‘Cosmovisão’ traz a Belém a fotografia de Claudia Andujar que cria novos horizontes na arte
Público vai poder apreciar 71 obras dessa artista que ousa inovar na concepção de imagens e enfoque a temas surpreendentes, incluindo a realidade indígena e a (re)leitura de espaços e tempos em fotos, em exposição organizada pelo Itaú Cultural
A transposição de convenções, fronteiras ou paradigmas começa no próprio ser, para, em seguida, se dar na realidade e construir, então, um ciclo interminável de criações. Por isso, a mostra “Claudia Andujar - cosmovisão”, reunindo 71 trabalhos dessa fotógrafa nascida na Suíça, a ser aberta no Museu da Imagem do Som (MIS), em Belém, às 18h desta terça-feira (7), proporciona ao público o acesso a um acervo de imagens instigantes sobre temas variados e ainda a conhecer de perto o processo criativo dessa artista revolucionária na arte da fotografia. A programação de abertura terá nesta terça um bate-papo com os fotógrafos paraenses Elza Lima e Alexandre Sequeira e o curador da exposição Eder Chiodetto.
Essa conversa será realizada no Auditório Eneida de Moraes, do MIS, seguida de visita ao espaço expositivo, a partir das 19h. A entrada é gratuita e voltada para o público geral, sujeita à lotação de espaço. A visitação à mostra, a partir desta quarta (8), será das terças-feiras a domingos, das 9h às 17h, até o dia 18 de janeiro de 2026, como fruto da parceria do Itaú Cultural com o MIS/Sistema Integrado de Museus e Memoriais da Secretaria de Cultura do Pará (Secult).
A exposição traz um apanhado da produção fotográfica e do ativismo de Claudia Andujar, 94 anos, a partir do final dos anos 1960, período da Ditadura Militar. “Ela teve forte influência, por exemplo, para que a fotografia entrasse nos museus como arte nos anos de 1970”, diz Eder Chiodetto, curador da mostra.
Contemplar-se
A mostra está estruturada em três ambientes. No começo da exposição, o público encontra a produção da fase mais experimental de Claudia. Em um espaço específico, será a vez de conferir os trabalhos com a etnia Yanomami, e os visitantes poderão assistir a um audiovisual do livro de fotos "Amazônia" (Praxis, 1978), publicado por Claudia e o também fotógrafo George Love, editado por Regastein Rocha, com design do artista Wesley Duke Lee e prefácio do poeta amazonense Thiago de Mello – cujo texto foi, depois, censurado pela Ditadura Militar. Neste mesmo espaço, está a videoinstalação "Sonhos Yanomami" (2002-2024), obra de Andujar com releitura do artista Leandro Lima.
"Cosmovisão" começa com as séries "Pesadelos" (ensaio para a revista "Realidade", em 1970) e "Homossexuais" (confere-se a concepção das imagens de modo a não revelar as identidades das pessoas homossexuais fotografadas naquela época e para criar atmosferas diversas". Outra atração na exposição é a série de fotos intitulada "A Sônia", sobre uma mulher negra e baiana que sonhava em se estabelecer como modelo em São Paulo.
A produção artística de Claudia Andujar começou na virada da década de 1960 para 1970, período de mudanças profundas na sociedade em escala mundial, o que incluiu a própria arte. Claudia encarou, inclusive, o desafio de materializar em imagens a dissolução entre corpo e espírito dos Yanomami, provocada pelo transe dentro dos rituais ancestrais desse povo.
Para Eder Chianetto, a obra dessa artista mostra-se como um desacelerador do fluxo de informação ininterrupta presente na contemporaneidade. “Diante de suas fotografias, somos instados à contemplação. Não são imagens de consumo rápido. Ou nos damos o direito a contemplação ou não conseguiremos sair da superfície e entrar nas diversas camadas significativas que a obra propõe. Sair de frente das telas e ir para os museus tornou-se um ato revolucionário nos dias de hoje”, diz Eder. O trabalho de Claudia com os Yanomami contribuiu, inclusive, para a demarcação das terras dessa etnia na Constituição Federal de 1988, como ressalta Chiodetto.
Serviço:
Mostra ‘Claudia Andujar - Cosmovisão’
De 8 de outubro de 2025 a 18 de janeiro de 2026
Terças-feiras a domingos, das 9h às 17h
Entrada: gratuita
Museu da Imagem e do Som do Pará
Centro Cultural Palacete Faciola - avenida Nº Sra. de Nazaré, 138 - Belém (PA)
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