Paes Loureiro toma posse na Academia Paraense de Letras e reforça defesa da literatura amazônica
Poeta e professor paraense destaca a importância do livro e do ensino para fortalecer a cultura literária na Amazônia
A preservação da Amazônia, ambiental e culturalmente, passa também pelo incentivo à leitura e à escrita. Por isso, a posse do poeta e professor paraense João de Jesus Paes Loureiro, 86 anos, na Academia Paraense de Letras (APL), nesta quinta-feira (30), às 19h, representa um marco na aproximação entre escritores e leitores da região. A cerimônia será coordenada pelo presidente da instituição, Ivanildo Alves, na sede da APL, em Belém.
Em entrevista ao Grupo Liberal, Paes Loureiro ressaltou que a Academia, fundada em 3 de maio de 1900, tem um papel histórico na cultura paraense. Para ele, é preciso ampliar essa atuação na “defesa do livro não apenas como objeto simbólico, mas na mão do leitor — e na mão dos leitores desde criança”.
Compromisso com a literatura amazônica
“A APL contribui para a literatura feita na Amazônia, na medida em que ela fortalece e valoriza a criação literária a partir da sua realidade, e a nossa realidade é o Pará amazônico”, destacou o poeta.
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Paes Loureiro defende que a Academia deve ampliar o incentivo à leitura e à difusão da produção regional. “Acho que poderia expandir mais essa defesa do livro, essa luta para que as escolas tenham em suas bibliotecas os livros de autores paraenses, de autores amazônicos, e que haja uma renovação ou enriquecimento a cada ano com as novas produções.”
Para ele, o fortalecimento da literatura local passa também pelas bibliotecas escolares, universitárias e pelo próprio sistema de ensino. “O sistema de ensino é fundamental para que a literatura de um povo ou de um lugar possa se afirmar, confirmar e ser celebrada.”
Uma escolha incentivada por amigos
O poeta revelou que sua candidatura à Academia foi motivada por sugestões e convites de amigos e colegas escritores. “Essa insistência de tantas pessoas amigas para que eu pudesse entrar me tocou, me sensibilizou, e eu concordei com a minha inscrição”, contou.
Paes Loureiro será empossado na cadeira nº 9, patronímica de José Coelho da Gama e Abreu, o Barão de Marajó, anteriormente ocupada pelo professor Édson Raymundo Pinheiro de Souza Franco.
Das margens de Abaetetuba à Academia
O momento é simbólico para o menino que, aos 12 anos, ainda na 5ª série primária em Abaetetuba, nordeste do Pará, teve seu primeiro poema publicado na revista Escrita, de circulação nacional. O texto, dedicado ao Dia das Mães, venceu um concurso e garantiu ao jovem poeta um pacote com dez exemplares da revista — o primeiro reconhecimento de uma carreira que se tornaria referência na literatura amazônica.
A literatura como transfiguração da palavra
Para Paes Loureiro, a arte literária é um exercício de transformação da linguagem. “A literatura é uma transfiguração da linguagem numa significação múltipla, possível pela criatividade do escritor e pela criatividade do leitor”, afirma.
Segundo o poeta, a literatura é uma arte voltada ao outro. “A literatura é uma arte feita para o outro, não para o si mesmo do autor. Nós, autores, temos o prazer de criar a obra. Quando ela está pronta, só nos resta dizer: ‘Olha, estás pronta, segue o teu caminho. Podes viajar’.”
O leitor como coautor
É nesse diálogo entre escritor e público que a literatura ganha novas interpretações. “É um diálogo solitário entre o autor e o leitor. A gente escreve solitariamente, e o leitor, solidariamente, lê. A literatura cria uma segunda realidade, em que as pessoas se integram como uma forma concreta de viver.”
Ser poeta, para ele, é ter um compromisso com a palavra. “É fazer poesia através da palavra e ter o sentimento poético diante da realidade. É ver o mundo poeticamente, transfigurá-lo no momento de traduzi-lo em palavras.”
Nesse processo de ‘encantaria da palavra’, cada leitor cria o poema para si mesmo. “O leitor é também um coautor, porque ao ler o poema — sem nunca perguntar ao poeta o que ele quis dizer — vai reconstruindo, em seu sentimento e pensamento, os versos do poema.”
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