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Dia Nacional do Livro Infantil relembra importância do incentivo à leitura entre os pequenos

Período de quarentena é uma boa oportunidade para os pais lerem para os seus filhos

Ana Carolina Matos

As cores cuidadosamente escolhidas para dar vida aos personagens que aguçam a imaginação dos pequenos leitores, a porosidade das páginas, o cheiro e, é claro, as mais diversas aventuras: vários são os estímulos visuais e imaginativos instigados pelos livros voltados às crianças.

Neste sábado, 18, a comemoração do Dia Nacional do Livro Infantil relembra a importância da descoberta literária na infância, que pode ser crucial para o desenvolvimento de meninas e meninos mundo afora.

Neste momento em que o distanciamento social instaurado pela preocupação com a transmissão do novo coronavírus aprisiona velhos e novos dentro de casa, adultos se veem encarando outros desafios na "quarentena": a necessidade de segurar as pontas e entreter as crianças, sempre tão ativas, enérgicas e, também, exigentes.

Mesmo com um cenário instável e, convenha-se, pouco animador, talvez esta seja um boa oportunidade para que as famílias apresentem o universo da literatura para os pequenos, como forma de opções para um desabrochar que continua ocorrendo, mesmo em um período em que as asas parecem aparadas.

Escritora e mãe do pequeno Carlos, de 5 anos, Bruna Guerreiro assume que instigar a prática entre a criançada é um grande desafio que precisa de dedicação de todos. "Não tem outro jeito, se a gente quer que a criança desenvolva cedo o hábito de ler, tem que ser iniciativa e esforço da família. Eu só tenho um filho então só posso falar da minha experiência. O conselho que eu daria é: 1 - crie uma rotina que inclua a leitura de um livro e 2- não desista se, no início, o pequeno não demonstrar capacidade de concentração na história", aconselha a autora de publicações como "Os Livros de Ventura", "Catarina" e "No Parque da Cidade".

Ela diz que começou a cultivar o interesse do filho por leituras na hora de dormir. "Nós começamos a ler para o Carlos antes de dormir, à noite, quando ele ainda estava no berço. É óbvio que ele não se mantinha atento à história, balbuciava, sentava, mexia em alguma coisa. Levou muitos meses para que ele conseguisse prestar atenção à história, dar algum sinal de que acompanhava o que estávamos contando. No caso da minha família, o Carlos é autista, então isso talvez tenha levado mais tempo", relembra.

Em um mundo onde cada vez mais as crianças têm os mais diversos estímulos eletrônicos na palma das mãos, Bruna admite que não é "nada fácil". "Eu gostaria que o Carlos tivesse interesse por leitura fora do horário de dormir, mas ainda não aconteceu. De dia, ele só quer brincar e ver vídeos. De vez em quando eu proponho um livro diferente dos que ele lê de noite, um livro mais dinâmico ou de informação, mas como ele já tem o hábito de ler antes de dormir, eu não insisto demais para não parecer que leitura é castigo ou obrigação", pontua.

A autora também dá dicas para quem quer começar a instigar os pequenos e não sabem por onde começar. "Aqui nós temos alguns favoritos, como o 'Papai!', do Philippe Corentin, que permite uma certa encenação quando conta a história, com momentos de medo e risada. Foi o favorito do Carlos por muitos meses. 'O mundo inteiro', de Liz Garton Scanlon, foi meu favorito de ler para ele por muito tempo. 'Gato pra cá, rato pra lá', da Sylvia Orthof, é excelente para ler antes de dormir. 'Pedro vira porco espinho', da Janaina Tokitaka, é muito legal a alusão às mudanças de humor da criança e a birra", diz, ressaltando ainda as coleções de clássicos recontados pela Turma da Mônica e as HQs do autor e ilustrador autista Lucas Quaresma.

Autora do livro "Caleidoscópio de Memórias", Bianca Leão também indica  algumas leituras para contagiar as crianças nesse período. "Um livro que marcou a minha infância foi 'A fada que tinha idéias', de Fernanda Lopes De Almeida. Era sobre uma fada criativa que não queria seguir 'o livro das fadas', mas criar suas próprias mágicas. Outro livro muito importante para mim foi o 'Se ligue em você', de Luiz Antonio Gasparetto. De uma forma muito simples, ele me ajudava a entender e a lidar com as minhas emoções. Gostaria ainda de indicar às crianças mais corajosas o Visagens e Assombrações de Belém, de Walcyr Monteiro e o livro infantil escrito pela Rita Lee: Amiga ursa – Uma história triste, mas com final feliz", destaca.

Ela conta que teve incentivo desde criança e, por isso, construiu o hábito de ler desde muito cedo. "Eu fui bastante incentivada à leitura desde a infância. Meu pai lia para mim antes de dormir, eu ganhava livros de minhas tias e elas sempre me elogiavam quando citava alguma leitura. Na escola, eu ia à biblioteca com frequência e cheguei a fazer amizade com as bibliotecárias Suzi e Cinthia. Sem dúvida, tudo isso me fez sonhar com o dia em que eu escreveria o meu próprio livro", avalia.

A escritora ressalta ainda que, além do incentivo, dar exemplo é primordial. "Vale lembrar que as crianças aprendem muito pelo exemplo. Se você lê perto dos seus filhos, é mais fácil que eles entendam que podem fazer igual. Também é interessante instigar o hábito de diversas formas: lendo, contando histórias, dando livros de presente, elogiando quando eles estiverem lendo… Cada pessoa funciona de um jeito. Tem que tentar descobrir o que funciona melhor para cada uma", pontua.