônia, com Gilberto Gil no papel de Croá, o trovador dos povos originários, cantando uma música inédita sobre as queimadas, e o próprio Paulo Coelho interpretando Gonçalves Dias, que se transforma em Espírito da Terra. A renda da estreia será revertida em apoio ao povo indígena da Vila Dom Bosco, no Alto Rio Tiquié, distrito de Pari Cachoeira, região do Alto Rio Negro.
O jovem guerreiro I-Juca Pirama, último de sua tribo cujas terras foram devastadas por colonos portugueses, sai em busca de novos territórios e de um sentido de vida. Mas, ele é capturado pelos Timbiras e condenado ao sacrifício. No entanto, sua coragem e dignidade transformam seus algozes. I-Juca Pirama enfrenta o conflito entre honra e sobrevivência.
"Essa ópera é a nossa história. Quando entro no palco, eu sinto uma energia incrível, como se os próprios espíritos da natureza estivessem aqui comigo". A fala é da indígena Bimi Huni kuin, que atua em "I-Juca Pirama". Ela diz que a ópera pode contribuir para dar visibilidade à cultura e histórias indígenas e sensibilizar o público para as lutas e desafios das aldeias.
Serviço:
‘I-Juca Pirama – Aquele que deve morrer’
Data: 10, 11 e 12 de novembro
Horário: 20h
Local: Theatro da Paz
Praça da República | Rua da Paz, s/n, Centro
Belém – PA
Ingressos: na bilheteria do TP e www.ticketfacil.com.b
Informações: (91) 3252-860
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