Ana Maria Machado festeja 50 anos de carreira
Novas edições e homenagem à autora de grandes livros infantis marcam a data
Ana Maria Machado já foi jornalista, fez programa de rádio, foi dona de uma livraria. Entre uma função e outra, jamais deixou de escrever. Com 12 anos, teve uma redação escolar, "Arrastão", publicada na revista Folclore.
Profissionalmente, porém, sua estreia aconteceu em 1969, quando publicou histórias na revista infantil Recreio. Desde então, nessas cinco décadas de produção que comemora agora, já soma mais de cem livros publicados no Brasil e em mais de 17 países, entre obras para crianças, adultos e de não ficção, alcançando mais de 18 milhões de exemplares vendidos.
Para as crianças, Ana Maria destaca-se como criadora de um texto de rara musicalidade, além de um estilo leve e, ao mesmo tempo, denso - seu nome é uma das referências nacionais, ao lado de Ruth Rocha e Lygia Bojunga Nunes. Ela fala sobre os desafios atuais de escrever para os pequenos.
"Não acho que tenha mudado intrinsecamente, mas mudaram as circunstâncias da criança. Ou seja, mudaram a tecnologia, a velocidade, mudou também o tipo de tentação: agora não é mais quintal, subir em árvore, brincar com o cachorro andando na rua - agora é o joguinho. Mas o que mudou de fato são os adultos em volta da criança, que não dão mais exemplo de leitura. Isso é muito forte. Outra mudança importante diz respeito à preocupação dos adultos em volta da criança em relação à leitura: ora as crianças são cobradas para ler, ora os adultos desconfiam da leitura, temendo o conteúdo e vendo fantasma onde não existe".
Já sua literatura adulta é marcada por uma escrita apurada, desafiadora, denunciadora. Na verdade, tais frases poderiam ser invertidas, pois Ana Maria busca a cumplicidade do leitor, independente de sua idade.
Ganhou inúmeros prêmios, com destaque para o Hans Christian Andersen, em 2000, considerado o Nobel da literatura infantil mundial. Presidiu a Academia Brasileira de Letras por dois mandatos (2012 e 2013). Colecionou ainda dissabores, como ser obrigada a deixar o Brasil em 1970, quando se exilou na França. E foi lá que trabalhou com o sociólogo Roland Barthes, cuja orientação resultou em uma tese de doutorado que, por sua vez, foi editada em livro como "Recado do Nome" (1976), sobre a obra de Guimarães Rosa.
Ana Maria encontrou-se com a reportagem na sede da Editora Moderna, em São Paulo, que detém cerca de 60 de seus títulos para crianças - alguns já se tornaram clássicos, como "Bisa Bia, Bisa Biel" e "Era Uma Vez um Tirano".
Os festejos pelas cinco décadas de escrita profissional continuam com o lançamento de uma edição comemorativa dos 20 anos de "Audácia Dessa Mulher" (Alfaguara), em que revisita Capitu, personagem de Machado de Assis. Ela ainda será homenageada na 19ª Bienal Internacional do Livro, que acontece no Rio, em agosto, e já prepara "Vestígios", reunião de contos já publicados com inéditos. Aos 77 anos, mantém uma rotina artística ativa.
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