Aos 85 anos, Monarco lança novo álbum
Um dos maiores sambistas brasileiros reúne sucessos e músicas novas em "Monarco de Todos os Tempos"
Nem sempre o maior reconhecimento pelo trabalho desenvolvido ao longo de toda vida é somente financeiro. Integrar as chamadas “velhas guardas” de qualquer uma escola de samba é um título guardado para poucos. O sambista Monarco, com seus 85 anos, é o último integrante original da Velha Guarda da Portela. Demonstrando muita jovialidade, o artista lançou neste mês de outubro o mais novo álbum “Monarco De Todos os Tempos”, pelo selo Biscoito Fino, disponível nas plataformas digitais e nas lojas. No 16º álbum de estúdio da carreira, Monarco mostra que o samba e o talento nunca envelhecem.
Hildmar Diniz compôs o primeiro samba aos 12 anos, quando morava em Nova Iguaçu. Aos 16 anos, se mudou para o bairro Oswaldo Cruz, berço de uma das mais antigas e tradicionais escolas de samba do Brasil – a Portela. No bairro, Hildmar Diniz virou Monarco e na escola conheceu os “bambas” compositores como Paulo da Portela e Manacéia, discipulo de Paulo. Enquanto sonhava em integrar a seleção de compositores, Monarco foi camelô, vendedor de peixe, guardador de carro e operário faz-tudo. Mesmo após entrar no grupo, Monarco nunca teve um samba-enredo nos desfiles da Portela – uma das maiores campeãs do Carnaval do Rio de Janeiro. Apesar disso, o sambista se tornou um dos criadores de sambas da quadra contribuindo para a fama da escola.
Neste álbum com 16 faixas, o sambista apresenta composições inéditas, parcerias e algumas músicas antigas gravadas por outros artistas como Zeca Pagodinho e Beth Carvalho. As letras com qualidade poética são marcantes na voz forte, áspera, expressiva e inconfundível de Monarco. O novo trabalho do sambista contou com a parceria do filho Mauro Diniz, que foi produtor, fez arranjos, tocou cavaquinho em todas as faixas e dividiu a autoria de seis músicas. Nas composições, histórias sobre tristezas, amores não correspondidos, lições da vida e homenagens a amigos.
Desilução amorosa e experiências pessoais estão entre os temas das músicas
“De todos os tempos” abre logo com a inédita “Agora é tarde”, samba de autoria somente de Monarco que trabalha com o constante tema da desilusão amorosa. “Agora é tarde/ O teu procedimento foi covarde/ A chama do nosso amor/ Já não tem fulgor/ Em meu peito não arde/ Agora é tarde”, canta no verso. A segunda música “Hora da Partida” foi gravada por Zeca Pagodinho. A música é uma das parcerias com o filho Mauro Diniz, que completou a segunda parte da música. “Não gosto de pôr letra em melodias já prontas”, confidenciou Monarco certa vez.
Outra música interessante do álbum é a também inédita “Uma canção pra São Luís”, homenagem ao amigo maranhense Mário Moraes, inspirada na paisagem da capital do Maranhão. No dia da gravação, o filho Mauro apareceu com uma convidada especial, Alcione – a Marrom. As homenagens para amigos em sambas é outra característica de Monarco. A 14ª faixa “Obrigado pelas flores” feita em 1978 nunca havia sido gravada pelo sambista. A música foi um agradecimento à Dona Ivone Lara. Ao participar de um show para comemorar uma bem sucedida cirurgia, Monarco se surpreendeu com um buquê de rosas enviado da plateia. Depois soube que o presente foi de Dona Ivone. Em agradecimento compôs a letra: “Não me esqueci, nsambas em me esquecerei jamais/ O buquê de flores, todas naturais/ Hoje faço minha retribuição/ E te ofereço em troca esta canção...”.
O álbum termina com um pot-pourri com as composições “Não te perdoarei nem vou perdoar” e “Meu relógio parou” do amigo Ratinho (Alcino Correia) e “Vai vadiar” de Ivo. Por todos estes motivos, o novo trabalho de Monarco expressa a qualidade dos poetas populares e da velha guarda pelo Brasil. “De todos os tempos” de Monarco já nasce eterno.
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