'Cidade Rachada', de Cristina Serra, tem pré-lançamento em Belém e mostra como Maceió afundou
Será nesta sexta (14), às 19h, na Casa da Mata Atlântica, na Unama Alcindo Cacela, com a presença da jornalista paraense
Imagine como seria a Cidade de Belém apresentar rachaduras em prédios e ruas e ainda ter alguns de seus bairros começando a afundar. Parece trama de filme de terror misturado com ficção científica em uma série de várias temporadas. Mas, a verdade, é que isso aconteceu, sim. E foi na Cidade de Maceió, capital do Estado de Alagoas, no nordeste brasileiro. Quem quiser conhecer de perto o que de fato começou a ocorrer nesse núcleo urbano, pode comparecer nesta sexta-feira (14), às 19h, na Casa da Mata Atlântica, durante a COP 30, e conferir o pré-lançamento do livro-reportagem "Cidade Rachada", de autoria da jornalista paraense Cristina Serra.
No dia 3 de março de 2018, prédios e ruas em Maceió racharam. Cinco bairros começaram a afundar. Era o resultado, como foi descoberto, de quatro décadas de mineração subterrânea, por iniciativa da petroquímica Braskem, num dos maiores desastres socioambientais do Brasil.
"Eu soube do caso em Maceió por um amigo que esteve lá, visitou os bairros e me falou. Ele me falou porque conhece o meu livro sobre o caso de Mariana (MG) - rompimento da Barragem de Fundão em novembro de 2015 -intitulado 'Tragédia em Mariana - a história do maior desastre ambiental do Brasil'. Então, eu comecei a pesquisar na internet e vi que se tratava de um desastre, uma coisa muito misteriosa, a princípio. Porque houve um tremor de terra em março e não se sabia exatamente a causa", destaca Cristina Serra.
Foi, então, feito um estudo pelo Serviço Geológico do Brasil para se chegar à conclusão de que de fato foi a mineração de sal-gema que provocou o afundamento dos bairros e levou às rachaduras nas casas.
"Foi um processo já de acomodação de terra no subterrâneo, por conta das escavações para a mineração, que provocou o tremor. Quando aconteceu o tremor, era porque os bairros já estavam afundando, em função dessa movimentação de terra, e aí os problemas apareceram na superfície: buracos no asfalto, rachaduras nas casas, nos apartamentos. Não só nos pisos. Rachaduras nas paredes, também; no teto, em alguns casos", relata Cristina. A jornalista passou a pesquisar sobre o assunto, deslocou-se até Maceió, e, ao ver de perto o cenário devastador na cidade, resolveu escrever o livro.
Predatória
"Este é um caso que mostra como a mineração é exercida de maneira predatória no Brasil, tanto no caso de Mariana (em 2015) como no caso de Brumadinho (MG) em 2019 e no caso da Braskem em Maceió (em 2018). Temos aqui, no período de quatro anos, os três maiores desastres socioambientais do Brasil", afirma Cristina Serra.
Para escrever o livro, foi fundamental entrevistar as pessoas (100 ao todo) que sofreram os efeitos da situação e que lutam pela indenizações justas, até hoje, e buscar saber por que tudo ocorreu. Cristina foi atrás de pessoas que atuaram em órgãos de fiscalização na época, entre outras fontes de informação. A mineração em foco começou a ser feita em 1976.
A obra mostra basicamente a negligência dos órgãos de fiscalização e falta de segurança com a operação por parte da empresa. "A partir do livro sobre Mariana (MG), eu sigo um roteiro que abrange documentação e testemunhos que confirmem essa documentação ou vice-versa e muitas entrevistas". pontua a autora.
O aspecto humano norteia o trabalho da jornalista, além do levantamento de dados sobre o que ocorreu e os responsáveis pelos desastres. "O livro precisa dar rosto para as histórias, as pessoas precisam ter sua voz reconhecida". Cristina repassa que no caso de Mariana foram 19 mortes; em Brumadinho, 272 mortes e, no Caso Braskem em Maceió, não houve mortes, mas danos muito graves à saúde mental das pessoas, resultando até em suicídios. Em Maceió, 60 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas, em troca de indenizações de baixo valor. Imóveis foram derrubados em série, transformando parte do paraíso turístico em cidade fantasma.
"É espantoso que ao longo de 40 anos nenhuma autoridade, municipal, estadual ou federal, tenha achado que a mineração embaixo de uma área densamente povoada fosse digna de investigação", enfatiza Cristina.
Serviço:
Pré-lançamento do livro 'Casa Rachada',
da jornalista Cristina Serra
Em 14 de novembro, às 19h,
na Casa da Mata Atlântica
(Unama – Av. Alcindo Cacela 287,
Umarizal)
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