Coluna do Estadão: Cid diz que omitiu entrega de dinheiro de Braga Netto por estar em 'choque'
Por Eduardo Barretto, do Estadão
O tenente-coronel Mauro Cid, delator na ação penal do golpe, afirmou nesta terça-feira, 24, que não omitiu de um depoimento à Polícia Federal (PF) que recebeu dinheiro do general Walter Braga Netto porque estava em "choque" pela prisão de colegas. Cid e Braga Netto fizeram uma acareação no Supremo Tribunal Federal (STF), procedimento em que pessoas que deram versões conflitantes em um processo judicial ficam frente a frente para tentar esclarecer os fatos.
Cid foi questionado pela defesa de Braga Netto por que não informou a PF, durante um depoimento em novembro de 2024, sobre a suposta entrega de dinheiro do general. "O réu colaborador (Cid) reiterou que estava em choque", registrou a ata da acareação feita pelo Supremo.
O delator foi indagado novamente sobre a questão, desta vez pelo ministro do STF Luiz Fux, e detalhou o estado de "choque" na ocasião. "O réu colaborador (Cid) afirmou que o estado de ?choque' a que se referiu no depoimento do dia 19/11 na PF se deveu ao fato de que os colegas tinham sido presos por fatos gravíssimos".
Cid acrescentou que não estava nesse estado em outros depoimentos à PF porque os interrogatórios "faziam parte da rotina" da delação.
Réus mantiveram versões contraditórias
Os dois réus mantiveram suas versões conflitantes sobre o principal ponto de contradição: a entrega de dinheiro do general a Cid, em uma caixa de vinho no Palácio da Alvorada em 2022. Cid confirmou que recebeu a quantia, o que o ex-ministro rechaçou, segundo a ata da acareação.
Em depoimentos anteriores, tanto à Polícia Federal quanto ao STF, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que o general lhe entregou dinheiro em uma caixa de vinho, com a orientação de repassá-lo a um dos militares das Forças Especiais, conhecidos como "kids pretos", para financiar ações antidemocráticas.