Adriane Queiroz e Paulo José se reencontram no 'Concerto entre Amigos' em Belém nesta quarta (20)
Soprano paraense volta a se apresentar na capital do Pará após quase oito anos e interpretará composições clássicas com o pianista Paulo José Campos de Melo na Igreja de Santo Alexandre, na Cidade Velha, a partir das 20h, com entrada franca
A trajetória desta paraense na música clássica, especificamente no canto lírico, poderia muito bem ser contada em uma ópera. Adriane Queiroz, 54 anos, uma mulher negra, nasceu em família pobre no bairro da Terra Firme, área periférica de Belém, e hoje integra como solista a Ópera Estatal de Berlim, na Alemanha. Isso se tornou realidade para esse talento amazônico em 2002, quando ela tinha 32 anos de idade. Ela está na Europa há 27 anos (metade da vida), mas nunca deixou de lado suas raízes amazônicas. Tanto que depois de quase oito anos sem se apresentar na capital do Pará, Adriane Queiroz e o pianista Paulo José Campos de Melo protagonizam a partir das 20h desta quarta-feira (20), na Igreja de Santo Alexandre, na Cidade Velha, o “Concerto Entre Amigos”. O espetáculo com entrada franca.
A última vez que Adriane Queiroz se apresentou em Belém foi no espetáculo “Um Baile de Máscaras”, de Verdi, na estreia do XVII Festival de Ópera do Theatro da Paz, em 8 de setembro de 2018.
“No concerto desta quarta-feira , eu e o Paulo José vamos celebrar a nossa amizade em concepções musicais que é uma forma muito maravilhosa de celebrar a amizade”, destaca a soprano. Adriane conta que ela e Paulo têm uma conexão musical maravilhosa, “porque temos princípios básicos de amor à música”.
Ela destaca que ela e ele estarão “de braços abertos, vozes abertas e pianos abertos” para receber o público.
E quem se propuser a não perder esse (re)encontro com a cantora e o pianista vai encontrar pela frente um repertório de músicas que os dois artistas gostam muito de interpretar. No caso, Waldemar Henrique, Gershwin, muita música alemã e cinco músicas que eles nunca tocaram juntos. Uma delas é a "Canção à Lua" (Song to the Moon) é parte da ópera Rusalka, composta por Antonín Dvořák. Outras músicas de países variados serão apresentadas por eles, o que inclui música brasileira.
“Dessa vez, eu vim a Belém como extensão da minha vinda ao Brasil. Quem me trouxe dessa vez ao Brasil foi o Festival Virtuosi, em Pernambuco, realizado pela professora Ana Lúcia Garcia, no qual cantei dois concertos em cidades diferentes, em Garanhuns e Gravatá, e pedi para que pudesse se estender um pouquinho mais esse tempo, para que pudesse ficar em Belém, visitar a Terrinha”, diz Adriane. Ela ministrou masterclass em Vila Velha (ES), no Festival de Ópera Capixaba.
A soprano conhece Paulo José Campos de Melo desde metade dos anos 1990, quando ele e a professora Malina Mineva impulsionaram a jovem Adriane a seguir carreira. Foram os primeiros a confiar nela, “enquanto os outros diziam que apesar de eu ser mãe, apesar de eu ser da periferia, eu cantava bem mas não poderia fazer carreira”. “Eu acho que esse é um impulso que tem que ser colocado, porque as pessoas precisam de equidade nessa sociedade”, salienta Adriane.
Linguagens no palco, na vida
Adriane Carvalho de Queiroz estudou na Escola de Música da Universidade Federal do Pará (UFPA), com a professora Marina Monarcha, e, depois, no Conservatório Carlos Gomes (Instituto Estadual Carlos Gomes), onde se formou com a professora búlgara Malina Mineva, a qual a cantora considera “minha mãe de coração”. Ainda em Belém, Adriane conheceu o professor Paulo José Campos de Melo, “meu padrinho, porque confiou no meu trabalho”. E em 1997 a jovem deixou Belém em busca de sua formação: como cantora concertista na Universidade de Viena, capital da Áustria, e em canto lírico no Conservatório daquele país.
Casada há mais de 30 anos e mãe de um filho, Adriane é cria da Terra Firme, e desde cedo começou a trabalhar com teatro na comunidade do bairro, o que deu muito embasamento para sua carreira artística. Além, da pedagogia. Desde os 14 anos, ela trabalhava com crianças na antiga FBESP - Fundação do Bem-Estar Social do Pará.
Ela mora em Berlim há 23 anos e tem uma rotina puxada de ensaios. Por ora, Adriane está de férias, contudo, no final de agosto, os ensaios serão retomados. Todos os anos, varia a quantidade de récitas que ela tem. Mas, possui entre 40 e 50 por ano. Os ensaios são diários envolvendo as partes musical e cênica para ópera e passar o número musical com pianistas. Nesse tempo na Europa, Adriane Queiroz gravou quatro álbuns, um deles com o aclamado regente Pierre Boulez pelo selo Deutsche Grammophon.
A paixão pelo canto lírico surgiu no meio da rua trabalhando com as crianças pobres em Belém, pela FBESP. ‘A música veio como algo para acrescentar dentro da pedagogia, que foi a minha primeira paixão em termos de trabalho. O meu marido é ator, João Queiroz. Nós fizemos escola de teatro juntos, eu não terminei e ele me incentivou bastante nos anos 1990 quando eu estava ainda grávida do meu filho a estudar música, apesar de estar muito velha para começar. Mas, eu comecei mesmo assim e cá estou depois de quase 30 anos.
Adriane diz que o que mais a atrai no canto lírico é que ele se configura como “uma linguagem que ultrapassa o racional, atinge a qualquer pessoa que possa ouvir e sentir”. “A e a música tem esse poder, ela tem um poder de conexão muito maior que apenas o texto. O texto é maravilhoso, mas o texto com a música dobra essa conexão”, acrescenta. Assim, o canto lírico e a ópera permanecem como atrações no mundo por serem “linguagens eternas que falam de amor, de ódio, de problemas que todos os seres humanos temos e vamos ter durante muito tempo. E como a ópera e une todas as linguagens, ela se fortifica muito mais. Fortifica a conexão com o ser humano”.
Nenhuma árvore vai crescer sem raízes, como ela diz. E Adriane não esquece das suas em solo paraense. Por isso, ela e Paulo José celebram nesta quarta (20) a arte do reencontro no bairro onde Belém tem as suas raízes há 409 anos.
Serviço:
‘Concerto Entre Amigos’
Adriane Queiroz e Paulo José Campos de Melo
Em 20 de agosto de 2025
Às 20h
Igreja de Santo Alexandre, no bairro Cidade Velha
Belém
Entrada franca
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